Jovens franceses demonstram crescente perda de interesse pelo sexo, mostra pesquisa
Segundo o levantamento, 43% dos jovens franceses com idades de 18 a 25 anos não tiveram relações sexuais no ano passado
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RFI - Um amplo estudo publicado em fevereiro pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) revelou que 43% dos jovens franceses com idades de 18 a 25 anos não tiveram relações sexuais no ano passado. A mesma pesquisa feita em 2015 mostrava um percentual de jovens bem menor nesta situação – 25%. As razões desse fenômeno são múltiplas, diferem de uma pessoa para outra, de acordo com as respostas dos entrevistados, mas o Ifop bate o martelo em relação a um aspecto: é uma tendência que vem se confirmando. A abstinência sexual entre os jovens, seja por escolha pessoal ou involuntária, vinha aumentando desde antes da pandemia de Covid-19.
Já uma sondagem publicada nessa quinta-feira (8) pela revista semanal Le Point, realizada no final de maio, mostra que 61% dos franceses, em geral, consideram importante ter relações sexuais com frequência. Nessa sondagem, denominada Cluster 17, chama a atenção que 68% das pessoas entrevistadas com mais de 75 anos disseram que era importante manter a atividade sexual, e um quarto delas afirmou que tinha tido relações sexuais na semana anterior à enquete.
Desde 1938, o Ifop publica levantamentos sobre o tema. As razões para o desinteresse dos jovens pelo sexo são múltiplas. Podem ir da ansiedade ecológica ao tempo gasto na internet com séries e redes sociais, exposição exagerada à pornografia, fator que pode gerar satisfação imediata, mas também alimentar a preguiça e diminuir o desejo, entre "n" outros motivos. Porém, em entrevista à Le Point, o diretor de pesquisas do Ifop François Kraus, também pesquisador na renomada Fundação Jean-Jaurès, é categórico: estudos evidenciam que excesso de atividade nas redes e na internet, até tarde da noite, provoca diminuição do desejo. Mas não do prazer. As curtidas e likes que se recebe nas redes sociais acabam gerando autossatisfação, diz esse pesquisador. É o contato físico, carnal, que deixou de ser relevante para uma parcela dos jovens, mesmo nessa faixa etária em que se sabe que os hormônios estão a mil por hora.
Os Estados Unidos produzem uma quantidade razoável de estudos periódicos na área da sexualidade e costumam ter resultados citados ou comparados ao que se observa na França. Um aspecto que distingue os dois países é que a sociedade francesa não tem mentalidade puritana, como nos EUA, embora a religião ainda exerça uma certa influência sobre os franceses de diferentes orientações religiosas.
A França foi o terceiro país que mais consumiu filmes pornôs em 2022, atrás dos EUA e do Reino Unido – o Brasil aparece em 10° lugar, de acordo com levantamento da plataforma Pornhub.
Especialistas franceses dizem que o acesso abundante a imagens pornográficas produz efeitos paradoxais, que podem diminuir a libido, em vez de estimular. Para algumas pessoas, é garantia de prazer imediato a qualquer hora, com masturbação, dispensando namorado, ficante ou parceiro de ocasião. Para outras, alimenta uma repugnância ao sexo.
Os psiquiatras relevam um outro aspecto: a perda do desejo sexual é um dos principais sintomas da depressão e de outras doenças mentais, o que também está em alta entre os jovens franceses. Segundo a pesquisa do Ifop, a categoria que mais cresce é a dos abstinentes.
Regulamentação das plataformas de filme pornô
Nos próximos dias, o Senado francês receberá o projeto de regulamentação elaborado pelo governo para restringir o acesso de menores às plataformas de filmes pornográficos. O ministro da Transição Digital e das Telecomunicações, Jean-Noel Barrot, disse que os testes feitos com várias empresas para obrigar plataformas como YouPorn, PornHub, TuKif, entre outras, a controlar a idade dos internautas que visualizam esse tipo de conteúdo está em fase final.
O controle de menores já é uma exigência legal desde 2020, mas a medida não é respeitada. Na França, crianças e adolescentes começam a ter contato com esse tipo de conteúdo aos 11 anos de idade, em média. O mecanismo testado consiste em um certificado digital ligado a uma senha que precisará ser validada por um internauta adulto, similar ao sistema utilizado pelos bancos franceses.
O Conselho Superior para a Igualdade (HCE) se envolveu nesse debate e fez uma série de recomendações aos senadores para proteger as mulheres e meninas da pornografia online.
O HCE denuncia a falta de medidas de proteção à violência contra mulheres nos sets de filmagem. Argumenta que mulheres jovens e de todas as idades são humilhadas, estupradas e torturadas em certas produções que se vendem como "eróticas", na maior impunidade. Um relatório do próprio Senado francês revelou, no ano passado, que "90% do conteúdo dos vídeos veiculados por plataformas de filmes pornográficos na França poderia ser enquadrado no Código Penal, por veicular atos de violência física ou sexual".
Violência contra mulheres nos sets de filmagem
Com as recomendações feitas aos senadores, o HCE pretende "inspirar emendas do governo e do Parlamento" ao projeto de lei que será votado em breve.
Uma das principais medidas propostas pelo órgão é a ampliação do mandato do Pharos, um site do Ministério do Interior no qual internautas podem denunciar conteúdo e comportamento online ilegais. A checagem das denúncias é feita por policiais especialmente treinados, mas ainda em número insuficiente – 54 ao todo –, que recebem reclamações de todo o país.
Atualmente, o Pharos pode remover ou bloquear conteúdo terrorista e de pornografia infantil. O HCE quer incluir nas atribuições dos policiais da plataforma a remoção e o bloqueio de conteúdos "que retratem atos de tortura e barbárie, tratamento desumano, degradante e estupro" que o organismo considera que são praticados contra atrizes de filmes ditos "eróticos".
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