Clube Bilderberg. Os regentes secretos do mundo
Criado há 61 anos, o Clube Bilderberg reúne anualmente, em caráter sigiloso, nomes influentes da política, da economia e da mídia do Ocidente para debater assuntos de interesse mundial. Para muitos, ele desempenha quase um governo secreto do mundo, seguindo os parâmetros da direita capitalista
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Por Eduardo Araia
É tudo muito discreto: quem atende o telefone do Clube Bilderberg, em Leiden, na Holanda, é uma impessoal voz feminina que, após repetir o número, sugere que a pessoa deixe uma mensagem após o sinal. Alguém mais desavisado poderia até pensar que ligou por engano para uma residência. Mas o que está por trás do tal número de telefone vai muito além disso: para muitos, o Clube Bilderberg é o maestro oculto da política e da economia ocidental há mais de seis décadas. Todo o segredo que cerca suas atividades (nem portal na internet ele tem) só contribui para essa imagem.
Fundado em 1954 pelo príncipe Bernhard, da Holanda, pelo primeiro-ministro belga Paul Van Zeeland, pelo conselheiro político Joseph Retinger e pelo presidente da multinacional Unilever na época, o holandês Paul Rijkens, o Clube Bilderberg é uma organização não oficial que nasceu supostamente para promover a “cooperação transatlântica” e debater “assuntos relevantes em nível mundial” – o que, em plena Guerra Fria, equivalia a discutir a ameaça comunista. O nome Bilderberg vem do hotel holandês que abrigou a primeira reunião, em 1954. O sucesso desse evento convenceu os seus organizadores a realizá-lo anualmente, em algum país europeu, nos Estados Unidos ou no Canadá.
Atualmente, os encontros do Clube reúnem cerca de 120 personalidades europeias e norte-americanas influentes na política, na economia e na mídia. Eles ocorrem em hotéis sofisticados e preferencialmente isolados, que são fechados por ocasião do evento. Nesse período, um fortíssimo esquema de segurança, a cargo de agentes norte-americanos e de vários outros países europeus, além da polícia local, garante a privacidade dos participantes. A conferência mais recente foi realizada em junho no Interalpen-Hotel Tyrol, em Telfs-Buchen, Áustria.
Reis, políticos e milionários
O comitê organizador das conferências tem sido bastante criterioso nas suas seleções de convidados, como se pode constatar pelas listas disponíveis. O polêmico ex-secretário de Defesa norte-americano Donald Rumsfeld era nome habitual nos encontros, assim como Peter Sutherland (ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, atual diretor-executivo da British Petroleum e da Goldman Sachs International e membro do comitê organizador do Bilderberg), Paul Wolfowitz (ex-subsecretário de Defesa do governo de George W. Bush e ex-presidente do Banco Mundial) e Henry Kissinger (ex-secretário de Estado norte-americano). Bill Clinton, Tony Blair, o ex-secretário- geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) Javier Solana e os bilionários David Rockefeller e Bill Gates também já integraram essa exclusiva relação.
Ao reunir tanta riqueza e poder e zelar pela privacidade absoluta em seus eventos (nenhum participante pode falar sobre o que viu e ouviu nos encontros), o Clube Bilderberg se tornou prato cheio para as teorias conspiratórias. Segundo elas, a organização manipula políticas nacionais e eleições, provoca guerras e recessões e chega a ordenar assassinatos e renúncias de líderes mundiais – como teria acontecido, respectivamente, com o presidente norte-americano John Kennedy e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.
Para muitos sérvios, o Bilderberg foi o responsável pela queda do ex-presidente Slobodan Milosevic. Fala-se ainda que três famosos terroristas – Timothy McVeigh (responsável pelo atentado de Oklahoma City), David Copeland (um dos responsáveis pelo atentado ao metrô de Londres) e Osama Bin Laden – também pensavam que os governos nacionais dançam conforme a música tocada pelo Clube.
O curioso é que o Bilderberg incomoda tanto conservadores quanto liberais. Para os primeiros, a organização é um plano sionista liberal. Para os outros, com tanto cacife e sigilo envolvidos, coisa boa não deve sair dali. “Quando tanta gente com tanto poder se reúne em um só lugar, acho que nos devem uma explicação sobre o que está acontecendo”, disse o ex-jornalista britânico Tony Gosling ao jornalista Jonathan Duffy, do BBC News Online Magazine (“Bilderberg: The Ultimate Conspiracy Theory”, de 3 de junho de 2004).
Segundo Gosling, o economista britânico Will Hutton, ex-participante das conferências do Bilderberg, comparou o evento ao encontro anual do Fórum Econômico Mundial, no qual “o consenso estabelecido é o pano de fundo contra o qual a política é feita em nível mundial”. Gosling exemplificou os perigos desse “consenso”: “Um dos primeiros lugares onde ouvi sobre a determinação de as forças norte-americanas atacarem o Iraque foi no encontro de 2002 do Bilderberg, graças a um vazamento de informação.”
Impossível pensar em um comando mundial único
Os organizadores se defendem. Para o belga Étienne Davignon, ex-vice-presidente da Comissão Europeia, vice-presidente da multinacional francesa Suez-Tractebel e membro do Conselho Diretivo do Clube Bilderberg, é impossível pensar em comando mundial único.
“Não creio numa classe governante global porque não creio que tal classe exista”, disse ele ao jornalista da BBC Bill Hayton (“Inside the secretive Bilderberg Group”, de 29 de setembro de 2005). “Apenas penso que são pessoas influentes interessadas em conversar com outras pessoas influentes.”
O jornalista Martin Wolf, do diário inglês Financial Times, que foi convidado para alguns encontros, também pensa que não há fogo atrás dessa fumaça: “A ideia de que tais eventos não podem ser realizados na privacidade é fundamentalmente totalitária”, disse a Duffy. “Não é um organismo executivo. Nenhuma decisão é tomada lá.”
O ex-chanceler britânico Denis Healey, uma das presenças de primeira hora das conferências do Clube Bilderberg, também minimizou as críticas: “Nunca procuramos atingir um consenso sobre os grandes temas nas conferências”, disse a Duffy. “É simplesmente um lugar para discussões.” Healey é só elogios ao Clube: “O Bilderberg é o grupo internacional mais útil do qual participei. A confidencialidade permite às pessoas falarem honestamente, sem medo das repercussões”, acrescentou ele.
Por mais verossímeis ou descabeladas que sejam, as especulações sobre a verdadeira atuação do Clube Bilderberg dificilmente poderão ser confirmadas – ou refutadas – por completo. Elas, aliás, não surpreendem o pesquisador britânico Alasdair Spark, especialista em teorias conspiratórias ouvido por Duffy.
“A ideia de que uma panelinha sombria está mandando em todo o mundo não é nada nova”, comentou Duffy. “Por centenas de anos as pessoas acreditaram que o mundo é governado por um grupo de judeus. Não deveríamos esperar que os ricos e poderosos organizassem as coisas em seu próprio interesse? Isso é chamado de capitalismo.”
Vídeo: Por ocasião da última reunião do Clube de Bilderberg, em junho de 2015, na Áustria, o site jornalístico espanhol Mundo Actual (https://www.youtube.com/user/MundoActualChannel) lançou um interessante vídeo contendo informações sobre o Clube Bilderberg. O vídeo é narrado em espanhol:
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