A chegada dos nativos digitais

Pela primeira vez na história da Alemanha desde o fim da guerra, será factível um governo sem nenhum dos partidos maiores, através da coalizão entre os Verdes, a Esquerda e os Piratas.



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Na glória e no conforto do poder político, é fácil esquecer-se de olhar para a base: não importa a dinamite na mão se tilinta uma bomba de tempo em baixo dos pés. O tempo da manipulação das massas via as mídias está perto de se esgotar. As novas gerações têm outras perspectivas e outros valores. São chamados de 'nativos digitais' e, no Brasil, ainda não acordaram. Mas assim foi na Europa há pouco tempo e ninguém se preocupou com isso.

Porém, só até a semana passada, quando os piratas entraram no governo de Berlim, Alemanha, a sensação era perfeita e chegou como um choque para todos: o Partido dos Piratas ganhou quase 9% dos votos na eleição da assembleia do governo de Berlim, Alemanha, assustando igualmente os partidos tradicionais, os gurus políticos e o Partido Pirata mesmo.

Pela primeira vez na história da Alemanha desde o fim da guerra, será factível um governo sem nenhum dos partidos maiores, através da coalizão entre os Verdes, a Esquerda e os Piratas.

continua após o anúncio

O programa dos piratas tem muitas similaridades com aquele do governo Lula:

- software livre e reforma dos direitos autorais em geral

continua após o anúncio

- banda larga gratuita para todos

- salário mínimo

continua após o anúncio

- bolsa família

- transporte público gratuito.

continua após o anúncio

Isto já é o total da proposta principal do Partido dos Piratas. Detalhes como o financiamento para a realização das suas propostas, a economia e a política exterior não constituem uma preocupação para os Piratas.

É interessante ver que o Brasil com o ex-presidente estava marchando na mesma direção, mas se vamos assistir uma continuidade disto, não é ainda claro.

continua após o anúncio

- reforma dos direitos autorais

- banda larga gratuita (ambas propostas dos ex-ministros da cultura Gilberto Gil e Juca Ferreira)

continua após o anúncio

- o salário mínimo já existe no Brasil há muitas décadas

- o bolsa família foi implementado pelo Lula

continua após o anúncio

- o transporte público: nem pensar no momento.

Porém, o programa do movimento dos Piratas parece quase menos significativo do que a sua filosofia, ou a falta dela. De onde chegaram os Piratas? O primeiro partido deles foi fundado na Suécia, em 2004, por um grupo de hackers, a geração do computer e da Internet, os 'nativos digitais'. O nome do partido foi assim escolhido porque eles se entendiam justificados em não pagar para as mídias digitais, especialmente o software, os livros e a música, sendo por isso acusados de 'pirataria'. Parece cabível que se pensem 'piratas' com uma causa justa.

No Brasil, o Partido Pirata do Brasil (PPBr) se formou em 2007 com um programa que segue as ideias do partido fundador na Suécia, de uma internet livre para contrariar os direitos autorais e, portanto, a favor do software livre e da troca de arquivos online. Hoje, com 140 membros, o PPBr decidiu, com voto democrático, não participar das eleições de 2012 no Brasil, medida essa inexplicável e alheia a qualquer sentido. Como o exemplo que a Alemanha mostrou recentemente, as ideias na base desse movimento encontram ressonância na população, acima das expectativas de todos. Sob essa luz, a decisão do PPBr parece tímida demais, prá dizer o mínimo.

Paralelamente ao Movimento Pirata, surgiram na Europa os partidos políticos com o propósito único de desafiar o sistema dos partidos estabelecidos, os 'partidos das piadas'.

Observação: este autor é membro de um deles, 'Die Partei',em Berlim, onde ele nasceu. 'Die Partei' chegou à quase 1% dos votos em Berlim inteira, sem apoio financeiro de ninguém, nem público, nem privado. No 'meu' próprio bairro, chegamos a quase 4% dos votos.

Na Alemanha, a situação para os partidos tradicionais parece muito mais grave do que eles mesmos admitem. Junto com o Partido Verde e o Partido da Esquerda, os Piratas poderiam entrar como maioria na assembleia de Berlim com a consequência da exclusão total dos partidos que estiveram no controle do país inteiro desde o fim da guerra. As confirmações oficiais dos partidos querem ridicularizar essa situação, mas parecem ainda mais ridículas que as piadas do Partido das Piadas. Berlim, a capital, dizem, teria sido sempre uma ilha de caos, sem importância nenhuma para o resto do país, que dizem ser muito mais conservador. Os mesmos speakers, só há alguns dias, excluíram completamente qualquer notícia de impacto desses novos partidos sobre o parlamento de Berlim.

Ainda não aprenderem a lição. A população está cansada das promessas falsas e da corrupção crescente em todo o mundo. Qualquer alternativa ao sistema de partidos políticos do passado serve como resgate da esperança em uma real mudança na sociedade.

No Brasil, o governo Lula com seus então ministros da cultura Gil e Ferreira trabalharam por oito anos para as mesmas metas do movimento Pirata da Europa: informação livre e acesso gratuito com banda larga. Com a chegada de Dilma e sua escolha muito estranha de Ana de Holanda para o Ministério da Cultura, esse trabalho de oito anos parou abruptamente, dando uma guinada que está causando náuseas. Com declarações absurdas tais como dizer que a Microsoft dá apoio ao movimento de software livre, os lobistas do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), uma sociedade civil de natureza privada e forte defensor do direito autoral, claramente ultrapassaram a linha fina entre mentiras políticas e a demagogia mesma. Isso não vai bem para ninguém. O exemplo da Alemanha demonstrou, para além de qualquer dúvida, os riscos de tal comportamento dos partidos políticos 'mainstream'.

Até agora, os Piratas do Brasil dormem complacentemente desorganizados. O Verde perdeu a sua cor faz tempo e os Vermelhos se perderem na mata urbana. Em Alemanha, as mesmas forças chegaram a ser, uma vez coligadas, mais fortes que os partidos tradicionais, sem coalisão. Somente com uma traição dos seus próprios princípios é que os partidos convencionais da Alemanha vão ser capazes de formar um parlamento em Berlim.

Uma tal situação poderia chegar também, logo logo, no Brasil. As palhaçadas deste ano no Ministério da Cultura têm o potencial de acelerar esse processo e cavar a tumba dos partidos convencionais. Incrível? "Sim", disseram os gurus políticos da Alemanha, uma semana atrás. Agora estão todos de boca aberta.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247