Bicho homem. O superpredador do planeta
Somos campeões imbatíveis da caça e da pesca. Recente pesquisa concluída por cientistas da University of Victoria, no Canadá, revela que nós, humanos, somos os únicos superpredadores na superfície do planeta. Nossas atividades de caça e pesca são até 14 vezes superiores às de quaisquer outros seres vivos da terra e do mar.
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Por: Equipe Oásis
Nós, seres humanos modernos, evoluímos como caçadores-coletores cooperativos. O progresso cultural e tecnológico nos habilitou a matar presas pertencentes a muitos outros grupos de espécies muito maiores do que nós mesmos. Poderíamos achar que nossas habilidades para a caça se apagaram ou enfraqueceram desde o advento da agricultura e a domesticação de animais, atividades iniciadas há 10 mil anos.
Mas o cientista Chris T. Darimont e sua equipe multidisciplinar, da University of Victoria, Canadá, demonstra em artigo recém publicado na revista Science Magazine (http://www.sciencemag.org/content/349/6250/858.short) que no contexto de uma análise global nós humanos permanecemos o único verdadeiro superpredador em atividade na superfície do planeta. Analisando as informações contidas em um extenso banco de dados a respeito da exploração pelo homem de 2135 populações de animais selvagens, Darimont e seus colegas descobriram que os humanos predam até 14 vezes mais biomassa do que os demais predadores. Nosso domínio trófico atinge suas proporções máximas nos oceanos, fora do nosso habitat.
Um predador insustentável
A pesquisa da University of Victoria parte de um fato: o paradigma da exploração sustentável dos recursos naturais considera a dinâmica das populações de presas e os rendimentos que elas proporcionam para a humanidade, mas ignora o comportamento e a ação dos seres humanos como predadores. Os estudiosos compararam os padrões humanos de predação com os padrões de outros predadores que competem entre si pela divisão das presas (mamíferos terrestres e peixes dos rios e dos mares). As mais recentes pesquisas globais revelam que os humanos matam presas adultas – o capital reprodutivo das populações – numa escala até 14 vezes superior à dos índices médios dos demais predadores. Esses números são particularmente elevados em termos da exploração de mamíferos, aves e peixes com finalidades de processamento industrial (atum e sardinha, por exemplo). Devido a esse domínio competitivo, e a outros comportamentos predatórios exclusivos dos humanos, os especialistas definem a função humana como sendo a de um “superpredador” insustentável, o qual, a não ser que ocorram profundas porém improváveis mudanças de comportamento, continuará a alterar globalmente os processos ecológicos e evolutivos.
“Não somos tubarões, nem sequer leões. Somos muito piores. O superpredador do planeta é o homem. Nenhum outro predador pode ser comparado a nós”, comenta Darimont. Suas conclusões são claríssimas: “O homem provocou várias e difusas extinções de organismos vivos no planeta, reduziu enormemente a quantidade de peixes nos oceanos e interrompeu importantes cadeias alimentares”.
“Esses são resultados que muito raramente na história do planeta os outros predadores chegaram a causar. Nossa tecnologia reduziu enormemente a quantidade de peixes nos oceanos e interrompeu importantes cadeias alimentares”, enfatiza Darimont. Para esse cientista, “nossa tecnologia possui métodos e sistemas para matar com perfídia e eficiência, além de sistemas econômicos globais e de gestão de recursos que priorizaram a obtenção de benefícios a curto prazo. Tudo isso fez de nós predadores superiores em relação a todos os outros seres vivos, com consequências dramáticas”.
Nossas técnicas de caça e pesca nos tornam quase invulneráveis para as presas, e isso faz com que raramente pensemos nas consequências, enquanto os predadores marinhos e sobretudo os terrestres com frequência arriscam suas vidas para capturar uma presa. Como consequência, todos os outros animais praticam a caça com cuidado e atenção, matando apenas para saciar a fome. Eles sabem que matar é perigoso. Nós, não.
Um predador sem rival
As análises demonstraram que o ser humano predou e continua a predar os peixes nos oceanos com uma taxa 14 vezes superior à dos demais predadores marinhos. Na terra firme, a predação humana é hoje 9 vezes superior à dos grandes carnívoros terrestres, como ursos, lobos, hienas e leões e outros felinos.
“Pior de tudo – salienta Tom Reimchen, da University of Victoria e coautor da pesquisa – , o ser humano preda sobretudo organismos jovens ou de qualquer forma em idade ainda adequada para a reprodução, e isso limita o crescimento das populações dos animais”.
Os autores da pesquisa concluem com um apelo urgente a que reconsideremos o conceito de “exploração sustentável” da fauna selvagem e a gestão da pesca que, em vez de seguir os cânones abusivos impostos pela nossa sociedade, deveria seguir de perto e tomar como exemplo o comportamento dos predadores naturais.
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