‘Lukashenko foi essencial para fim do conflito na Rússia’, diz correspondente brasileira em Moscou

Ana Livia Esteves, da agência russa RIA Novosti, falou com exclusividade a Opera Mundi e ressaltou papel do presidente da Bielorrúsia na mediação entre Moscou e o Grupo Wagner

Alexandr Lukashenko
Alexandr Lukashenko (Foto: REUTERS)


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Victor Farinelli, OperaMundi - A crise no Sul da Rússia desencadeada após as ameaças do líder do Grupo Wagner PMC, Yevgeny Prigozhin, de retaliar Moscou por um suposto bombardeio aos seus acampamentos em Rostov-no-Don, teve seu fim, aparentemente, neste sábado (24/06), graças a um acordo mediado pelo presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko.

O Wagner é uma força paramilitar que vinha auxiliando o exército russo no conflito com a Ucrânia. A revolta iniciada nesta sexta-feira (23/06) levou o presidente russo Vladimir Putin a fazer um pronunciamento em rede nacional, acusando o líder do grupo de “traição”.

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Porém, horas depois, e após uma conversa com o próprio Putin, o presidente bielorrusso entrou em cena e contactou Prigozhin, com quem chegou a um acordo no qual o líder paramilitar teria aceitado deixar o comando do Grupo Wagner e se exilar em Minsk.

Opera Mundi conversou com a jornalista brasileira Ana Livia Esteves, correspondente da agência russa RIA Novosti, que contou com exclusividade os detalhes do acordo, além de relatar a tensão na capital do país durante todo o sábado.

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Opera Mundi: Em que consiste o acordo entre o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, e o presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, que aparentemente encerrou o conflito no Sul da Rússia?

Ana Livia Esteves: O presidente Lukashenko conseguiu um acordo com o Prigozhin, que em seguida anunciou que aquelas tropas que marchavam em direção a Moscou vão retroceder e retornar aos seus acampamentos em Lugansk.

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Entre os principais pontos do acordo está a ida do Prigozhin à Bielorrússia. Ou seja, ele deixará de estar no campo de operações e irá a Minsk, também para evitar seu processamento na Rússia. 

Recordemos que Prigozhin enfrentava processos iniciados pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia e pela Procuradoria Geral, que poderiam levá-lo a prisão, com uma pena de entre 12 a 20 anos.

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Ainda não está claro, se o Grupo Wagner vai continuar apoiando militarmente a Rússia, ou como isso foi alterado pelo acordo, mas vale lembrar que um dos motivos que desencadeou este incidente foi a vontade do governo russo de reestruturar o Wagner.

Semanas atrás, durante uma entrevista com correspondentes de guerra, o presidente Putin disse que seria preferível que os combatentes do Wagner fechassem contratos com o Ministério da Defesa, a fim de regularizar sua situação. E essa oferta pode continuar de pé. Apesar do processo contra o Prigozhin, os demais combatentes não sofreram nenhum tipo de acusação por parte do Estado russo.

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Como os soldados do Grupo Wagner reagiram ao acordo?

No momento em que o acordo foi selado, a coluna já estava a 200 quilômetros de Moscou, e nós ainda não temos vídeos que confirmam a retirada. Todos os vídeos publicados até agora mostram a coluna marchando em direção a Moscou e não o contrário.

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Estamos esperando essas imagens que confirmem que o acordo está sendo cumprido, seja a partir de correspondentes russos, seja através das mídias do Grupo Wagner.

Entretanto, nossos correspondentes em Rostov-no-Don afirmam que a situação no quartel-general do Sul está melhorando, com uma movimentação dos combatentes da Wagner que parece indicar uma retirada.

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Como é a situação em Moscou após o acordo?

Primeiro, é preciso enaltecer o papel do Lukashenko, que foi essencial neste momento, porque as autoridades de Moscou já estavam tomando precauções para uma eventual chegada da coluna à região Sul da cidade, o que inclui preparação de polícias e outras forças de segurança para proteger essa zona. Então, já havia uma expectativa de um possível ataque e esse acordo chegou na hora certa para evitar essa situação.

Ainda assim, a situação em Moscou ainda é de cautela. O regime de operação antiterrorista ainda está em vigor, e esse regime não foi imposto a nenhuma cidade russa desde 1999, na época da Guerra da Chechênia.

Ele amplia os poderes dos órgãos de segurança, que passam a ter direito, por exemplo, de confiscar veículos das pessoas para usar em operações, ou mesmo o direito de entrar nas casas e apartamentos, desativar comunicação por celular, restringir o movimento na cidade. Tudo isso continua em vigor, assim como a decisão que estabeleceu feriado na capital na segunda-feira (26/06), para que as pessoas não precisem ir ao trabalho, e assim evitar uma maior circulação de civis.

Como este conflito pode afetar a Operação especial na Ucrânia?

As ações lideradas pelo Prigozhin podem afetar as operações russas no front, que atravessam um momento muito delicado. Até agora, a contraofensiva ucraniana não obteve resultados significativos, mas as autoridades russas sempre dizem, reiteradamente, que a capacidade ofensiva de Kiev não acabou.

Aliás, há uma informação de que existem tropas ucranianas treinadas pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que chegariam ao campo de batalha neste fim de semana, talvez já tenham entrado hoje. Portanto, ainda há muito em disputa nessa contraofensiva, os próprios meios russos não estão cantando vitória.

Claro que, nesse cenário, ter que deslocar tropas do front para um conflito com o Grupo Wagner dentro do território russo seria complicadíssimo, e as autoridades russas não queriam iniciar uma situação que poderia levar a uma guerra civil.

Por isso, vimos durante o dia todo vídeos de figuras importantes do país, inclusive alguns ex-soldados do Wagner, com apelos aos que estão em Rostov para que deixem de seguir as ordens do Prigozhin e que sejam leais ao Putin.

Esses apelos das autoridades russas incluem declarações nas quais eles reconhecem a importância das ações do Wagner, por exemplo, para a libertação de Artyomovsk (antiga Bakhmut). Portanto, a estratégia russa não é a de acusar todos os combatentes do Grupo Wagner. A acusação é apenas contra o Prigozhin, que estaria atuando em função de seus interesses pessoais e posições políticas.

Como se iniciou o conflito em Rostov-no-Don?

Na noite desta sexta-feira (23/06), Prigozhin, alegou que o campo que seus soldados ocupavam na retaguarda teria sido atacado pelo Ministério da Defesa russo. Ele mostrou um vídeo em seu comunicado, mas a verdade é que esse vídeo não comprova se esse ataque teria mesmo acontecido. Não há crateras de mísseis, não se vê cadáveres tampouco. O Prigozhin assegura que morreram 2 mil pessoas no ataque e pelas imagens não é possível checar se isso aconteceu de fato.

Porém, o mais importante é que o Grupo Wagner também acusou o ministro de Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, de ter se deslocado até Rostov para dar a ordem e conduzir o ataque. Prigozhin também disse que seus soldados foram até essa cidade para capturar o ministro.

Vale lembrar que Rostov-no-Don é uma cidade muito importante na Rússia. Os brasileiros talvez lembrem que o Brasil chegou a jogar lá na Copa de 2018 (contra a Suíça, pela fase de grupos), mas ela é ainda mais importantes no contexto da guerra pela sua posição estratégica, próxima à fronteira com as regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporozhie e Crimeia.

Neste sábado pela manhã (24/06), o Grupo Wagner publicou vídeos onde se via o Prigozhin dentro do quartel-general do Sul, das Forças Armadas da Rússia, exigindo a presença do ministro Shoigu. Como esse pedido não foi atendido, ele iniciou uma marcha rumo a Moscou. Alguns meios russos chegaram a reportarar tiros dentro desse quartel-general de Rostov.

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