Base US27, na Líbia: Campo militar norte-americano vira refúgio de grupo terrorista
Um campo de treinamento militar próximo a Trípoli, capital da Líbia, inicialmente destinado à formação de soldados governamentais líbios em técnicas de combate ao terrorismo, tornou-se refúgio de um grupo terrorista ligado à Al-Qaeda.
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No Iraque e no Afeganistão, a política norte-americana e europeia de invasão de países governados por ditadores ou por organizações terroristas converteu-se em fracassos retumbantes. Após destruir a infraestrutura de governo e de defesa dos governos ditatoriais, as forças ocidentais de ocupação foram incapazes de criar novos governos sólidos. Ao abandonar esses países, poderosas forças terroristas voltaram a se organizar e a se aglutinar, com ânimo redobrado, e estão prestes a dominar novamente suas nações.
Agora, também a Líbia, após a morte do ditador Ghedafi, parece caminhar nesse sentido, como mostra o artigo abaixo. No país, guerrilheiros islâmicos, ligados de alguma forma a oranizações terroristas como a Al-Qaeda, já atuam em toda a parte. Sua façanha mais recente foi tomar a importante base militar US27, nas imediações da cidade de Benghasi, apoderando-se de todo o armament ali estocado. Leia a reportagem abaixo, que acaba de ser publicada num site novaiorquino.
Por: Site The Daily Beast - Nova lorque
No verão de 2012, os Boinas Verdes dos EUA começaram a reconstruir uma base militar líbia, 27 km a oeste de Trípoli. Seu objetivo era funcionar como campo de treinamento para a formação da primeira força especial líbia de contra-terrorismo, formada pela inteligência militar ocidental.
Passados menos de dois anos, o “campo militar 27" (o nome é uma referência a um marco quilométrico próximo da base, na estrada entre Trípoli e Túnis, capital da Tunísia) encontra-se sob o controle de Ibrahim Ali Abu Bakr Tantoush, um ex-aliado de Osama bin Laden, que os Estados Unidos e as Nações Unidas tinham identificado em 2002. lsso significa que Tantoush detém agora o controle de um campo militar que Washington e Trípoli esperavam utilizar para o treino de forças especiais líbias treinadas para a captura de terroristas islâmicos militantes. Entre eles, estava incluído o próprio Tantoush.
Um alto responsável da Defesa dos EUA acaba de admitir que essa informação foi recolhida pelos serviços secretos norte-americanos na Líbia. Em 22 de abril, Tantoush apareceu na televisão e confirmou, em entrevista, que de fato se encontrava na Líbia, hospedado com a família. Resta saber onde. A Líbia é um país muito grande.
Jihadistas em toda a Líbia
Na ocasião, no entanto, Tantoush negou ter qualquer ligação com aquela antiga base americana de operações especiais. Mas, segundo funcionário dos EUA, o campo é considerado agora uma “zona interdita” , ou seja, um local onde os militares americanos só poderiam entrar recorrendo à força das armas.
Desde o atentado ao consulado americano em Benghasi (11 de setembro de 2012), grupos jihadistas e células regionais da Al-Qaeda não param de ganhar terreno na Líbia. O fato de um veterano como Tantoush controlar hoje uma base militar a 27 quilômetros da capital diz muito sobre a deterioração das condições de segurança na Líbia.
“Já sabemos há algum tempo que grupos jihadistas construíram campos de treino em todo o território líbio”, diz Daveed Gartenstein-Ross, ex- membro da Fundação para a Defesa das Democracias. “Mas esse novo elemento é importante: primeiro, porque o campo está localizado na entrada de Trípoli; em segundo lugar, porque em vez de montarem campos de treino nos confins do deserto, os jihadistas assumiram o controle de uma base previamente ocupada pelo exército regular líbio”. E acrescenta Gartenstein-Ross: “Não creio que consigam manter sua posse por muito tempo. Essa base fica nas proximidades de Trípoli e sua localização é bem conhecida pelo governo da Líbia”.
Resultados aquém das expectativas
Um militar americano que participou do programa de formação explica que as forças especiais dos Estados Unidos começaram a construir a base no verão de 2012, antes do atentado ao consulado americano em Bengasi, em 11 de setembro. No entanto, os treinamentos propriamente ditos só começaram no outono de 2012. Um funcionário do Pentágono assinala que, embora o campo 27 pretendesse, inicialmente, formar um contingente de 100 homens das operações especiais líbias, esse modesto objetivo nunca chegou a ser cumprido. “Os resultados ficaram bem aquém das nossas expectativas e das dos líbios”, acrescenta Carter Ham, general aposentado que liderava o Comando Africano no Pentágono, no momento da criação desse programa de formação.
Ham se lembra de ter encontrado um pequeno grupo que os instrutores lhe haviam apresentado como sendo formado por líderes do futuro: “O grupo era diversificado, como pretendíamos. As milícias de onde esses homens eram provenientes possuíam pouca experiência militar e seguramente nenhuma experiência no seio de uma organização hierárquica". A situação no campo 27 começou a se deteriorar em junho de 2013, quando duas milícias rivais tomaram as instalações de assalto e se apoderaram do equipamento. Nessa altura (se tomarmos como boas as palavras de dois oficiais americanos, que aceitaram responder às nossas questões mantendo o anonimato), nenhum militar dos EUA se encontrava na base. Ela nem sequer estava protegida por soldados líbios. Mas um grande número de armas e armamentos norte-americanos lá se encontravam armazenados e passaram para as mãos dos terroristas assaltantes.
O funcionário do Pentágono confirmou essas informações, especificando que as milícias tinham se apoderado de equipamentos de visão noturna, de espingardas M4, pistolas, veículos militares e munições. Acontecimentos deste tipo tornam ainda mais confortável a posição de Tantoush e de seu grupo. Isso é particularmente frustrante para os americanos, visto se tratar de um dos principais membros remanescentes da rede Al-Qaeda. O ataque de junho de 2013 bastou para anular o programa de formação. O embaixador dos EUA cancelou-o, tentando desse modo garantir a segurança do pessoal e do equipamento americano.
Ponto de passagem para a Síria
Até hoje, as condições de segurança na Líbia não são boas. Um porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos em Trípoli recusou responder às nossas perguntas. Mas parece óbvio que a Líbia continua precisando de ajuda. “O país é uma via de acesso para os combatentes estrangeiros que viajam para a Síria, vindos de toda a África”, informa a nossa fonte do Pentágono. No mês de março, depondo perante o Comitê de Serviços Armados do Senado, o general David Rodriguez - sucessor de Ham na liderança da AFRICOM - estimou que cerca de dois mil combatentes estrangeiros tenham transitado através do nordeste da África (Líbia, Egito, Sudão, Somália) em direção à Síria.
Esse general salientou ainda que a Al-Qaeda continua coordenando as atividades terroristas na região, compartilhando os seus conhecimentos e recursos com lideranças rebeldes nela espalhadas. Hoje, esses militantes dispõem de uma base militar completa muito perto de Trípoli, além de contarem com um verdadeiro arsenal de equipamentos táticos.
“A principal dificuldade reside no fato de que inúmeras armas, munições e explosivos provenientes da Líbia circularem por todo o nordeste da África”, completou o general Rodriguez.
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