Por: Luis Pellegrini
Fonte: www.luispellegrini.com.br
A partir do final dos anos 30 do século passado, milhares de cidadãos judeus residentes na Alemanha e nos territórios ocupados pelo Terceiro Reich procuraram todos os meios para fugir dos horrores da loucura nazista. O destino ambicionado era sobretudo a América, em particular os Estados Unidos, onde poderiam viver longe da ameaça nazista.
Entre esses desesperados estava também Anne Frank, a jovem alemã autora do famoso “Diário”, que morreu com apenas 15 anos no campo de concentração de Bergen-Belsen.
Mas, como revelou em 2007 o historiador Richard Breitman, Anne Frank e sua família, bem como dezenas de milhares de outros judeus poderiam ter se salvado se os Estados Unidos não lhes tivessem negado o visto de entrada no país.
Otto Frank, pai de Anne, fez várias solicitações de asilo aos Estados Unidos em 1938 e 1941, mas os seus pedidos sempre foram negados por causa das políticas restritivas quanto a imigração impostas pelo governo norte-americano naqueles anos sombrios do conflito.
Objetivo declarado do então Presidente Franklin Delano Roosevelt era limitar o fluxo de estrangeiros que chegavam, para “defender a segurança nacional durante a guerra”. Agora, Donald Trump faz dele essas palavras.
Anne nasceu em 1929 em Frankfurt e se transferiu para Amsterdam com a família em 1933. Otto, seu pai, encontrara uma oportunidade de trabalho nessa cidade holandesa, escapando da pesada crise econômica que grassava na Alemanha e das primeiras perseguições que alertavam os judeus daquilo que estava por vir. No dia 30 de janeiro daquele ano Adolf Hitler tornara-se chanceler do Reich e para os judeus o horizonte estava carregado de nuvens escuras.
Invasão da Holanda selou o destino de Anne Frank
Para a família Frank, a Holanda significou o início de uma nova vida. Que, infelizmente, não durou muito: em 1o de setembro de 1939 a Alemanha ocupou a Polônia fazendo desencadear a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1940, chegou a vez da Holanda ser invadida, e de ser selado o destino de Anne Frank.
A jovem viveu escondida com a família, no sótão de uma casa, de 1942 a 1944, depois da invasão nazista da Holanda e da implantação das leis raciais.
Nesse período, Anne escreveu em holandês um diário e alguns contos e fábulas, antes de ser deportada. O diário, publicado em 1947 pelo pai, Otto Frank – o único da família que sobreviveu aos campos de concentração – é um excepcional documento humano da reclusão, das ansiedades e das esperanças de uma adolescente no contexto trágico do extermínio durante a Segunda Guerra Mundial.
“Eram continuamente emanadas leis antissemitas que limitavam gravemente a nossa liberdade”, escreveu Anne em 20 de junho 1942. “Os judeus deviam trazer costurada nas roupas a estrela de Davi; os judeus deviam entregar as bicicletas; os judeus não podiam subir nos bondes; os judeus não podiam andar de automóvel, nem mesmo nos carros privados; os judeus só podiam fazer compras entre as 15 e as 17 horas; os judeus só podiam frequentar cabeleireiros judeus; os judeus não podiam sair às ruas das 20 horas até as 6 horas da manhã; os judeus não podiam frequentar teatros, cinemas e outros locais de divertimento”.
O último trecho do Diário de Anne Frank foi escrito no dia primeiro de agosto 1944. Em 4 de agosto a Gestapo descobriu e invadiu o esconderijo secreto da família. Foi o começo o fim. Anne morreu em março de 1945.
O drama do navio Saint Louis
A família Frank não foi, no entanto, a única a sofrer as consequências das portas norte-americanas que lhes foram fechadas. Em maio de 1939, com efeito, o Saint Louis, um navio de cruzeiro com mais de 900 judeus a bordo zarpou das costas da Alemanha em direção a Cuba. Chegado ao largo de Havana, o navio teve seu ingresso ao porto impedido pelas autoridades cubanas. Rumou então para a Flórida, mas também ali a nave foi recusada, apesar das súplicas que os passageiros enviaram diretamente ao Presidente Roosevelt.
O Saint Louis, assim sendo, voltou à Europa onde, segundo relatos, cerca de 250 passageiros foram mortos pelas mãos dos sequazes de Hitler.
O único filme de Anne Frank
Este é, ao que se saiba, o único filme da jovem judia morta no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945, aos 15 anos. Anne Frank aparece apoiada no peitoral da janela de sua casa em Amsterdam, em 1941, durante a passagem de dois recém-casados. As imagens foram feitas quando a família Frank ainda estava escondida.
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