Por: Luis Pellegrini
Fonte: www.luispellegrini.com.br
Tem gente que o compara a uma nevasca submarina, outros a uma queima de fogos de artifício no fundo do mar: na verdade, trata-se de um dos mais complexos e difíceis de documentar fenômenos de acasalamento animal.
Todos os anos, entre outubro e dezembro, a Grande Barreira de Coral desencadeia esse processo de reprodução de massa sincronizado, no qual as ramificações dos bancos de coral liberam gametas masculinos e femininos (esperma e óvulos).
A longa noite de loucuras
A grande “desova” acontece durante alguns dias, e pode durar até uma semana. A simultaneidade do mega evento, cujas proporções são muito vastas, amplia a possibilidade de fertilização. Tudo acontece somente na escuridão da noite, após uma fase de Lua Cheia e apenas quando a temperatura da água subiu o suficiente para garantir a maturação dos gametas no interior dos corais adultos. Também o nível das marés e a salinidade da água parecem ter um papel importante no evento.
Os especialistas a chamam de “noite dos corais”: o vídeo que mostramos ao final da matéria acaba de ser girado e deverá fazer parte de um documentário dirigido pelo grande naturalista inglês David Attenborough. Ele dá uma boa ideia do que acontece quando os corais, que parecem ser tomados por algum tipo de loucura, decidem se reproduzir.
Os biólogos marinhos conseguem agora prever a ocorrência do fenômeno com aproximação de meia hora, e é isso que possibilita aos cinegrafistas estarem a postos nos locais com suas câmeras ligadas. Trata-se no entanto de um fenômeno de larga escala, que não acontece no mesmo instante para cada uma das inúmeras áreas da Barreira. Ela hospeda corais de diversas espécies, e tem uma superfície quase igual à do Estado de São Paulo, com um comprimento de 2300 quilômetros.
Uma onda de vertigem contagiosa
As partes internas do reef – palavra inglesa usada internacionalmente para se referir a uma barreira de coral – se reproduzem geralmente de uma a seis noites após a Lua Cheia de outubro; as partes mais externas preferem esperar o plenilúnio seguinte, se reproduzindo entre os meses de novembro e dezembro. Do encontro entre os dois gametas, o feminino e o masculino, têm origem as larvas (plânulas) que flutuam por algum tempo na água, antes de descerem para se fixar no fundo marinho. Se encontram boas condições e uma superfície rica de algas, iniciarão no local uma nova colônia.
O evento atrai muitíssimos peixes e outros animais que se alimentam de plâncton. Este ano, em vários pontos da Barreira de Coral australiana, ele foi monitorado por equipes de cientistas interessados em saber como os danos sofridos pela parte norte da Barreira, mais duramente atingida pelo processo de branqueamento (bleaching) se reflete sobre as novas larvas. O branqueamento, provocado sobretudo pela poluição e pelo aumento da temperatura das águas, é responsável pela destruição de muitos bancos de corais de áreas da Barreira.
Vídeo: A grande desova dos corais no norte da Austrália (2016). Veja de preferência em tela cheia e com o som um pouco mais alto, pois a trilha sonora do vídeo é muito bonita.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247