Atenção! Baleia cinzenta no Mediterrâneo
Ela percorreu a nova rota aberta pelo derretimento do gelo no rtico. H mais de 300 anos no se via um exemplar dessa espcie nas guas do Mar Mediterrneo
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Ela partiu do Alasca e, no início de julho último, quinze mil quilômetros depois, chegou ao litoral oriental do Mar Mediterrâneo, para espanto da equipe de cientistas israelenses que a descobriu e fotografou. O que fazia uma baleia cinzenta naquelas águas tépidas? Há mais de 300 anos não se via um exemplar dessa espécie tanto no Mediterrâneo quanto em todo o Oceano Atlântico. A caça às baleias, entre os séculos 17 e 18, dizimara todas elas. Chacina fácil, pois essa espécie de baleia, cujo nome científico é Eschrichtius robustus, tem como uma de suas características a extrema docilidade. Como mostra o vídeo abaixo, produzido pelo oceanógrafo Jean-Michel Cousteau, algumas delas inclusive se aproximam de botes e se deixam tocar pelas pessoas. Por isso foi enorme a surpresa dos biólogos israelenses do Immrac (Israel Marine Mammal Research & Assistance Center) ao confirmar o que uma série de observações há dias fazia supor: o enorme mamífero que singrava as águas ao largo da cidade de Herzlliya era realmente um dos dez mil exemplares restantes da baleia cinzenta, que vive apenas no outro lado do mundo, no Oceano Pacífico.
Para chegar ao Mediterrâneo, essa baleia teria de percorrer cerca de 30 mil quilômetros, passando pelo sul da África. Impossível, ou extremamente improvável para uma espécie habituada a migrações anuais cuja distância não supera a metade disso. Assim, o biólogo Aviad Scheinin, do Immrac, formulou uma outra hipótese, agora tida como praticamente certa: “A baleia chegou até nós percorrendo uma nova rota no Ártico, a da passagem noroeste: a língua de mar que costeia o Alasca e o Canadá setentrional e que está tornando praticável a navegação por causa do progressivo derretimento do gelo da calota polar. Já há três ou quatro anos, durante o verão, a importante redução do gelo permite o trânsito de grandes navios. E, portanto, permite também a passagem de cetáceos”. A baleia vista e fotografada no Mediterrâneo é um exemplar adulto, com cerca de doze metros de comprimento e peso ao redor de vinte toneladas. O mamífero parecia em boas condições de saúde, apenas um tanto magro, coisa normal após um percurso tão longo.
A baleia cinzenta vive a maior parte do tempo no Oceano Pacífico norte, próximo ao Alasca. Quando deve dar à luz os próprios filhos, e para os ritos de acasalamento, ela migra para o sul, costeando os Estados Unidos em busca de águas mais quentes, até chegar ao litoral da Califórnia e do Novo México. Trata-se então de uma migração anual de 15 mil quilômetros, ida e volta. Nunca antes, no entanto, um exemplar tinha costeado a América do Norte para chegar ao Atlântico. Durante todo o século passado, sua sobrevivência esteve muito comprometida e ameaçada inclusive no Oceano Pacífico. Em 1946, o número de exemplares era tão reduzido – poucas centenas de baleias restavam – a ponto de levar a comunidade internacional a assinar um tratado proibindo a sua caça. Desde então, o número de exemplares subiu e hoje calcula-se que existam cerca de dez mil baleias cinzentas no Pacífico.
Nos últimos anos, uma nova corrida às baleias cinzentas foi desencadeada, porém apenas para fotografá-las. O exemplar observado em Israel pode não ser o único, já que outras baleias da espécie podem seguir ou já ter seguido a mesma rota e estarem agora nadando em águas atlânticas. Pode-se assim formular a hipótese de que a Eschrichtius robustus possa novamente repovoar esse oceano. O lado escuro da medalha é o fato de que a causa do derretimento do gelo ártico é o aquecimento global. Uma segunda prova do aquecimento global no Atlântico norte é a presença de grandes quantidades de plâncton, situação que não se verificava há pelo menos 800 mil anos. Explica Katja Philippart, do Royal Netherlands Institute of Sea Research: “A abertura da passagem nordeste acarreta implicações importantíssimas para a salinidade e a química das águas dos oceanos. Por enquanto, não podemos dizer se essas consequências serão sempre positivas, como no caso do retorno de espécies desaparecidas. Com certeza, estamos assistindo a mudanças rapidíssimas, que devem ser mantidas sob controle”.
Assista ao vídeo “A corrida de obstáculos da baleia cinzenta”, do naturalista francês Jean-Michel Cousteau:
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