Um mergulho na Rússia profunda

Quando as máscaras caem, o País de Putin mostra seu lado miserável e arrogante



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Roberta Namour, de Moscou – Desembarque no aeroporto de Moscou, depois de uma passada pela encantadora cidade de São Petersburgo. Negociação com gestos para conseguir um táxi. Os atendentes do guichê não falam inglês, assim como o motorista, o pessoal da imigração, o serviço de informações… Valor combinado até o hotel, a três estações de metrô do centro (não existe taxímetro nessa terra): 2800 rublos, ou 70 euros, ou quase o salário médio da Rússia. Quase duas horas de trânsito para observar o que seria comprovado nos dias seguintes. A antiga União Soviética, de Trotsky e Stalin, é uma grande controvérsia.

Prédios altos que ocupam quarteirões inteiros lembram a penúria igualitária da época comunista. Já o McDonald’s em frente ao Kremlin parece caçoar de Lenin ainda imortalizado na Praça Vermelha. O comércio passou da escassez a abundância. Adeus as filas de espera. Em cada esquina, ao menos um mini-mercado de luxo. Salames alemães, queijos holandeses, congelados americanos, frutas exóticas. Cafés e restaurantes dignos de estrelas no Guia Michelin. Os russos se acostumaram em poucos anos a viver do bom e do melhor. E pagam muito caro por isso. Um simples almoço, sem sobremesa e bebida alcoólica, custa 1200 rublos, ou 30 euros. Nas casas noturnas, a consumação mínima para os homens é de 3 000 rublos – 75 euros. Mas os clubes privês cobram de 10 mil a 40 mil euros pela carta de membro. Esse é um universo a parte, o dos novos russos ostentatórios e arrogantes, protegidos por guarda-costas. A massa restante é submetida a um Face Control que descarta com apenas um leve sinal negativo de cabeça a entrada das pessoas que não estiverem a altura do lugar. O difícil é entender o critério. Loiras altas com micro vestidos podem ser tão rejeitadas quanto nerds com camisa xadrez para dentro da calça jeans. E o pior, ninguém parece se incomodar com o sistema - principalmente aqueles que são tirados da fila e que depois saem com a cabeça ergida em busca de outro controle de qualidade.

A elegância vestimentária na rua é uma outra surpresa que desmonta mais um clichê russo. O cheiro forte dos não adeptos ao banho diário contrastam com o eco do estalar dos saltos altos das russas no metrô. As distâncias entre as baldeações são enormes, mas nada as fazem perder a elegância equilibrada em sete centímetros – ou mais. A galeria Gum, com Dior, Cartier, Hermès, Kenzo e Louis Vuitton, disputa a atenção dos visitantes da colorida igreja de São Basílio, símbolo da antiga arquitetura russa.  

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Moscou é uma das três cidades mais caras do mundo e a com o maior número de multimilionários do planeta - título que tirou de Nova York, de acordo com a revista americana Forbes. A cidade, que passou em apenas 20 anos do cenário de uma capital do socialismo ao mais selvagem consumismo capitalista, acolhe 79 dos 101 multimilionários russos citados na lista. Mas a Rússia, ao lado da China e da Lituânia, também é o país recordista dos suicídios, segundo a Organização Mundial da Saúde. Os russos se suicidam duas vezes mais do que os franceses e quase três vezes mais do que os americanos. Desde a época soviética, o valor da aposentaria diminuiu pela metade – hoje de 28% sobre o último salário. Falta de dinheiro, alcoolismo e sentimento de abandono. Em teoria, a medicina russa é gratuita, mas a lista de medicamentos fornecidos pelo governo é restrita. Frequentemente os médicos aconselham os pacientes a optar por tratamentos pagos mais eficazes. Os idosos se vêem obrigados a continuar a trabalhar. Eles estão por toda parte. Aos 70 anos são gardiões de museu, vigilantes de escadas rolantes nas estações de metrô, garis ou motoristas de ônibus.

Para um País que tem a pretensão de assumir a liderança das potências mundiais, problemas de base como esses deveriam ser uma prioridade. Mas Vladimir Putin, o todo poderoso primeiro-ministro russo, parece pensar apenas em maquiar a imagem externa para conquistar a confiança de investimentos estrangeiros.

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