Relatores da ONU veem crime de guerra de Israel em ataques contra campo de refugiados de Jenin
Nesta quarta-feira, o exército israelense anunciou o fim de sua operação militar na Cisjordânia ocupada, na qual 12 palestinos e um soldado israelense foram mortos
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RFI - Esses "foram os ataques mais violentos na Cisjordânia desde a destruição do campo de Jenin em 2002", disseram os dois relatores da ONU em um comunicado. Seu mandato é estabelecido pelo Conselho de Direitos Humanos, mas eles não falam em nome da organização.
"As operações das forças israelenses na Cisjordânia ocupada, que matam e ferem gravemente a população ocupada, destróem suas casas e infraestrutura e deslocam arbitrariamente milhares de pessoas, constituem violações flagrantes do direito internacional e das normas relativas ao uso da força e podem constituir um crime de guerra", disseram.
Nesta quarta-feira, o exército israelense anunciou o fim de sua operação militar na Cisjordânia ocupada, na qual 12 palestinos e um soldado israelense foram mortos.
A operação, que começou na segunda-feira e foi a maior na Cisjordânia em vários anos, mobilizou centenas de soldados, drones e escavadeiras do exército na cidade de Jenin e no campo de refugiados adjacente, um reduto de grupos armados palestinos.
Cerca de 4.000 palestinos fugiram do campo de Jenin na noite de segunda-feira após os ataques aéreos fatais, segundo a relatora da situação dos direitos humanos nos territórios palestinos ocupados desde 1967, Francesca Albanese, e a relatora dos direitos humanos de pessoas deslocadas internamente, Paula Gaviria Betancur.
Aumento da violência
Segundo as especialistas, os ataques israelenses não estão baseados no direito internacional e "constituem punição coletiva da população palestina".
"Os palestinos no Território Palestino Ocupado são pessoas protegidas pelo direito internacional, com garantia de todos os direitos humanos, incluindo a presunção de inocência", enfatizaram, assegurando que "não podem ser tratados pela potência ocupante como uma ameaça à segurança coletiva".
O conflito israelense-palestino tem tido aumento acentuado das tensões após a posse, no final de dezembro, de um dos governos mais conservadores da história de Israel, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
No norte da Cisjordânia, houve alta da violência com uma recente onda de ataques a israelenses e violência antipalestina por parte dos colonos judeus. Desde o início do ano, ao menos 190 palestinos foram mortos e 26 israelenses.
O campo de Jenin, um "ninho de terrorismo"
A escolha do campo de refugiados de Jenin como alvo é, segundo Israel, estratégica para o combate contra o "terrorismo palestino".
Localizada no extremo norte da Cisjordânia, em uma região montanhosa próxima à fronteira com Israel, Jenin tem um grande campo de refugiados. Ali é o lar de cerca de 18.000 dos 760.000 palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas quando o Estado de Israel foi criado em 1948, o que os palestinos chamam de "Nakba", ou "catástrofe".
Nos últimos anos, o campo é frequente palco de combates entre Israel e grupos palestinos armados, a ponto de, para Israel, ter se tornado sinônimo da luta palestina contra o Estado judeu e um "centro terrorista".
Em 2002, durante a segunda intifada lançada após o colapso das negociações de paz supervisionadas pelos Estados Unidos, Israel cercou o campo por mais de um mês durante uma operação militar na Cisjordânia. Cinquenta e dois palestinos e 23 soldados israelenses foram mortos nos combates. Mais de 400 casas foram destruídas, de acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (Unrwa), e mais de um quarto da população ficou desabrigada.
Israel alerta para um número crescente de homens armados em Jenin e fala sobre a presença de importantes estoques de munição. Segundo o Estado hebreu, a cidade serve como centro de comando e preparação para ataques palestinos, além de fornecer um refúgio seguro para combatentes financiados pelo Hamas ou pela Jihad islâmica.
De acordo com Israel, mais de 50 ataques armados foram realizados desde o início de 2023 por homens de Jenin, e mais da metade da população local é afiliada a um dos movimentos palestinos armados.
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