A floresta no quintal. Como cultivar uma delas para você

  Shubhendu Sharma cria métodos de florestação que tornam muito mais fácil plantar e manter miniflorestas riquíssimas em biodiversidade. Na foto acima, antes e depois: O terreno vazio, e 20 meses após a intervenção de Shubendu Sharma. 

 
Shubhendu Sharma cria métodos de florestação que tornam muito mais fácil plantar e manter miniflorestas riquíssimas em biodiversidade. Na foto acima, antes e depois: O terreno vazio, e 20 meses após a intervenção de Shubendu Sharma. 
  Shubhendu Sharma cria métodos de florestação que tornam muito mais fácil plantar e manter miniflorestas riquíssimas em biodiversidade. Na foto acima, antes e depois: O terreno vazio, e 20 meses após a intervenção de Shubendu Sharma.  (Foto: Luis Pellegrini)


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Outro ângulo de Sharma em meio a uma floresta de quintal de apenas 4 anos.

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Vídeo: TED- Ideas Worth Spreading

Tradução: Gislene Kucker Arantes. Revisão: Tainah Vieira

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Florestas não precisam ser reservas naturais longínquas, isoladas do convívio humano. Ao contrário, podemos cultivá-las onde estamos, até mesmo em cidades, até mesmo em nossos quintais. O eco-empreendedor Shubhendu Sharma cultiva miniflorestas, ultradensas e biodiversas com espécies nativas em áreas urbanas. Acompanhe, nesta palestra, a descrição que ele faz de como cultivar uma floresta de 100 anos em apenas dez e aprenda o que é preciso para entrar nessa festinha selvagem.

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Engenheiro industrial indiano, Shubhendu Sharma estava trabalhando na Toyota da Índia quando conheceu um japonês especialista em florestas chamado Akira Miyawaki.  Esse especialista tinha conseguido plantar uma inteira floresta na parte vaga do terreno de uma fábrica, usando uma metodologia que ele mesmo criara para fazer que uma floresta cresça dez vezes mais rápido do que o normal. Fascinado, Sharma passou a estudar com Miyawaki e, logo depois, fez crescer sua própria floresta num pedacinho de terra situado atrás de uma casa.

 

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Antes e depois. As duas fotos o terreno ao lado de um prédio de escritórios, e como ficou a cerca viva após apenas 7 meses do plantio.

 

Hoje, sua empresa Afforestt promove um método padronizado de semeadura densa, de crescimento rápido, de florestas nativas em terrenos exíguos. Esse método possibilita ter até 300 árvores crescendo em uma área pequena quanto o espaço necessários para se obter seis vagas para estacionar automóveis. E o que é melhor: por um preço equivalente ao de um iPhone.

Afforestt já ajudou a criar florestas em residências, escolas e fábricas. Seu fundador, Shubhemdu Sharma, diz que as vantagens de se ter uma floresta no quintal são muitas, começando com um sensível incremento da qualidade do ar até o aumento da biodiversidade. Sem falar que essas pequenas florestas podem inclusive produzir bons frutos que irão enriquecer sua mesa.

 

Vídeo: Como cultivar uma floresta no quintal

 

 

Tradução integral da palestra de Shubendhu Sharma no TED:

 

Esta é uma floresta feita pelo homem. Pode alcançar muitos e muitos hectares, ou poderia caber em um espaço pequeno, tão pequeno como seu jardim de casa. Cada uma dessas florestas tem apenas dois anos. Eu tenho uma floresta no quintal da minha casa. Ela atrai muita biodiversidade.

Canto de pássaro.

Ouço isso toda manhã ao acordar, como uma princesa da Disney.

Sou um empreendedor que promove a criação dessas florestas profissionalmente. Ajudamos fábricas, fazendas, escolas, lares, resorts, edifícios de apartamentos, parques públicos e até mesmo um zoológico a ter essas florestas. Uma floresta não é um pedaço isolado de terra onde os animais convivem. Uma floresta pode ser uma parte integrada com a experiência urbana. Uma floresta, para mim, é um lugar tão denso de árvores que você não consegue penetrar. Não importa quão grandes ou pequenas as árvores sejam.

 

Canteiro de mudas produzidas pela empresa Afforest.

 

A maior parte do mundo em que vivemos hoje foi floresta. Antes da intervenção humana. Então construímos as nossas cidades nessas florestas, como São Paulo, esquecendo que também fazemos parte da natureza, assim como 8,4 milhões de outras espécies no planeta. O nosso habitat parou de ser um habitat natural, mas não mais para alguns de nós. Alguns outros e eu criamos hoje essas florestas profissionalmente, em qualquer lugar e em todo lugar.

Eu sou um engenheiro industrial. Sou especialista na fabricação de automóveis. Em meu trabalho anterior, na Toyota, aprendi a converter recursos naturais em produtos. Para dar um exemplo, extraímos o látex da seringueira, convertemos em borracha crua e fabricamos um pneu, o produto final. Mas esses produtos nunca mais podem voltar a ser recursos naturais. Os elementos são separados da natureza e convertidos em um estado irreversível. É a produção industrial.

Por outro lado, a natureza trabalha na direção oposta. O sistema natural produz por meio da reunião de elementos, átomo a átomo. Todos os produtos naturais se tornam recursos naturais novamente. Isso é algo que aprendi ao fazer uma floresta no quintal de casa. E foi a primeira vez que trabalhei com a natureza, em vez de trabalhar contra ela. Desde então, criamos 75 florestas em 25 cidades no mundo. Toda vez que trabalhamos em um novo local, percebemos que cada elemento necessário para criar uma floresta está disponível a nossa volta. O que precisamos fazer é reunir esses elementos e deixar a natureza atuar.

Para criar uma floresta, começamos pelo solo. Ele é tocado, sentido e até mesmo provado para identificar quais propriedades estão ausentes. Se o solo é feito de partículas pequenas, ele se torna compacto, tão compacto, que a água não o atravessa e não se infiltra. Misturamos biomassa local disponível, que possa tornar o solo mais poroso. Agora a água pode penetrar. Se o solo não tiver a capacidade de reter água, misturaremos mais biomassa, um material absorvente como a turfa ou um biofertilizante, para que o solo retenha água e fique úmido.

Para crescer, plantas precisam de água, luz solar e nutrientes. E se o solo não tiver nenhum nutriente? Não podemos simplesmente adicionar nutrientes diretamente no solo. Seria o modo industrial. É ir de encontro à natureza. Em vez disso, acrescentamos micro-organismos no solo. Eles produzem os nutrientes no solo naturalmente. Eles se alimentam da biomassa que misturamos ao solo. Então tudo que precisam fazer é comer e se multiplicar. E à medida que crescem, o solo respira novamente, torna-se vivo.

Estudamos as espécies de árvores nativas do lugar. Como decidimos o que é nativo? Bem, tudo que existiu antes da intervenção humana é nativo. É uma regra simples. Examinamos um parque nacional para encontrar os remanescentes de floresta natural. Examinamos os bosques sagrados, ou florestas sagradas no entorno de templos antigos. Se não encontramos nada, vamos aos museus observar as sementes ou a madeira das árvores de tempos atrás. Pesquisamos pinturas antigas, poemas e literatura locais, para identificar as espécies arbóreas do local.

Após identificá-las, dividimos em quatro diferentes estratos: arbustivo, sub-arbóreo, arbóreo e dossel. Fixamos a razão de cada estrato, e então decidimos a porcentagem de cada espécie de árvore na mistura. Se criamos uma floresta frutífera, aumentamos a porcentagem de árvores frutíferas. Pode ser uma floresta floral, uma floresta que atraia muitos pássaros e abelhas, ou simplesmente uma floresta verde nativa.

 

A jovem floresta à direita da foto cresceu em apenas 20 meses, num terreno totalmente vazio e aparentemente árido.

 

Coletamos as sementes e germinamos os brotos. Nos certificamos de que as árvores do mesmo estrato não sejam plantadas lado a lado, senão lutarão pelo mesmo espaço vertical quando estiverem crescendo. Plantamos os brotos perto um do outro. Na superfície, espalhamos uma grossa camada de manta, para que quando haja muito calor, o solo permaneça úmido. Quando está frio, a geada fica apenas sobre a manta, então o solo continua a respirar quando estiver muito frio. O solo é muito mole, tão mole, que as raízes podem penetrá-lo facilmente, rapidamente.

De início, não parece que a floresta está crescendo, mas ela cresce sob a superfície. Nos primeiros três meses, as raízes atingem a profundidade de um metro. As raízes formam uma trama, segurando firmemente o solo. Micróbios e fungos vivem nesta rede de raízes. Se não há nenhum nutriente perto de uma árvore, esses micróbios vão buscar nutrientes para a árvore. Quando chove, como mágica, cogumelos surgem de um dia pra outro. Isso significa que abaixo do solo existe uma saudável rede de fungos.

Quando as raízes estiverem criadas, a floresta começa a crescer na superfície. Molhamos a floresta à medida que cresce pelos próximos dois a três anos. Queremos manter a água e os nutrientes do solo apenas para as árvores, por isso extraímos as ervas daninhas. Quando a floresta cresce, ela bloqueia a luz do sol. Por fim, a floresta fica tão densa, que a luz solar não atinge mais o solo. As ervas daninhas não crescem mais porque também necessitam de luz.

Neste estágio, cada gota d'água que cai na floresta não evapora para a atmosfera. A floresta densa condensa o ar úmido e retém a umidade. Gradualmente reduzimos e no final paramos de molhar a floresta. E mesmo sem molhar, o solo da floresta permanece úmido e às vezes escuro. Agora, quando uma folha cai no chão da floresta, ela começa a se decompor. A biomassa decomposta forma o humo, que é alimento para a floresta. Durante o crescimento da floresta, mais folhas caem na superfície, o que significa mais humo sendo produzido, o que significa mais alimento para a floresta crescer ainda mais. Essa floresta continua a crescer exponencialmente.

 

Sharma em meio a árvores de uma das suas florestas caseiras.

 

Uma vez constituídas, essas florestas vão se regenerar repetidas vezes, provavelmente para sempre. Numa floresta natural como essa, nenhum manejo é o melhor manejo. É uma festinha selvagem.

A floresta cresce como um coletivo. Se as mesmas árvores, as mesmas espécies, tivessem sido plantas independentemente, não cresceriam tão rápido. E é assim que criamos uma floresta de 100 anos de idade em apenas 10 anos.

Muito obrigado.

 

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