A promessa de Kiev de não utilizar bombas de fragmentação contra civis é desprovida de significado. Aqui está o porquê

Analistas apontam possibilidade de Kiev desmontar as munições de fragmentação e tentar contrabandeá-las para a Rússia

Presidentes Volodymyr Zelensky (da Ucrânia, à esq.), Joe Biden (dos EUA) e uma bomba de fragmentação
Presidentes Volodymyr Zelensky (da Ucrânia, à esq.), Joe Biden (dos EUA) e uma bomba de fragmentação (Foto: Reuters / Kevin Lamarque- Reuters / Oleg Solvang - Human Rights Watch)


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Sputnik - Múltiplos aliados dos Estados Unidos, grupos de direitos humanos e antimilitaristas, a ONU e Moscou condenaram a decisão de Washington de enviar bombas de fragmentação DPICM lançadas por obuseiros para a Ucrânia. Kiev prometeu não usar as armas contra civis, mas especialistas afirmam que o histórico de Kiev ao utilizar as armas da OTAN que já possui fala por si só, informou a Sputnik.

"O governo ucraniano nos ofereceu garantias por escrito sobre o uso responsável das DPICMs, incluindo que eles não utilizarão os projéteis em áreas urbanas com população civil, e que eles registrarão onde usarão esses projéteis, o que facilitará os esforços posteriores de desminagem", afirmou Colin Kahl, subsecretário de defesa, em uma coletiva de imprensa na sexta-feira, ao anunciar a decisão dos Estados Unidos de enviar munições de fragmentação para Kiev.

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"É claro que estaremos observando como os ucranianos utilizam esses sistemas. Eles nos reportarão o uso, portanto, poderemos fazer avaliações posteriormente se sentirmos que essas garantias não estão sendo cumpridas. Mas tenho confiança de que os ucranianos cumprirão sua palavra", acrescentou Kahl. O oficial do Pentágono assegurou que, assim como "com todos os sistemas" que Washington já forneceu a Kiev até o momento, as tropas ucranianas receberão "treinamento e orientação" dos Estados Unidos sobre o uso de bombas de fragmentação. O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, ecoou as garantias de Kahl em um longo tweet no sábado, no qual "recebeu com satisfação" a decisão dos Estados Unidos de fornecer a Kiev "novas armas libertadoras". Reznikov prometeu que Kiev não usará as munições de fragmentação contra "o território oficialmente reconhecido da Rússia", nem em áreas urbanas, a fim de "evitar riscos para a população civil".

Promessas Vazias

"É ridículo quantas vezes já ouvimos essas 'garantias' e 'garantias de segurança'", disse Andrei Koshkin, um acadêmico russo veterano especializado em assuntos militares e internacionais, à Sputnik.

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"Pode-se escrever sobre a intenção de não utilizar essas armas contra civis em qualquer documento. Mas, na prática, a conduta das operações militares na Ucrânia mostra que as Forças Armadas Ucranianas não têm limites", afirmou o Dr. Koshkin, observando que Kiev já foi condenada pelas Nações Unidas por usar minas antipessoal Lepestok lançadas por ar, por exemplo.

"Eles não serão contidos por civis. Eles usarão tudo o que têm ao máximo, sem sequer pensar nas consequências para sua própria população", ressaltou o acadêmico.

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Uma análise superficial das recentes reportagens da mídia confirma o ponto de Koshkin, começando pela longa história de bombardeios terroristas da Ucrânia em cidades do Donbass e infraestrutura civil na Crimeia, utilizando artilharia e sistemas de mísseis de calibre da OTAN, além dos ataques de foguetes HIMARS e drones contra regiões russas, incluindo Belgorod e Voronej.

O Centro Conjunto de Controle e Coordenação, um órgão de vigilância sediado no Donbass criado em 2014 para monitorar violações dos acordos de Minsk, relatou em maio passado que mais de 4.500 civis foram mortos e mais de 4.400 ficaram feridos devido aos bombardeios ucranianos ao longo do último ano, sendo que 3.791 das fatalidades foram registradas em territórios recentemente liberados no Donbass.

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Contraofensiva Paralisada

Koshkin está confiante de que o momento da decisão dos Estados Unidos de enviar munições de fragmentação para a Ucrânia tem tudo a ver com o fracasso da contraofensiva de verão da Ucrânia, que, como ele destacou, não conseguiu romper as linhas defensivas russas com um custo terrível para Kiev.

O subsecretário Kahl confirmou em sua coletiva de imprensa na sexta-feira que os Estados Unidos esperam entregar as munições de fragmentação para a Ucrânia "em um prazo relevante para a contraofensiva". Kahl também assegurou que "os ucranianos ainda têm muita capacidade de combate" e que "de fato, a maioria de sua capacidade de combate para esta luta ainda não foi utilizada".

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Quem Pagará a Conta?

Questionado se Washington aceitaria qualquer responsabilidade quando e se Kiev decidir utilizar as munições de fragmentação fornecidas pelos EUA em áreas civis, como já fez com outras armas fornecidas pela OTAN, Koshkin afirmou que a história recente sugere fortemente que eles não irão assumir essa responsabilidade.

"Eles utilizaram munições de fragmentação no Iraque, Vietnã e Afeganistão e não aceitaram nenhuma responsabilidade. A entrega dessas armas para a Ucrânia não lhes interessa de forma alguma", enfatizou o acadêmico. Pelo contrário, Koshkin observou que é muito conveniente para os Estados Unidos poder despejar essa classe perigosa e pouco confiável de munições na Ucrânia, após o que o Pentágono simplesmente poderá descartá-las.

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Quanto às declarações de aliados dos Estados Unidos, incluindo Canadá, Reino Unido, Espanha e Alemanha, condenando a decisão de Washington de enviar suas munições de fragmentação para Kiev, o acadêmico disse que há uma clara tendência de Washington simplesmente ignorá-las, especialmente porque as condenações formais nunca são seguidas por qualquer tipo de ação real.

'A Caixa de Pandora'

Scott Bennett, ex-oficial de guerra psicológica do Exército dos EUA e analista de contraterrorismo do Departamento de Estado, afirmou à Sputnik que a introdução de munições de fragmentação na Ucrânia "será equivalente a abrir a caixa de Pandora" e que os resultados serão "nada além de mortes indiscriminadas violentas de civis, destruição de propriedades e os pesadelos assustadores dos gritos das crianças".

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"O perigo supremo das munições de fragmentação que os EUA pretendem enviar para a Ucrânia é que elas têm 20 anos de idade, o que significa que terão uma taxa de 'falha' muito alta, provavelmente de 10% a 20% ou mais. Isso significa que essas submunições ficarão sem explodir por toda a paisagem, esperando por civis desprevenidos para detoná-las - o que parece ser o objetivo: terror", explicou Bennett.

Submunições podem se espalhar rapidamente para a Rússia e a Europa

O observador não descartou a possibilidade de Kiev desmontar as munições de fragmentação e tentar contrabandeá-las para a Rússia, a fim de distribuí-las em grandes cidades. Além disso, considerando o histórico geralmente precário de Kiev em rastrear as armas fornecidas pela OTAN, Bennett disse que as submunições poderiam ser espalhadas por grupos terroristas e começar a ser avistadas sendo "roladas pelas ruas francesas, alemãs e britânicas por manifestantes, protestantes e vândalos, como bolas de boliche, e explodindo em delegacias de polícia, igrejas e prédios governamentais".

Bennett observou que, como arma de baixa intensidade, as submunições podem ser desmontadas e usadas como dispositivos explosivos menores em guerras urbanas ou preparadas para detonar remotamente usando um celular. "Elas não possuem substâncias facilmente detectáveis pelos cães farejadores de bombas. Portanto, embora possam aparecer no campo de batalha, as batalhas em que serão usadas serão futuras operações de terror doméstico", alertou o especialista.

O analista de contraterrorismo tem experiência pessoal com munições de fragmentação, lembrando que durante seu período no Iraque, as tropas dos EUA viam as pequenas submunições esféricas que saíam das munições de fragmentação espalhadas pelo chão como pérolas prateadas do tamanho de bolas de softball, e as crianças iraquianas, com seus sorrisos brancos brilhantes, rostos bronzeados e cabelos pretos trançados, brincavam com elas, rindo enquanto as chutavam como bolas de futebol, alheias às explosões devastadoras que ocorreriam quando elas fossem detonadas acidentalmente.

"É a lembrança do que essas bombas fizeram com as crianças no Iraque que mais me horroriza e indigna em relação ao que inevitavelmente farão com as crianças na Ucrânia, Rússia e Europa, à medida que encontrarem o caminho para áreas civis. E não se engane, esse é o plano e o terrorismo é o objetivo, e nenhum país é mais habilidoso em terrorismo do que os Estados Unidos, infelizmente", enfatizou Bennett.

'Teste de Autenticidade'

Comentando sobre as críticas surpreendentes de legisladores importantes do próprio partido do presidente Biden, que a Casa Branca recebeu após o anúncio das munições de fragmentação para a Ucrânia, Bennett enfatizou que, além das "objeções sinceras", "o verdadeiro teste de autenticidade é se o Congresso dos EUA aprovará uma legislação proibindo o uso delas." Qualquer coisa menos que isso só servirá para "confirmar que o Congresso só fala, mas não age", em sua opinião.

Bennett também ecoou a avaliação do Dr. Koshkin em relação às promessas de Kiev de não usar munições de fragmentação contra civis, afirmando que qualquer "promessa, tratado ou outra pseudo-garantia" são pouco mais do que uma "operação de engano destinada a conquistar a confiança e baixar as defesas da Rússia e seus aliados".

Não é uma Surpresa

Não há nada surpreendente no fato de que "a nação que estabeleceu o precedente no uso de armas nucleares no final da Segunda Guerra Mundial decidiu transferir munições de fragmentação para Kiev, apesar das declarações à imprensa de que não faria isso", disse Imelda Ibanez, pesquisadora do Grupo de Estudos da Eurásia na Universidade Nacional Autônoma do México, à Sputnik Mundo.

"Os Estados Unidos sempre recorreram a duplos padrões, falando sobre ter as ferramentas para lutar pela liberdade e democracia, ao mesmo tempo em que interferem descaradamente nos assuntos de Estados soberanos. Temos exemplos conhecidos: Iraque, Líbia, Síria e obviamente, Iugoslávia", disse Ibanez.

Ibanez caracterizou a decisão de sexta-feira sobre as munições de fragmentação como "extremamente perigosa" e afirmou que a aparente disposição do governo de Zelensky em usar essas armas "não convencionais" demonstra o "total desprezo pelas normas do direito humanitário internacional" por parte de Kiev.

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