The Economist: democratas brasileiros estão certos em se unir contra Bolsonaro

Uma da principais publicações do Reino Unido destaca o papel das Forças Armadas e os ataques de Jair Bolsonaro à democracia brasileira. "Os democratas brasileiros, muitas vezes adversários, estão começando a se unir em oposição ao presidente. Eles estão certos em ficar alarmados"

(Foto: Isac Nóbrega/PR | Filipe Araujo)


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247 - A revista britânica The Economist publicou nesta quinta-feira, 11, artigo em que retrata os ataques de Jair Bolsonaro à democracia do Brasil. 

O texto, publicado na seção As Américas da edição impressa, destaca o papel das Forças Armadas na governabilidade de Bolsonaro. "É um sinal de sua fraqueza que ele depende cada vez mais do exército. Agora, dez de seus 22 ministros são militares e outros 3.000 estão com empregos no governo", diz a revista britânica. 

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"Os democratas brasileiros, muitas vezes adversários, estão começando a se unir em oposição ao presidente. Eles estão certos em ficar alarmados", avalia. 

Leia, abaixo a reportagem na íntegra:

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Jair Bolsonaro ameaça a democracia brasileira?

The Economist 

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Algumas semanas, desde que o Covid-19 atingiu o Brasil, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se reuniram em Brasília e São Paulo. Eles exigem a reabertura de uma economia parcialmente fechada, o fechamento da Suprema Corte e do Congresso e um retorno ao regime militar de 1964-85. Alguns estão armados. Na capital, Bolsonaro frequentemente se junta a eles, dispensando abraços e apertos de mão, desafiando os regulamentos de saúde. Nem ele nem eles usam máscaras.

Desde que Bolsonaro, ex-capitão do exército com visões de extrema direita, assumiu o cargo em janeiro de 2019, muitos brasileiros estão pessimistas com a ameaça que ele representa para a democracia. Alguns argumentam que as instituições do país são fortes o suficiente para impedi-lo. É verdade que o presidente encheu seu governo de oficiais militares. Mas eles têm sido vistos como uma influência moderadora. E as manifestações são pequenas.

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As tensões aumentaram nas últimas semanas. Bolsonaro se tornou mais intimidador, dizendo sobre o Congresso: “O tempo da vilania acabou, agora é o povo no poder”. E sobre o tribunal: “Acabou, pelo amor de Deus”. Alguns ministros militares, começando com o vice-presidente Hamilton Mourão, general aposentado, emitiram ameaças veladas contra a corte, o Congresso e a mídia.

Em uma mensagem do WhatsApp vazada no mês passado, Celso de Mello, o alto juiz do tribunal, escreveu: “Devemos resistir à destruição da ordem democrática para evitar o que aconteceu na República de Weimar”, que foi derrubada por Hitler. “A democracia brasileira está sob séria ameaça”, concorda Oscar Vilhena Vieira, reitor da faculdade de direito da Fundação Getulio Vargas, uma universidade. “O presidente não está apenas tentando criar um conflito institucional, [mas também] tentando estimular grupos violentos”, diz.

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Deputado federal há 28 anos, Bolsonaro nunca demonstrou muito respeito pela democracia. Ele agora se tornou mais conflituoso por dois motivos. Primeiro, a Suprema Corte iniciou investigações que o envolvem. Um deles por demitir o comandante da polícia federal para proteger um de seus filhos de uma acusação, dizem seus críticos. Outro: ele é a favor de partidários (incluindo outros dois de seus filhos) suspeitos de orquestrar insultos e ameaças aos juízes da corte.

A segunda razão é que Bolsonaro mostra pouca capacidade de governar. A pandemia dramatizou isso. Sua recusa em apoiar bloqueios e distanciamento social contribuiu para o severo pedágio do Covid-19 no Brasil, com quase 40.000 mortes, o terceiro número mais alto do mundo. Ele está perdendo o apoio popular, embora mantenha um núcleo de cerca de 30% dos eleitores.

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É um sinal de sua fraqueza que ele depende cada vez mais do exército. Agora, dez de seus 22 ministros são militares e outros 3.000 estão com empregos no governo. “De fato, temos um regime militar”, diz um ex-oficial. Isso traz riscos para as forças armadas e para a democracia. 

Bolsonaro exacerbou a divisão interna e a politização do exército, que começaram mais cedo. Sua disciplina e hierarquia estão se desgastando. Muitos oficiais juniores expressam seu apoio a Bolsonaro nas mídias sociais. Quatro generais com empregos no palácio presidencial, dois em serviço ativo, têm mais poder do que o comandante do exército, seu superior nominal.

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O Exército também corre um grave risco à sua reputação. Atualmente, ele está encarregado do ministério da saúde (onde tentou brevemente interromper a publicação de dados completos do Covid-19), coordenação política e proteção da Amazônia. “Eles realmente acreditam que sabem como fazer as coisas”, diz o ex-oficial. Eles podem aprender da maneira mais difícil, como durante a ditadura, que não aprendem.

Bolsonaro não parece forte o suficiente para realizar um golpe. Ele é contra a maioria dos governadores estaduais do Brasil. Embora o vírus tenha desativado temporariamente o Congresso, Vieira observa que o Supremo Tribunal está agindo de uma maneira incomumente unida. No entanto, “a democracia pode morrer mesmo se você não tiver um homem forte”, alerta Matias Spektor, do Centro de Relações Internacionais da FGV. Se Bolsonaro sofrer um impeachment, Mourão o sucederá, aproximando ainda mais o exército do poder.

Outra ameaça, observa Spektor, é o esvaziamento de Bolsonaro das instituições democráticas brasileiras e o fomento de conflitos. Ele instalou um procurador-geral amigável e tem influência sobre as forças policiais estaduais e a polícia federal. Uma ação policial silenciou o governador do Rio de Janeiro, recentemente um crítico de Bolsonaro. Os democratas brasileiros, muitas vezes adversários, estão começando a se unir em oposição ao presidente. Eles estão certos em ficar alarmados.

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