Sinais políticos no Panamá

É curioso notar como a direita latino-americana age sistematicamente para se manter no poder atacando as instituições e asfixiando a oposição, sem que isso seja alvo de críticas por parte dos meios de comunicação



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A crise política no Panamá, iniciada com a ruptura entre o presidente, Ricardo Martinelli, e seu vice, Juan Carlos Varela, se agravou neste início de 2012. Em uma manobra para minimizar o poder da oposição, Martinelli teria pressionado o prefeito da capital, Bosco Ricardo Vallarino, a renunciar ao cargo, dando lugar a uma aliada —a ministra Roxana Méndez.

A Prefeitura da Cidade do Panamá era o último reduto de poder do Partido Panameñista, legenda de Varela, que deixou a base de apoio do governo em agosto do ano passado e passou a integrar o bloco oposicionista. Varela acusou o presidente de ameaçar prender Vallarino caso este não abandonasse o cargo. O prefeito saiu alegando “problemas de saúde”.

A fratura na coalizão de direita que comanda o país desde 2009 deu novo fôlego às pretensões do presidente de se manter no poder. Assim como Álvaro Uribe fez na vizinha Colômbia, Martinelli tenta emplacar, de forma dissimulada, uma reforma constitucional que permita sua reeleição, ou que pelo menos reduza o prazo em que o presidente pode tentar se recandidatar ao mesmo cargo.

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Em outra frente, Martinelli, membro do partido CD (Cambio Democrático), busca aumentar o número de juízes indicados pela Presidência na Suprema Corte, o que é visto pela oposição como parte da estratégia para cooptar as instituições públicas ao projeto situacionista para as eleições de 2014.

Representante da elite econômica do Panamá, Martinelli tem colocado em prática um programa de governo conservador, baseado na famigerada agenda neoliberal, que alia a abertura econômica radical ao incentivo de investimentos estrangeiros. Um receituário que vai na contramão dos avanços socioeconômicos que têm dominado a cena política na América Latina. No entanto, essa política panamenha tem levado a um aumento vertiginoso da dívida externa do país. Nós, no Brasil, já vimos onde essa receita vai dar.

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A ruptura entre Martinelli e Varela não ocorreu, a priori, devido a uma divergência ideológica entre presidente e vice-presidente. O segundo também representa grupos hegemônicos nos setores de agricultura e produção de rum. Mas essa pode ser uma oportunidade para o país retornar a um projeto político progressista, aproximando-se dos demais governos latino-americanos.

 

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Entre 2004 e 2009, o país viveu uma fase de crescimento sustentável durante o mandato de Martín Torrijos, do PRD (Partido Revolucionário Democrático), principal força política de esquerda do país. Martín é filho do general Omar Torrijos, líder máximo da revolução panamenha de 1968 e responsável pelo acordo que pôs fim ao controle dos EUA sobre o Canal do Panamá.

Após a queda do prefeito da capital, Varela convocou as legendas de oposição a formarem uma frente em defesa da democracia no país. Ele, que já anunciou sua candidatura à Presidência, vem se aproximando dos partidos de esquerda, como o Partido Popular, e também se aproxima do PRD (Partido Revolucionário Democrático).

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É curioso notar como a direita latino-americana age sistematicamente para se manter no poder atacando as instituições e asfixiando a oposição, sem que isso seja alvo de críticas por parte dos meios de comunicação conservadores e dos EUA.

Estes não se fazem de rogados quando líderes progressistas, como Hugo Chávez, na Venezuela, Evo Morales, na Bolívia, e Daniel Ortega, na Nicarágua, promovem reformas com grande apoio popular. Reformas estas que formaram a base de suas plataformas de governo, escolhidas democraticamente pelo povo.

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Devemos, portanto, continuar acompanhando com atenção o desenrolar dos acontecimentos e os sinais políticos no Panamá, dando suporte à manutenção da democracia e aos interesses do povo panamenho. Um governo mais à esquerda contribuiria decisivamente para uma aproximação maior com os demais países latino-americanos, inclusive o Brasil, e para adoção de estratégias comuns de desenvolvimento. É o que esperamos.

José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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