'É preciso levar em conta as preocupações russas com a Ucrânia', diz Celso Amorim

"É uma situação de décadas. [A Rússia tem] preocupações. Isso não é culpa da Ucrânia. A Ucrânia é uma vítima dos resquícios da Guerra Fria”, diz Amorim

Celso Amorim, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin
Celso Amorim, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin (Foto: Juca Varella | Reuters/Alina Smutko | Sputnik/Gavriil Grigorov/Kremlin via Reuters)


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247 - Assessor especial do presidente Lula (PT) para assuntos internacionais, o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, destacou a importância de levar em consideração as preocupações de segurança levantadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, e de evitar uma abordagem beligerante por parte do Ocidente em relação à Rússia. Amorim alertou que a postura agressiva pode desencadear um conflito mais amplo.

Em entrevista ao Financial Times, ele expressou sua preocupação com a possibilidade de uma terceira guerra mundial ou de uma nova guerra fria. Ele ressaltou a importância de levar em conta as preocupações dos países da região se o objetivo é alcançar a paz. "Não queremos uma terceira guerra mundial. E mesmo que não tenhamos isso, não queremos uma nova guerra fria. (...) Todas as preocupações dos países da região devem ser levadas em consideração, se você quer a paz. A única outra alternativa é a vitória militar total contra a Rússia. Você sabe o que vem depois? Eu não".

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A postura do Brasil é de condenação à invasão da Ucrânia pela Rússia, mas o presidente Lula tem enfatizado que tanto Kiev quanto Moscou têm responsabilidades iguais no conflito e acusou os Estados Unidos de encorajarem a violência. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, visitou Brasília no mês passado.

Amorim ressaltou que a segurança nacional é uma das principais preocupações da Rússia e mencionou as queixas de Moscou em relação ao cerco por parte das potências ocidentais e da Otan. "Não podemos julgar a situação pelos últimos 1,5 anos. Esta é uma situação de décadas. [A Rússia tem] preocupações que devem ser levadas em consideração. Isso não é culpa da Ucrânia. A Ucrânia é uma vítima, uma vítima dos resquícios da Guerra Fria”.

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Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem buscado fortalecer a posição internacional do Brasil e reafirmar sua postura tradicional de democracia não alinhada. Ele tem defendido a criação de um "clube da paz" entre nações para discutir o fim do conflito na Ucrânia.

Durante a cúpula do G7 em Hiroshima, uma reunião entre Lula e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi cancelada devido a um atraso do líder ucraniano, conforme divulgado por Brasília.

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Assim como outros países latino-americanos, o Brasil se recusou a enviar armas para a Ucrânia e negou um pedido da Alemanha para revender munição para tanques. A Casa Branca acusou Lula de "repetir a propaganda russa e chinesa" quando o presidente brasileiro afirmou que os EUA estavam encorajando a guerra. No entanto, Amorim, que visitou Kiev e Moscou recentemente, afirmou que o Brasil está preocupado com os supostos esforços do Ocidente para enfraquecer a Rússia, o que poderia resultar em um conflito ainda maior.

Para Amorim, é importante lembrar a situação da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, onde o Tratado de Versalhes visava enfraquecer o país, levando a consequências desastrosas. "Lembro-me da situação na Alemanha após a primeira guerra mundial: o objetivo era enfraquecer a Alemanha no [Tratado de] Versalhes e sabemos aonde isso levou”.

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A abordagem de Lula em relação ao conflito na Ucrânia segue a linha tradicional da diplomacia brasileira, que evita posições extremas que possam comprometer os esforços para alcançar um entendimento, segundo Paulo Velasco, professor de política externa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Velasco destaca que o Brasil acredita que sanções raramente são o melhor caminho, pois isolam o Estado envolvido em comportamentos desviantes, minando a confiança na comunidade internacional e dificultando acordos pacíficos.

Outros especialistas argumentam que a motivação do Brasil é mais pragmática, incluindo a manutenção das relações comerciais com a Rússia. O comércio bilateral entre Brasil e Rússia chega a US$ 10 bilhões, com destaque para a importação de fertilizantes, que são essenciais para o setor agrícola brasileiro. 

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De acordo com Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, tanto o Brasil quanto a Rússia têm interesse em manter suas relações no âmbito dos Brics, que também inclui China, Índia e África do Sul. Stuenkel afirma que o não alinhamento é visto como uma aposta segura em um mundo onde a competição entre grandes potências está aumentando, e que o Brasil não tem interesse em se juntar a uma coalizão ocidental contra a Rússia.

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