Bill e Melinda Gates: Por que doar nossa fortuna foi a coisa mais gratificante que já fizemos
Em 1993, Bill e Melinda Gates, ainda noivos, passeavam em uma praia em Zanzibar, tomaram uma decisão ousada de como fazer com que a sua fortuna que veio da Microsoft voltasse para a sociedade. Em uma recente conversa com Chris Anderson, o casal fala sobre seu trabalho na Fundação Bill & Melinda Gates, bem como sobre o seu casamento, seus filhos, seus fracassos e a satisfação de doar a maior parte de sua fortuna
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Fotos: Fundação Bill e Melinda Gates
Tradução: Andrea Mussap. Revisão: Ruy Lopes Pereira
Apaixonado pela tecnologia e astuto homem de negócios, Bill Gates mudou o mundo ao conduzir a Microsoft para o mais vertiginoso dos sucessos empresariais. Ele agora está fazendo isso de novo, com seu estilo próprio de filantropia e sua paixão pela inovação.
Bill Gates é o fundador e ex-CEO da Microsoft. Ícone do mundo digital, visionário da tecnologia e pioneiro dessa área de negócios, ele tem alimentado o sonho de milhões de homens e mulheres em todo o mundo desejosos de realizar o seu potencial através dos programas de computador. Sua empresa se tornou a maior potência mundial da computação pessoal.
No verão de 2008, Bill Gates praticamente abandonou o seu papel no dia-a-dia da Microsoft para se dedicar, com sua esposa, à filantropia. Afirmando que todas as vidas têm o mesmo valor (não importa onde eles estão sendo vividas), a Fundação Bill e Melinda Gates já doou quantias enormes para programas de pesquisa sobre a AIDs, para bibliotecas, pesquisas agrícolas, assistência em catástrofes. Ofereceu também financiamento para programas de saúde e de educação global.
Vídeo: Bill e Melinda Gates falam no TED sobre suas atividades como filantropos.
Tradução integral da palestra de Bill e Melinda Gates no ED:
Chris Anderson: Essa é uma entrevista diferente. Com base em que uma imagem vale mais do que mil palavras, pedi ao Bill e a Melinda para desenterrarem de seu arquivo algumas fotos que ajudassem a explicar um pouco do que eles têm feito, para trabalharmos dessa forma. Vamos começar por esta. Melinda, quando e onde foi isso e quem é o bonitão ao seu lado?
Melinda Gates: Com aqueles óculos grandes? Foi na África, nossa primeira viagem, a primeira vez que estivemos na África, no outono de 1993. Estávamos prestes a nos casar. Nós nos casamos alguns meses depois, e a gente fez essa viagem para ver os animais e a savana. Foi incrível. Bill nunca tinha ficado tanto tempo longe do trabalho. Mas o que realmente nos tocou foram as pessoas, e a pobreza extrema. Começamos a nos questionar: "Será que tem que ser assim?" E no final da viagem fomos para Zanzibar, e passamos um tempo andando na praia, algo que fazíamos muito quando estávamos namorando. E naquele tempo a gente já conversava que a riqueza vinda da Microsoft seria devolvida à sociedade. Mas foi realmente no passeio na praia, que a gente começou a conversar sobre o que poderíamos fazer, e como poderíamos fazê-lo?
CA: Considerando que essas férias levaram a criação da que acredito ser a maior fundação privada do mundo, férias podem sair bem caras.
MG: Acho que sim. Mas nós gostamos.
CA: Qual de vocês foi o instigador chave, ou foi simétrico?
Bill Gates: Acho que estávamos animados porque haveria uma fase da nossa vida onde trabalharíamos juntos, e descobriríamos uma forma de devolver este dinheiro. Nesta época a gente conversava sobre os mais pobres, e como ter um grande impacto sobre eles. Havia coisas que não estavam sendo feitas. Havia muita coisa que não sabíamos. Quando olhamos para trás, vemos que nossa ingenuidade era incrível. Mas tínhamos um certo entusiasmo que essa seria a fase, a fase pós-Microsoft seria a nossa filantropia.
MG: A qual Bill sempre achou que aconteceria depois dos seus 60 anos, mas ele nem chegou aos 60 ainda, e algumas coisas mudaram ao longo do caminho.
CA: Então foi aí que tudo começou, mas acelerou rápido. Isso foi em 1993, de fato foi em 1997, antes da própria fundação começar.
MG: Em 1997, nós lemos um artigo sobre as doenças diarreicas que matavam muitas crianças ao redor do mundo, e nós dizíamos para nós mesmos, "Isso não pode ser assim. Nos Estados Unidos, basta ir à farmácia." E então começamos a reunir cientistas e a aprender sobre a população, sobre vacinas, e sobre o que tinha ou não funcionado. E foi aí que realmente começamos, era o final de 1998, 1999.
CA: Então você tem um grande pote de dinheiro, e um mundo cheio de muitos problemas. Como vocês decidiram no que focar?
BG: Decidimos que pegaríamos duas causas cujas maiores desigualdades fossem globais. Então pensamos nas crianças que estavam morrendo porque não tinham nutrição sequer para se desenvolverem, e em países que estavam estagnados por causa do nível de mortalidade, e os pais tendo tantos filhos que a população crescia demais, e as crianças estavam tão doentes que elas não podiam receber educação e desenvolverem-se por si próprias. Foi esta então a nossa escolha global. E então nos Estados Unidos, ambos tivemos uma educação incrível, e vimos que os EUA conseguem cumprir sua promessa de igualdade de oportunidade, por ter um sistema de educação fenomenal, e quanto mais aprendíamos mais percebíamos que não estávamos cumprindo aquela promessa. Então escolhemos essas duas coisas, e tudo o que a fundação faz é focado nelas.
CA: Eu pedi a vocês que escolhessem uma foto que vocês gostariam que ilustrasse seu trabalho, e Melinda, essa foi a que você escolheu. O que significa essa foto?
MG: Uma das coisas que eu amo fazer quando viajo é ir para as áreas rurais e conversar com as mulheres, quer seja em Bangladesh, Índia, vários países da África, e eu vou como uma mulher ocidental, sem nome. Eu não lhes digo quem eu sou. Vou de roupas básicas. E eu continuava ouvindo delas, repetidamente, quanto mais eu viajava: "Eu quero poder usar essa injeção." Eu ia lá para falar com elas sobre as vacinas infantis, mas elas traziam de volta a conversa para: "Mas e quanto a eu tomar a injeção?", que é uma injeção que estavam chamando de Depo-Provera, que é um contraceptivo. E voltei e falei com especialistas em saúde global, que disseram: "Não, contraceptivos estão em estoque no mundo em desenvolvimento."
Tivemos que nos aprofundar nos relatórios. E foi isso o que a equipe me trouxe. Ou seja, ter aquela coisa que segundo dizem as mulheres na África, que elas querem usar, estocadas por mais de 200 dias no ano, explica porque as mulheres me diziam: "Eu andava 10 quilômetros sem que meu marido soubesse, e eu chegava na clínica e não havia nada lá." E na África, os preservativos também estavam estocados por causa de todo o trabalho com a AIDs que os EUA e outros países faziam.
Mas as mulheres diziam repetidamente: "Eu não posso negociar o preservativo com o meu marido, eu estaria sugerindo que um de nós dois teria AIDS. Eu preciso da vacina, porque assim eu posso espaçar os nascimentos dos meus filhos, e posso alimentá-los e ter uma chance de educá-los."
CA: Melinda, você é católica romana, e muitas vezes você foi envolvida em polêmica por causa desta questão, e da questão do aborto de ambos os lados. Como você lida com isso?
MG: Eu acho que este é um ponto muito importante, como uma comunidade global tínhamos desistido dos contraceptivos. Sabíamos que 210 milhões de mulheres queriam acesso aos contraceptivos, mesmo os que temos aqui nos EUA. E nós não estávamos dando isso a elas por causa da controvérsia política em nosso país. E para mim isso era um crime. E eu ficava tentando encontrar a pessoa que traria isso de volta ao cenário global. E finalmente percebi que tinha que fazê-lo. E mesmo sendo católica, eu acredito em contracepção, assim como a maioria das mulheres católicas nos EUA que dizem que usam contraceptivos. E eu não deveria deixar que essa polêmica fosse a coisa que nos impedisse. Nos EUA, costumávamos ter consenso a respeito de contraceptivos, e então voltamo-nos a esse consenso global e levantamos 2,6 bilhões de dólares para essa questão das mulheres. (Aplausos)
CA: Bill, este é seu gráfico. Do que se trata?
BG: Meu gráfico tem números nele. (Risos) Eu realmente gosto deste gráfico. Este é o número de crianças que morrem a cada ano antes de completarem 5 anos. E o que você vê é realmente uma história de sucesso fenomenal, mas que não é muito conhecida, de que estamos fazendo progressos incríveis. Nós reduzimos de 20 milhões, não muito tempo depois que eu nasci, para cerca de 6 milhões. Portanto, esta é uma história em grande parte das vacinas. A varíola matava alguns milhões de crianças por ano. Ela foi erradicada de modo que desceu para zero. O sarampo matava alguns milhões por ano. Agora mata algumas centenas de milhares. Este é um gráfico onde se deseja que esse número continue diminuindo. E isso será possível usando a ciência das novas vacinas, levando as vacinas às crianças. Nós podemos acelerar o progresso. Na última década esse número caiu mais rápido do que nunca na história, e por isso eu adoro o fato de que você pode dizer: "Se podemos inventar novas vacinas, podemos distribuí-las, usar o que temos aprendido e fazer a entrega corretamente", e então poderemos realizar um milagre.
CA: Você faz contas sobre isso e isso funciona, eu acho, literalmente em milhares de vidas de crianças salvas todos os dias, em comparação com o ano anterior. Isso não é noticiado. Um avião com 200 mortes é uma história muito maior do que essa. Isso deixa você chateado?
BG: Sim, porque é uma coisa silenciosa acontecendo. É uma criança, uma criança de cada vez. 98% disso não tem nada a ver com desastres naturais, contudo, a caridade das pessoas diante de um desastre natural, é incrível. É impressionante como as pessoas pensam, "Podia ter sido comigo", e o dinheiro flui. Essas causas têm sido um pouco invisíveis. Com a exposição dos "Objetivos de desenvolvimento do milênio" dentre outras coisas, nós estamos vendo algum aumento da generosidade. A meta é levar isso para bem abaixo de um milhão, o que deve ser possível em nosso tempo de vida.
CA: Talvez precisasse de alguém apaixonado por números e gráficos, ao invés de apenas uma cara grande e triste para se engajar. Você usou-o em seu relatório deste ano, você usou basicamente esse argumento para dizer que a ajuda, ao contrário do "meme" que diz que a ajuda é inútil e desnecessária, ela na verdade tem sido eficaz.
BG: Sim, as pessoas podem... existe um tipo de ajuda que foi bem-intencionada mas não serviu. Há alguns investimentos de capital de risco que eram bem-intencionados, e não deram certo. Você não deve apenas dizer: "Por causa disso, porque não temos um registro perfeito, esse é um mau empreendimento." Você deve olhar para: qual era sua meta? Como você está tentando melhorar a nutrição, a sobrevivência e alfabetização, de forma que os países possam cuidar de si e dizer: "Legal, isso está indo bem.", e serem mais inteligentes. Podemos gastar a ajuda melhor. Nem tudo é uma panaceia. Eu acho que podemos fazer melhor do que o capital de risco, incluindo grandes sucessos como este.
CA: A sabedoria tradicional diz que é muito difícil para os casais trabalharem juntos. Como vocês conseguem lidar isso?
MG: Muitas mulheres vêm me dizer: "Não acho que conseguiria trabalhar com meu marido. Isso não iria funcionar." A gente gosta disso, e a gente não - esta fundação foi uma aproximação para nós dois, nessa jornada de aprendizado contínuo. E nós não viajamos tanto juntos pela fundação, como quando o Bill trabalhava na Microsoft. Nós estamos viajando mais, só que separadamente. Mas sempre sei que ao voltar pra casa, Bill estará interessado no que eu aprendi. Não importa se sobre mulheres ou meninas, ou algo novo sobre a cadeia de distribuição das vacinas, ou alguém que seja um grande líder. Ele vai ouvir com real interesse. E ele sabe que ao chegar em casa, seja para falar sobre o discurso que deu, dados, ou o que ele aprendeu, estarei bem interessada. Acho que nós temos uma relação muito colaborativa. Mas não estamos juntos a cada minuto, isso é certo. (Risos)
CA: Mas agora estão, e estamos muito felizes que estejam. Melinda, no início você basicamente comandava o show sozinha. Seis anos atrás, eu acho, Bill veio em tempo integral. Saiu da Microsoft e veio em tempo integral. Deve ter sido difícil se ajustar a isso, não?
MG: De fato eu acho que para os funcionários da fundação, a chegada do Bill trouxe mais ansiedade para eles do que para mim. Eu estava muito empolgada. Obviamente Bill tomou essa decisão antes de anunciá-la em 2006, e foi realmente uma decisão dele. Mas, novamente, foram nas férias da praia onde andávamos pela areia, e ele estava começando a pensar nessa ideia. E para mim, a alegria de ter o Bill colocando seu cérebro e seu coração contra esses grandes problemas globais, essas desigualdades, para mim foi muito animador. Sim, os funcionários da fundação ficaram muito ansiosos por causa disso. (Aplausos)
CA: Isso é muito legal.
MG: Mas isso passou nos primeiros três meses dele lá.BG: Incluindo alguns funcionários.
MG: Foi o que disse, a ansiedade dos funcionários passou após três meses.
BG: Não, estou brincando.
MG: Você quer dizer, eles não se foram.
BG: Alguns sim, mas... (Risos)
CA: Sobre o que vocês conversam? Domingo, 11 horas da manhã, você está longe do trabalho, O que surge? Sobre o que vocês conversam?
BG: Como nós construímos essa coisa juntos desde o início, é uma grande parceria. Eu tinha isso com Paul Allen no começo da Microsoft. Eu tinha isso com o Steve Ballmer quando a Microsoft ficou maior, e agora com a Melinda é ainda mais forte, do mesmo jeito, é uma parceira, então a gente conversa muito sobre para que tipo de coisa a gente devia doar mais, que grupos estão funcionando bem? Ela tem muitas ideias. Ela conversa muito com os funcionários. Faremos várias viagens que ela descreveu. Portanto, há muita colaboração. Eu não consigo pensar em nada onde um de nós tenha uma opinião superforte sobre uma coisa ou outra.
CA: E você Melinda, consegue pensar em algo? (Risos) Nunca se sabe.
MG: Bem, eis o que acontece. Vemos as coisas por ângulos distintos, e eu acho que isso é muito bom. O Bill consegue olhar para a massa de dados e dizer, "Quero agir com base nessas estatísticas globais." Mas eu vou mais pela intuição. Eu vou a campo e falo com várias pessoas, e o Bill me ensinou a pegar isso e entender os dados globais, e ver se eles correspondem, e acho que o que ensinei a ele, foi pegar esses dados e ir falar com as pessoas para entender: "Você realmente consegue entregar essa vacina?" "Você consegue fazer uma mulher aceitar essas gotas pólio, na boca de seu filho?" Porque a parte da distribuição é tão importante quanto a da ciência. Eu acho que ao longo do tempo houve convergência dos nossos pontos de vista e francamente, o trabalho fica melhor por causa disso.
CA: Quanto às vacinas, poliomielite e assim por diante, vocês tiveram alguns sucessos surpreendentes. Mas e quanto ao fracasso? Você pode falar de algum fracasso e talvez, o que aprenderam com ele?
BG: Sim. Felizmente podemos suportar alguns fracassos, porque certamente já os tivemos. Fazemos vários trabalhos com remédios ou vacinas, e você sabe que terá alguns fracassos. Divulgamos aquele, que teve muita publicidade, ao pedir um preservativo melhor. Tivemos centenas de ideias. Talvez algumas delas vão funcionar. Nós éramos muito ingênuos, certamente eu era, sobre um remédio para uma doença na Índia, a leishmaniose visceral, e eu pensei: "Ao conseguirmos o remédio, vamos erradicar essa doença Só que precisava de uma injeção todos os dias, por 10 dias. Levou três anos a mais do que esperávamos para ter o remédio e então, não haveria jeito de conseguirmos distribuí-lo com eficiência. Felizmente descobrimos que se você matar moscas de areia, provavelmente você vai ter sucesso. Mas nós levamos 5 anos, pode-se dizer que perdemos 5 anos e cerca de 60 milhões, em um caminho que acabou tendo um benefício muito modesto ao final de tudo.
CA: Vocês estão gastando cerca de 1 bilhão de dólares por ano em educação, eu acho, algo assim. A história do que deu certo é bastante longa e complexa. Mas tem alguma coisa que deu errado, e que você possa falar?
MG: Diria que uma boa lição para nós com esse trabalho precoce, é que pensávamos que as pequenas escolas eram a resposta, e elas certamente ajudam. Eles diminuem a taxa de desistência. Há menos violência e criminalidade nessas escolas. Mas o que aprendemos com esse trabalho e que acabou por ser a chave fundamental, é ter um grande professor na sala de aula. Se você não tem um bom professor na sala de aula, não interessa se a escola é grande ou pequena, você não vai mudar a trajetória de saber se aquele aluno estará pronto para a faculdade. (Aplausos)
CA: Melinda, esta é você e sua filha mais velha, Jenn. Isso foi cerca de três semanas atrás, eu acho. Três ou quatro. Onde foi isso?
MG: Nós fomos para a Tanzânia. Jenn já esteve lá. Todos nossos filhos já passaram um tempo na África. E nós fizemos algo muito diferente: nós decidimos ir passar duas noites e três dias com uma família. Anna e Sanare são os pais. Eles nos convidaram, e então ficamos em sua "boma". Na verdade acho que as cabras ficavam lá vivendo naquela pequena cabana em sua pequena propriedade, antes de chegarmos lá. E nós ficamos com a família e nós realmente aprendemos como é a vida na Tanzânia rural. E a diferença entre apenas ir e visitar por metade de um dia, ou três quartos de um dia, contra passar uma noite foi profunda, deixe-me dar-lhes uma explicação sobre isso. Eles tiveram 6 filhos, e conforme conversava com a Anna na cozinha, cozinhamos cerca de cinco horas na cozinha da cabana no dia, e ao conversarmos, ela tinha realmente planejado e espaçado com o marido os nascimentos de seus filhos. Era uma relação muito amorosa.
Era um guerreiro Massai e sua esposa. Mas eles decidiram se casar, eles claramente tinham respeito e amor no relacionamento. Seus filhos, seus 6 filhos, os dois no meio eram gêmeos de 13 anos, um menino e uma menina, chamada Grace. E quando saímos para cortar madeira e fazer tudo que Grace e sua mãe faziam, Graçe não era uma criança, ela era uma adolescente mas ela não era um adulto. Ela era muito, muito tímida. Ela ficava querendo falar comigo e Jenn. Nós continuávamos tentando envolvê-la, mas ela era tímida. E então à noite, quando todas as luzes se apagaram na Tanzânia rural e não havia lua naquela noite-- a primeira noite, sem estrelas, e Jenn saiu da nossa cabana com sua pequena lanterna REI ligada, Grace imediatamente correu e foi buscar o tradutor, e foi direto na direção da Jenn e falou: "Quando você voltar para casa posso ficar com a lanterna, para que possa estudar a noite?"
CA: Oh, caramba.
MG: E o pai dela tinha me dito o quanto temia que, ao contrário do filho, que havia passado nos exames, por causa de suas tarefas ela não se saísse bem, e não conseguisse ir à escola pública. Ele disse: "Não sei como vou pagar pela educação dela. Eu não posso pagar a escola privada e ela pode acabar nesta fazenda, como minha esposa." Eles sabem a diferença que a educação pode fazer, de uma forma clara e profunda.
CA: Esta é uma outra foto de seus outros dois filhos, Rory e Phoebe, juntamente com Paul Farmer. Ter três filhos quando você é a família mais rica do mundo, parece ser uma experiência social que não exige muita imaginação. Como é isso para vocês? Qual foi a sua abordagem?
BG: Em geral diria que as crianças têm boa educação, mas você tem que se certificar que eles tenham senso de suas capacidades, que saibam para onde vão e o que farão. E a nossa filosofia tem sido a de ser bem francos com eles: a maioria do dinheiro vai para a fundação -- e de ajudá-los a encontrarem algo que os motive. Queremos encontrar um equilíbrio onde eles tenham liberdade para fazer qualquer coisa, mas não com um monte de dinheiro despejado sobre eles, porque senão eles podem pegar e não fazer nada. E até agora eles estão bastante diligentes, animados para escolherem seu próprio caminho.
CA: Vocês preservaram a privacidade deles com cuidado, por razões óbvias. Estou curioso em saber por que me deram permissão para mostrar essas fotos aqui no TED.
MG: Bem, é interessante. À medida que eles crescem, eles sabem que a nossa família acredita na responsabilidade, que estamos em uma situação inacreditável só por vivermos nos Estados Unidos e termos uma ótima educação, e que temos a responsabilidade de devolver ao mundo. E conforme eles crescem e os ensinamos Eles estiveram em tantos países ao redor do mundo e eles dizem: "Queremos que as pessoas saibam que acreditamos no que estão fazendo, pais, está tudo bem em expor mais a gente". Portanto, temos a permissão deles para mostrar esta imagem. E eu acho que Paul Farmer, provavelmente vai colocá-la em algum de seus trabalhos. Mas eles realmente se importam muito com a missão da fundação também.
CA: Vocês facilmente têm dinheiro suficiente, apesar de suas vastas contribuições para a fundação, para torná-los bilionários. Esse é o seu plano para eles?
BG: Não. Não. Eles não terão qualquer coisa assim. Eles precisam ter um senso de que seu próprio trabalho é significativo e importante. Nós lemos um longo artigo antes de nos casarmos, onde Warren Buffett falava sobre isso, e ficamos bastante convencidos de que não era um favor nem para a sociedade, nem para as crianças.
CA: Falando em Warren Buffett, algo realmente incrível aconteceu em 2006, quando de alguma forma o seu único rival verdadeiro, para pessoa mais rica da América, de repente concordou em dar 80% da fortuna dele para a sua fundação. Como é que isso aconteceu? Eu acho que há a versão longa e a curta. Temos tempo para a curta.
BG: Tudo bem. Warren era um amigo próximo e a esposa dele, Suzie, queria doar tudo. Tragicamente ela faleceu antes que ele fizesse isso, e ele sabe delegar muito bem e (Risos) ele disse:
CA: Tuíte isso.
BG: Se ele conseguisse alguém que estivesse fazendo algo de bom e estivesse disposto a fazê-lo sem nenhum custo, talvez tudo bem. Mas nós ficamos atordoados.
MG: Totalmente pasmos.
BG: Nunca esperamos isso, e foi inacreditável. Isso permitiu-nos aumentar a nossa ambição dramaticamente quanto ao que a fundação pode fazer. Metade dos recursos que temos vêm da alucinante generosidade do Warren.
CA: Acho que você prometeu que, quando estivesse pronto, 95% ou mais da sua riqueza seriam doados a fundação.
BG: Sim.
CA: E desde quando vocês começaram essa relação-- sim, é incrível. (Aplausos) E recentemente, você e Warren têm andado por aí tentando convencer outros bilionários e pessoas de sucesso a prometerem dar, o que... mais da metade de seus ativos para a filantropia. Como está essa questão?
BG: Temos cerca de 120 pessoas que já fizeram esta promessa de doação. E o legal é que nos reunimos anualmente e conversamos: "Ok, você contrata pessoal, o que dá a eles?" Não tentamos homogeneizar. A beleza da filantropia é esta diversidade alucinante. As pessoas doam para algumas coisas, e a gente vê e fala: "Nossa!". Mas isso é ótimo. Esse é o papel da filantropia: escolher diferentes abordagens mesmo que com único foco, como a educação. Nós precisamos de mais experimentos. Mas tem sido maravilhoso conhecer essas pessoas, compartilhar sua jornada para a filantropia, como envolvem seus filhos, onde estão agindo diferentemente, e isso tem sido muito mais bem sucedido do que esperávamos. E parece que nos próximos anos isso só tende a crescer.
MG: E ter pessoas vendo que outras pessoas estão fazendo a diferença com a filantropia, quero dizer, essas são as pessoas que criaram seus próprios negócios, colocaram sua engenhosidade em ideias incríveis. Se eles colocarem as suas ideias e seu cérebro a favor da filantropia, eles podem mudar o mundo. E eles começam a ver outros fazendo isso, e dizem: "Uau, quero fazer isso com meu dinheiro."Para mim, essa é a parte que é incrível.
CA: Parece-me que é realmente muito difícil para algumas pessoas descobrirem mesmo que remotamente, como gastar tanto dinheiro em alguma outra coisa. Há provavelmente alguns bilionários nessa sala, e certamente algumas pessoas bem sucedidas. Estou curioso, você pode fazer o discurso? Qual é a chamada?
BG: Bem, é a coisa mais gratificante que já fizemos, e você não pode ficar com isso só pra você, e se não estiver legal para os seus filhos, vamos nos reunir e discutir o que pode ser feito. O mundo é um lugar muito melhor por causa dos filantropos do passado, e da tradição aqui dos Estados Unidos que é a mais forte, é a inveja do mundo. E parte da razão por ser tão otimista, é porque eu realmente acho que a filantropia vai crescer, e pegar algumas coisas onde o trabalho e descobertas do governo não são fortes, e acender uma luz na direção certa.
CA: O mundo tem essa terrível desigualdade, um problema crescente, que parece ser estrutural. Eu acho que se mais de seus pares seguirem o mesmo caminho que vocês, isso vai fazer diferença tanto no problema como certamente na percepção do problema. Esse é um comentário justo?
BG: Oh, sim. Se você tirar do mais rico e der ao menos rico, isso é bom. É tentar equilibrar, e isso é justo.
MG: Mas você muda os sistemas. Nos EUA, estamos tentando mudar o sistema de educação para que seja justo para todos, e funcione para todos os estudantes. Isso para mim realmente muda o equilíbrio da desigualdade.
BG: Isso é o mais importante. (Aplausos)
CA: Bem, eu acho que a maioria das pessoas aqui e muitos milhões ao redor do mundo, estão admiradas com a trajetória que suas vidas tomaram, e com a forma espetacular que vocês moldaram o futuro. Muito obrigado por virem ao TED, por compartilharem conosco e pelo que fazem.
Bill Gates: Obrigado.
Melinda Gates: Obrigada.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247