Anarquia no Reino Unido
Inspirados pelo Sex Pistols, grupos radicais atacam smbolos do capitalismo e prometem at fazer baderna no casamento do prncipe William
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Por Ulisses Neto (correspondente em Londres) – Carregar cartazes com palavras de ordem não é o bastante para alguns jovens britânicos. Para eles, a melhor forma de atrair atenção ao que chamam de “extermínio do bem-estar social” promovido pelo governo conservador é criar o caos em centros comerciais e regiões turísticas de Londres. Até o momento, a tática de guerrilha social, que lembra o movimento punk, tem trazido resultados.
As ações de grupos recém-formados como Riseup East, Black Bloc, Radical Workers Bloc e UKUNCUT têm dominado o noticiário do Reino Unido e constrangido as autoridades locais, que não conseguem controlar a nova onda de anarquia contra a política do primeiro-ministro David Cameron de promover cortes indiscriminados nos gastos públicos.
De outubro passado para cá, foram três grandes ações que terminaram com lojas de luxo invadidas, vidraças de bancos quebradas e pichações em hotéis de luxo, além de outras dezenas de mobilizações relâmpago, as chamadas “flash mob”. A mais recente ocorreu no final de semana passado, quando cerca de 500 mil pessoas se reuniram no centro da capital britânica para participar da manifestação convocada pelas centrais sindicais do país.
A grande maioria se limitou a marchar pacificamente do Parlamento até o Hyde Park. Enquanto isso, cerca de 500 jovens encapuzados, vestidos de preto e cobrindo o rosto (para evitar a identificação pelas câmeras de segurança) carregavam bandeiras, bombas de tinta e pedaços de madeira pela região de West End, famoso centro comercial e cultural londrino. Rapidamente, o local se transformou em um palco de desordem e quebra-quebra e o confronto com a polícia foi inevitável. O momento de maior tensão ocorreu na Trafalgar Square, onde manifestantes promoviam uma ocupação de 24 horas com a intenção de transformá-la em uma espécie de praça Tahrir, em alusão aos recentes protestos no Egito.
Poucos metros à frente, dezenas de jovens invadiram uma tradicional loja de artigos de luxo e a mantiveram sitiada por cerca de três horas. Alguns deixaram o local presos. Outros carregando garrafas de champanhe e vinhos importados.
A invasão, no entanto, não terminou em pancadaria. O fundador do grupo que liderou a ação, Thom Costello, defendeu que “é muito fácil fechar lojas nos grandes centros comerciais. Você não precisa quebrar vidraças, fazer grandes invasões. Basta simplesmente sentar na porta de entrada e assim a loja está completamente fechada, de maneira simples, pacífica e sem nenhuma violência.”
Entretanto, no balanço final dos protestos, mais de 200 prisões foram realizadas e 30 pessoas ficaram feridas, entre manifestantes e policiais. Além disso, o prejuízo financeiro para os comerciantes também foi pesado. Um sábado normal em West End rende aproximadamente 30 milhões de libras (R$ 80 milhões) para os lojistas. Com a confusão promovida pelos jovens manifestantes, a perda total foi calculada em cinco milhões de libras, uma vez que consumidores e turistas evitaram o local.
Dame Judith, presidente da New West End Company, que representa cerca de 600 comerciantes da região, enviou carta ao prefeito de Londres, Boris Johnson, afirmando ser ”inaceitável que um dos maiores centros de compras e turismo do mundo seja atingido constantemente por uma pequena minoria de indivíduos desvirtuados que promovem agitação e destruição gratuita.”
Do outro lado, os responsáveis pelas manifestações comemoraram nas páginas das redes sociais a repercussão de mais uma ação, na visão deles, bem sucedida. Alguns grupos já avisaram a seus seguidores sobre o próximo alvo: o casamento do príncipe William com Kate Middleton, no dia 29 de Abril. “Hahahahahahahaha acabo de ouvir que o casamento real é o próximo a ser destruído. Mal posso esperar”, escreveu o estudante que se identifica como Sam Batez Batey na página do Black Bloc no Facebook.
O prefeito Boris Johnson afirmou estar alarmado com a situação e pediu para que a polícia reveja as táticas aplicadas para controlar os atos de violência. “Quero ter certeza de que uma análise completa será feita sobre os últimos acontecimentos para que nada disso se repita novamente. Não vamos tolerar qualquer tentativa de estragar um dia nacional de celebração.”
A polícia já estuda novas maneiras de controlar os grupos que realizam ações violentas e evitar transtornos durante o casamento real, quando imagens ao vivo do evento serão transmitidas ao redor do planeta e milhares de turistas estarão na cidade. Uma das ações analisadas é revistar mochilas e bolsas nas estações de metrô do centro de Londres. Outra medida, mais polêmica, é o uso do canhão de água contra os manifestantes.
Mas, a cada protesto os grupos de jovens radicais se mostram mais preparados para cumprir seus objetivos. Nem mesmo os efetivos de até cinco mil policiais conseguiram conter as ações articuladas pela internet e organizadas poucos minutos antes dos ataques. Os manifestantes já demonstraram que não pretendem poupar a realeza, ao atacar o carro do príncipe Charles no final do ano passado em outro protesto contra o governo. Agora, o futuro rei da Inglaterra e a noiva dele podem se transformar nas próximas vítimas da revolta contra a tentativa do governo de acabar com a cultura do “Estado Provedor”.
Escute agora a canção Anarchy in the UK, da banda punk Sex Pistols:
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