Intolerante, Israel proíbe Nobel de entrar no país

Escritor alemo Gnter Grass escreveu poema criticando possvel ataque preventivo de Israel s instalaes nucleares do Ir; neste domingo, ele foi declarado persona non grata pelo governo israelense e no poder pisar no solo do pas; a pergunta que no quer calar: probido criticar Israel?

Intolerante, Israel proíbe Nobel de entrar no país
Intolerante, Israel proíbe Nobel de entrar no país (Foto: Divulgação)


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247 – Dois dias atrás, quando o escritor alemão Günter Grass, prêmio Nobel de literatura, publicou o poema “O que precisa ser dito”, criticando um possível ataque preventivo de Israel às instalações nucleares do Irã, ele foi rapidamente classificado como “nazista”. No 247, publicamos dois artigos a respeito: “É proibido criticar Israel?” (leia mais aqui) e “Israel pode tudo”, de Hélio Doyle (leia mais aqui). Neste domingo de Páscoa, Israel deu uma demonstração de intolerância à crítica e proibiu a entrada de Günter Grass em seu território. O escritor alemão foi declarado “persona non grata”. Nossa posição a respeito é muito simples: Israel não deve ter o direito de atacar preventivamente nenhum país, como fez, em 1981, contra as instalações nucleares do Iraque. E, se o fizer, isso será uma ameaça à paz mundial.

Leia, abaixo, reportagem do G1 sobre a decisão de Israel:

"O ministro do Interior, Elie Yishai, declarou Günter Grass 'persona non grata' em Israel", anunciou um comunicado do gabinete do ministro.

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"O poema de Günter é uma tentativa de atiçar as chamas do ódio contra o Estado de Israel e contra o povo israelense", afirmou o ministro neste comunicado, três dias depois de o governo israelense qualificar o poema de "vergonhoso" e "lamentável".

"Se Günter quiser continuar disseminando suas obras deformadas e enganosas, o aconselho que o faça do Irã, onde encontrará um público que o apóia", acrescentou Yishai.

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O poema, intitulado "O que deve ser dito", escrito em prosa e publicado no jornal alemão Süddeutsche Zeitung denunciou eventuais ataques israelenses contra instalações nucleares iranianas como um projeto que poderia levar "à erradicação do povo iraniano porque se suspeita que seus dirigentes constroem uma bomba atômica".

Os ocidentais temem uma possível dimensão militar ao programa nuclear iraniano, condenado por seis resoluções da ONU, e Israel ameaçou em várias ocasiões nos últimos meses atacar as instalações nucleares para impedir Teerã a se dotar de arma atômica.

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Em 2006, o Nobel de Literatura de 1999, conhecido por sua posição esquerdista, admitiu ter feito parte, durante a juventude, das Waffen SS, unidade de elite do regime de Adolf Hitler, apesar das críticas que fez à Alemanha por seu passado nazista.

Leia ainda a reportagem anterior do 247 sobre o caso:

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247 – Na geopolítica internacional, há hoje uma grande questão: Israel vai ou não atacar as instalações nucleares do Irã? Isso já foi feito em 1981 contra o Iraque e pode ser repetir agora. Esse tipo de ação, conhecido como ataque preventivo, foi também o que inspirou a desastrosa ação militar dos Estados Unidos no Iraque. Como forma de protesto, o escritor alemão Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura, publicou ontem um poema, no qual critica a possível ação militar de Israel, antes “que seja tarde demais”. Como era previsível, ele já vem sendo classificado como nazista.

Leia, abaixo, o poema de Günter Grass:

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O que deve ser dito

Por que me calo, calo por tempo demais

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Sobre o que é clarividente e foi ensaiado

em planos, em cujo final, como sobreviventes

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nós somos notas de rodapé em todos os casos.

É o alegado direito do primeiro ataque,

que poderia apagar o povo iraniano

subjugado por um boquirroto

e dirigido ao júbilo coletivo,

porque a construção de uma bomba atômica

em sua esfera de poder é cogitada.

Mas por que me nego,

a tratar pelo nome um outro país

no qual há anos — embora em segredo —

um crescente potencial nuclear está disponível

mas fora de controle, por que nenhuma prova

é acessível?

O silêncio generalizado desse fato,

ao qual se subordina o meu silêncio,

eu considero como uma mentira permanente

e obrigatória, que enfrenta punições

tão logo ele seja quebrado:

o veredicto de "antissemitismo" é imediato.

Agora porém, que meu país,

cujos crimes antigos,

que são inigualáveis,

uma vez e outra são trazidos à tona

de novo e de maneira protocolar, mesmo que

com lábios ágeis declara como reparação,

o envio a Israel

de mais um submarino, cuja especialidade

consiste em levar ogivas devastadoras de tudo

a um lugar, onde a existência

de uma única bomba atômica não foi provada

mas será pelo temor da força das provas,

digo o que deve ser dito.

Por que, porém, calei até agora?

Porque achava que minha origem,

que é manchada por uma mácula que nunca pode ser apagada

proibia atribuir esse fato como verdade anunciada

ao país Israel, ao qual eu sou ligado e

ao qual quero permanecer ligado.

Por que só digo agora,

envelhecido e com tintas finais:

a potência atômica Israel põe em risco

a já frágil paz mundial?

Por que é preciso dizer

aquilo que já pode ser tarde demais amanhã:

também porque nós — como alemães já suficientemente sobrecarregados —

poderíamos nos tornar cúmplices de um crime

que é previsível, causa pela qual nossa cumplicidade

não poderia ser amenizada

por nenhuma das desculpas costumeiras.

E admito: não me calo mais

porque estou cansado da hipocrisia do Ocidente;

além disso, há a esperança

de que vários se libertem do silêncio,

e instem o causador do perigo evidente

a abdicar da violência

e ao mesmo tempo insistam,

para que haja um controle sem restrições e permanente

do potencial atômico israelense

e das instalações nucleares iranianas

por uma instância internacional

com acesso permitido pelos governos de ambos os países.

Só assim se pode ajudar os israelenses e palestinos,

mais ainda, todas as pessoas, que nessa região

ocupada pela loucura

lado a lado vivem em inimizade,

e finalmente nós também.

Gunter Grass

E também o artigo de Marcos Guterman, no Estado de S. Paulo, em que Grass é classificado como nazista:

O que deve ser dito sobre Günter Grass

Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura, publicou um poema nos jornais alemães nesta quarta-feira no qual diz que “o poderio nuclear de Israel é uma ameaça a uma já frágil paz mundial”.

O título do poema é “Was gesagt werden muss”, ou “O que deve ser dito” – uma expressão alemã que significa “Não há lei contra dizer isso” e que em geral inicia conversas informais contra os imigrantes ou contra Israel. Normalmente essa expressão vem acompanhada de uma ressalva importante – quem a enuncia costuma dizer que tem “amigos” imigrantes ou judeus, para escapar da acusação de xenofobia ou de antissemitismo. Grass faz exatamente isso, ao se dizer “alinhado a Israel”.

No entanto, Grass revela seu antissemitismo por inteiro quando escreve que se manteve em silêncio sobre o assunto até agora porque se sentiu “constrangido” ante a “promessa de punição” caso fizesse críticas a Israel na Alemanha. Com isso, ele reforça o mito do poder judaico onipresente, como se os críticos de Israel não pudessem se expressar graças à força incontornável dos conspiradores de Sião.

Günter Grass sabe perfeitamente que as críticas a Israel não só são permitidas na Alemanha como são constantes. Mas parece que, volta e meia, o pequeno nazista que ele foi, vestido com uniforme da Waffen SS, torna a emergir – e agora, ironicamente, em nome da “paz mundial”.

 

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