Síndrome de Napoleão

Com popularidade em baixa na Frana, Nicolas Sarkozy tenta criar a imagem de lder global. A ltima dele: tropas francesas tomam o aeroporto da Costa do marfim



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Roberta Namour, de Paris - Por onde anda Nicolas Sarkozy? Nos últimos dias - desde a dura derrota da direita nas eleições locais - quem passa pelos cafés do Quartier Latin, refúgio dos intelectuais de Paris, não ouve outra pergunta. Os candidatos do Partido Socialista (PS) obtiveram 35,74%, ultrapassando a governista União para um Movimiento Popular (UMP, direita) com 20,32%. Em terceiro lugar, ficou o Frente Nacional (FN, extrema-direita) com 11,63%. Após o revés sofrido na disputa municipal em 2008 e na regional no ano passado, o chefe de estado anda no mais baixo nível de popularidade e se manteve prudentemente à distância da campanha de seu partido nas eleições locais. Sarkozy fez de tudo para passar a ideia de que o mundo precisava muito mais dele como o líder da intervenção militar na Líbia do que dentro de casa. Afinal, ele é o “presidente da quinta economia mundial“. E mais recentemente, foi o primeiro presidente estrangeiro a visitar o Japão depois da catástrofe de 11 de março – ganhando pontos com os japoneses. Na ocasião, defendeu a criação de normas internacionais de segurança nuclear. A última de Sarkozy aconteceu neste domingo, quando 300 soldados franceses tomaram o Aeroporto da Costa do Marfim, onde uma sangrenta guerra civil matou mais de mil pessoas em apenas uma semana.

Mas o repentino excesso de empenho em se tornar um líder global tem dado margem a outras interpretações – desde a época de Charles De Gaulle, a França não tinha um estadista com amplo trânsito internacional no poder. Um ano antes da eleição presidencial, o resultado obtido no domingo passado ameça explodir o partido do governo, a UMP, e afastar de vez seu status de candidato natural à corrida de 2012.  Estaria Sarkozy tentando fugir ou conquistar na marra o respeito da França nos últimos minutos do segundo tempo ?

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, os neoconservadores americanos decidiram acabar com o regime de Saddam Hussein.  Na época, o então presidente francês Jacques Chirac disse ao Conselho de Segurança que a França não concordava em participar da coalizão. A decisão fez alguns membros do alto escalão do Ministério da defesa se arrependerem posteriormente. Hoje, as cartas geopolíticas mudaram e, querendo ou não, a França se tornou um dos principais alvos. Segundo Arnaud Kalika, professor da universidade Paris Panthéon-Assas, a ideia de um “Grande Oriente Médio“ se materializa atualmente de uma forma inesperada, não mais no eixo Iraque – Irã. Uma sequência de conflitos fizeram tremer o Mediterrâneo na região sul da França. A Tunísia botou para correr ben Ali e o Egito rompeu com a era de Moubarak. Resta agora a Líbia e a possibilidade de um efeito dominó atingir a Argélia, o Marrocos, o Yémen, o Bahreïn e até a Palestina. “Não cabe mais a França continuar com seu papel secundário, como fez no Iraque“, diz Kalika.

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Nicolas Sarkozy foi criticado publicamente pela postura blasé da França diante das recentes revoltas na Tunísia e no Egito. Agora, parece usar o problema na Líbia para se mostrar mais pró-ativo. Com uma rapidez impressionante, ele tomou partido pela oposição de Kadhafi e partiu para um ataque aéreo antes mesmo de conquistar o apoio da ONU. O problema é que a intensidade com que está lidando com a questão tem gerado sérias controvérsias no País e principalmente na Europa. A ausência da Alemanha ao lado da França e da Inglaterra mostra uma profunda divergência entre os parceiros europeus. Algumas vozes dizem que Paris mergulhou numa operação onde não existem objetivos de guerra definidos. Além disso, até agora ninguém conhece claramente o pedigree dos revolucionários líbios.  Uma parte é suspeita de ter uma ligação com a Al-Quaeda, de Bin Laden.

A pressa do presidente francês pode se explicar por duas razões. A primeira seria mostrar as nações do Mediterrâneo quem é que manda na região. E a outra é simplesmente reconquistar seu brilho e reverter a queda de popularidade dentro de casa, visando sua reeleição.  Nada garante, porém, que isso irá acontecer. Para a editorialista americana Anne Applebaum a atual situação na França e na Líbia estão intimamente ligadas. Os socialistas franceses triumfaram nas elições locais na semana passada. No mesmo momento, os rebeldes líbios consquistaram Belga e Ras Lanouf. Na França, os olhares já se viraram para as eleições presidenciais de 2012. Na Líbia, os rebeldes já visam Tripoli. “Vocês podem pensar que esses fatos não estão ligados, mas eles estão“, afirma Anne.

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O presidente francês também encontrou no Japão um cenário propício para mostrar um lado seu ainda pouco explorado : a generosidade – ainda que de uma forma ambígua. Sarkozy ofereceu aos japoneses o “savoir-faire“ da França em escoamento de água radioativa, uma condição indispensável antes da reativação da central de Fukushima. Paris se prepara igualmente a enviar robôs capazes de assumir as funções humanas em locais de difícil acesso por causa do alto nível de radiação. Esse problema de segurança permitiu, mais uma vez, ao presidente promover os reatores de terceira geração EPR, elaborados pela francesa Areva.

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