Por: Luis Pellegrini
Fonte: www.luispellegrini.com.br
Se olharmos para trás, não encontraremos motivos para estarmos tranquilos: a história nos mostra que todas as civilizações, algumas antes, outras depois, a um certo ponto do seu desenvolvimento implodiram. Algumas por fatores externos, como uma epidemia ou um cataclisma; outras por fatores que nunca foram bem esclarecidos, como a dos indígenas moche, civilização do Novo Mundo (na região onde hoje fica o Peru) que foi praticamente varrida do mapa ao que parece por uma série de desastres naturais: terremotos, secas prolongadas e aluviões causados pelo fenômeno climatológico conhecido como El Niño.
Com muita frequência, no entanto, foram os próprios homens a causar o fim da sua civilização. E aqui a questão fica mais complicada: com efeito, pertence a quem detém o poder de decidir as regras, impedir que se atinja um ponto de não retorno. Quais são os fatores que levam a civilização a correr um grande risco? Algumas disciplinas nos ajudam a identificá-los: a matemática, a ciência e a história.
Fatores de risco
Safa Motesharrei, um estudioso de ciência dos sistemas da Universidade de Maryland, usou modelos informatizados para analisar os mecanismos que tornam uma civilização mais ou menos sustentável. Segundo resultados que ele e seus colegas publicaram em 2014, e que a BBC de Londres retomou recentemente, existem na atualidade dois fatores fundamentais de crise: a ecologia e as desigualdades econômicas.
Para uma crise potencial, o fator “ecologia” parece decisivo. Mas que coisa significa o termo ecologia? Um aumento excessivo da população mundial, o esaurimento dos recursos naturais, como a água, as terras cultiváveis e as florestas. Mas também as mudanças climáticas, que levam inteiras regiões do planeta à desertificação e às consequentes migrações de populações que partem em busca de outros lugares onde possam viver: quando vários desses fatores acontecem ao mesmo tempo, as probabilidades de que uma civilização sobreviva são iguais a zero.
Também uma cultura que admite um excesso de desigualdade social – como é o caso da nossa – está condenada à implosão. Se as elites empurram a sociedade na direção da instabilidade, entregando à fome e à miséria inteiras zonas do planeta, a espiral descendente é inevitável. No momento, no nosso planeta, as disparidades são muito significativas: cerca de 10% da população consome e depaupera os recursos da Terra tanto quanto os restantes 90%. Cerca de metade da população mundial vive com menos de 3 dólares ao dia.
Otimistas e pessimistas
Parece, segundo opinam alguns cientistas, que ainda estamos em uma fase de transição. Nossa civilização ainda consegue tolerar por um certo período aquilo que os estudiosos definem como carrying capacity (capacidade de carga). Mas não para sempre: se a capacidade de carga será demasiado longa, o colapso se torna inevitável.
“Se fizermos escolhas racionais para reduzir fatores de risco como a desigualdade, o crescimento excessivo da população, a taxa de consumo das reservas naturais e a da poluição – todas elas coisas perfeitamente factíveis – poderemos evitar o colapso e nos estabilizarmos numa trajetória sustentável”, afirma Motesharrei: “mas não podemos esperar muito para tomarmos essas decisões”.
Os mais pessimistas, no entanto, consideram que tais decisões superam as nossas capacidades (políticas e psicológicas) e que é exatamente a questão climática que se mostrará decisiva. Isso é o que afirma Jorgen Randers, professor emérito de estratégia climática na BI Business School (Noruega) e autor do importante ensaio “2052: Uma previsão global para os próximos 40 anos”. A visão do biólogo e historiador norte-americano Jared Diamond é ainda pior. Catedrático de geografia na Universidade da Califórnia, ele estuda há anos os processos de colapso das civilizações do passado para encontrar os meios de evitar o colapso da nossa civilização. Na sua opinião, ainda temos apenas 23 anos para encaminhar as soluções, e depois disso será o fim. O nosso prazo de validade portanto vai até 2040…
O caso da Roma Antiga
A queda do Império Romano pode nos ensinar alguma coisa? Segundo os estudiosos, sim. No final dos anos 100 antes de Cristo, os romanos tinham se espalhado e dominavam todo o Mediterrâneo. Segundo muitas opiniões, deveriam ter parado ali, mas naqueles tempos as coisas para eles andavam tão bem que quiseram expandir suas conquistas também através das vias terrestres. Mas, enquanto o transporte marítimo era econômico, o terrestre era lento e muito caro. Acabaram desse modo por superar os limites do equilíbrio econômico-financeiro do império. Roma conseguiu manter a sua “capacidade de carga” durante mais quatro séculos, mas as repercussões do desequilíbrio fizeram-se sentir no tempo, até explodir no século 3 depois de Cristo.
Manter o império tornara-se, com efeito, extremamente oneroso. O exército exigia muitíssimos financiamentos e a inflação era galopante. Não apenas. Para complicar tudo havia também uma organização burocrática muito ineficiente: as províncias necessitavam de estruturas, tribunais (como acontece hoje no Brasil, os processos demoravam anos), espaços públicos. Em outras palavras, Roma precisava de muito dinheiro, e as moedas eram cada vez mais escassas no interior dos cofres públicos… No final, o império não mais pode se permitir um sistema a tal ponto complexo, e ele implodiu, deixando o campo aberto às ondas migratórias. Naquele ponto, porém, para a antiga e articulada civilização romana, já não havia mais nada a fazer, e o seu colapso tornou-se inevitável.
Qualquer semelhança e analogia com o que sucede à nossa civilização moderna não é mera coincidência. É a pura lógica da história.
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