Cannabis terapêutica. Perigosa como droga, boa como fármaco

Todas as drogas psicoativas do gênero Cannabis (maconha, haxixe, marijuana, etc) apresentam sérios riscos, sobretudo quando consumidas por pessoas jovens.  Mas, ao mesmo tempo, o uso farmacológico de um dos seus princípios, o canabidiol, funciona para um grande número de doenças.

Todas as drogas psicoativas do gênero Cannabis (maconha, haxixe, marijuana, etc) apresentam sérios riscos, sobretudo quando consumidas por pessoas jovens.  Mas, ao mesmo tempo, o uso farmacológico de um dos seus princípios, o canabidiol, funciona para um grande número de doenças.
Todas as drogas psicoativas do gênero Cannabis (maconha, haxixe, marijuana, etc) apresentam sérios riscos, sobretudo quando consumidas por pessoas jovens.  Mas, ao mesmo tempo, o uso farmacológico de um dos seus princípios, o canabidiol, funciona para um grande número de doenças. (Foto: Gisele Federicce)


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Por: Equipe Oásis
 
Nos últimos dez anos a pesquisa científica demonstrou que, nos indivíduos predispostos (um de cada 4), o uso crônico de cannabis é capaz de desencadear crises psicóticas. Indo mais além, acumulam-se as provas de que o risco de psicoses aumenta para aqueles que usam skunk, um novo tipo de cannabis produzido em estufa. E é mais elevado ainda para os que usam o “spice”, termo que designa os produtos que contêm canabinoides sintéticos e que, apesar disso, são vendidos em certos sites Internet como legais.

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Para entender quais são essas novas descobertas a respeito dos efeitos da cannabis é preciso ter alguma noção de bioquímica do cérebro. “Todas as substâncias psicoativas, cannabis incluída, para que funcionem como tal devem ativar o sistema dopaminérgico, ou seja aquele sistema da bioquímica cerebral que nos proporciona prazer”, explica Fabrizio Schifano, italiano psiquiatra das dependências. “Existem substâncias, como a cocaína, que o ativam diretamente. Outras, como os canabinoides, agem de modo indireto”. E continua: “nos neurônios, com efeito, existe um receptor, uma espécie de fechadura, o CB1, um receptor de canabinoides. Essa fechadura existe porque o corpo humano produz quantidades mínimas de endocanabinoides, que são analgésicos naturais como, por exemplo, a anandamida. Nesse receptor se insere contudo também o Thc, substância ativa contida na Cannabis sativa, que assim permite uma maior liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer. Usando-se a marijuana de derivação natural, a quantidade média de Thc de um baseado (cigarro de maconha) é de cerca 40 mg, portanto relativamente baixa.

Além disso, na Cannabis sativa natural, além do Thc existem cerca de 50 compostos, entre os quais o canabidiol (Cbd), que possui uma ação antipsicótica natural, e bloqueia a liberação da dopamina. Na prática, se pequenas doses de Thc da cannabis funcionam como aceleradoras do prazer, o Cbd funciona ao contrário, como um freio e isso explica porque a cannabis tenha a fama de ser inócua.

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Prazer e loucura – A cannabis provoca a produção de mais dopamina em várias áreas do cérebro (1, 2 e 3 na ilustração) proporcionando prazer. Mas se ela se difunde nas áreas mesolímbicas (4), como acontece nos indivíduos predispostos e, mais frequentemente, com as novas variedades, causa crises psicóticas.

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Pesquisas mostram que em alguns indivíduos (20 a 25% da população) a cannabis pode criar problemas. “Se examinarmos os estudos sobre o consumo crônico de canabinoides, encontramos um aumento de 3 a 5 vezes do risco de esquizofrenia. Se em cada 100 não fumadores o risco de psicoses é de 0,5 a 1%, entre os fumadores crônicos de cannabis esse risco aumenta para 3%”, prossegue Schifano. Nos últimos anos difundiu-se um novo tipo de cannabis, com vários nomes (skunk, super skunk, netherweed, sinsemilla, erva holandesa), cultivada em estufa, sob lâmpadas que fornecem calor e uma insolação artificial constante.

 

A indústria farmacêutica mundial já investiga as propriedades farmacêuticas da cannabis

 

Por outro lado, hoje no mercado pode-se encontrar cannabis natural vendida como skunk e vice versa. Aparentemente não é possível fazer distinção entre uma e outra variedade. Mas o skunk é fruto de cruzamentos particulares e possui características diversas da “velha” cannabis: Em média, o baseado da cannabis sativa comum contem cerca de 30 mg de Thc; mas o baseado do skunk contem entre 120 e 150 mg de Thc. E, pior ainda, essas novas plantas não produzem mais o freio natural presente na cannabis, o canabidiol. Fabrizio Schifano desenvolve agora um estudo que leva em conta centenas de mortes na Inglaterra ocorridas nos últimos 14 anos. “Quando publicarei os dados da minha pesquisa ninguém mais poderá dizer que não se pode morrer de overdose de cannabis”, ele afirma. 

Um complicador apareceu a partir de 2008, quando surgiram no mercado as “spice drugs”, vendidas sob os rótulos mentirosos de incensos perfumados, sais para banho ou ervas “legais”. Na verdade, elas estão repletas de substâncias químicas sintéticas projetadas em laboratório para penetrar no receptor CB1 e desencadear efeitos de 5 a 30 vezes mais poderosos do que os do Thc. E tais drogas podem ser compradas online: em 2011, o Observatório Europeu das Drogas (Oedt) individuou 41 dessas novas substâncias, vendidas em cerca de 600 sites e negócios diversos. E atenção: a presença dessas substâncias não pode ser detectada na urina do consumidor.

 

Em Rovigo, na Itália, cientista do exército trabalha em cultivo de cannabis para uso medicinal

 

Medicina alternativa

No reverso dessa medalha, pode-se afirmar que o uso da cannabis como fármaco realmente funciona ela pode ser usada como medicação alternativa para várias doenças. Para tal finalidade, vários países, inclusive o Brasil, já autorizaram a sua produção sob estrito controle. Na Itália, o cultivo é feito e controlado pelo exército nacional.

A cannabis pode ser um remédio útil no tratamento de algumas formas de dores crônicas e da espasticidade (tensões ou rigidez muscular) que deriva de doenças ou traumas do sistema nervoso. Alguns médicos consideram inclusive que o seu potencial se estenda também a outras moléstias, como o mal de Parkinson e a epilepsia, e alguns tumores.

O interesse médico pela cannabis nasceu a partir da observação de alguns pacientes que a usavam com finalidade recreativa ou como recurso alternativo à medicina alopática. A partir das primeiras observações, foram organizados estudos clínicos com pequenos grupos de pacientes.

 

Colheita de cannabis de uma plantação em Israel. No país, desde 1993 a planta é usada para fins terapêuticos

 

A partir dos dados recolhidos, a cannabis seria útil para aliviar dores neuropáticas refratárias a outros fármacos, para melhorar a espasticidade proveniente de doenças como a esclerose múltipla, para reduzir a náusea induzida pela quimioterapia e para melhorar o apetite dos doentes oncológicos e de Aids.

No momento, vários institutos de pesquisa farmacológica estudam a ação de compostos da cannabis como terapia para outros tipos de doenças, entre as quais glaucoma, artrite reumatoide, Parkinson e epilepsia

 

Vários tipos de cannabis expostos na vitrine de uma loja em Amsterdam

 

Riscos do abuso 

Quanto aos efeitos colaterais derivados do abuso médico da cannabis, eles são, ao que tudo indica até o momento, irrelevantes. Mas o mesmo não pode ser dito no caso do abuso do consumo da própria cannabis. O neurólogo Maurizio Bifulco, especialista da Universidade de Salerno, na Itália, explica que “os possíveis danos ligados ao uso recreativo da cannabis são notáveis, sobretudo para pessoas jovens: problemas neurocognitivos, distúrbios da memória, do aprendizado e da plasticidade neuronal. Os riscos a longo prazo para os adultos são bem menores”.

 

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