Somos treinados a nos preocuparmos com a “propaganda russa”, enquanto afogamos na propaganda dos EUA, diz Caitlin Johnstone

Esta onda de pânico sem sentido, criada artificialmente, sobre a desinformação russa tem sido usada para desdenhar de quaisquer informações contra o império dos EUA

(Foto: Reprodução)


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Artigo de Caitlin Johnstone originalmente publicado no seu website. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

Uma das coisas mais estranhas e insanas que estão ocorrendo atualmente é a maneira pela qual o mundo ocidental inteiro está sendo treinado para surtar sobre a “propaganda russa” - a qual mal existe no Ocidente – enquanto ignoramos o fato de que gastamos todos os dias marinando em bilhões de dólares de propaganda do império dos EUA.

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A CNN publicou um artigo intitulado “A morte de Darya Dugina provê um vislumbre da vasta máquina de desinformação da Rússia – e as influentes mulheres que a confrontam” sobre a recentemente assassinada filha de Alexander Dugin – um pensador político russo de influência selvagemente exagerada.

O artigo usa o assassinato de Dugina para alimentar ainda mais o crescente pânico do seu público sobre a desinformação russa – rapidamente se tornando um comentário sobre a rede inteira de propaganda da Rússia, sem se dar o trabalho de articular a maneira pela qual a morte de Dugina “provê um vislumbre” no seu funcionamento.

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Sem fazer a mais leve alusão à autorreflexão ou à ironia, este artigo da CNN sobre a propaganda russa cita como os seus dois principais especialistas um membro do think tank 'Atlantic Council's Digital Forensic Lab' e um membro do think tank 'Center for European Policy Analysis' – CEPA. O Atlantic Council é uma empresa de gerenciamento de narrativas da OTAN, financiado pela OTAN, pelo governo dos EUA, pelo governo do Reino Unido e vários outros Estados alinhados com os EUA, pela indústria de armamentos e numerosos bilionários. A lista de doadores do CEPA é similar à do Atlantic Council e inclui fabricantes de armas dos EUA e o governo dos EUA através do Departamento de Estado e também pela organização derivada da CIA, o 'National Endowment for Democracy' – ambas usadas para promover os interesses de informações da aliança de poder centralizado dos EUA na Europa e na América do Norte.

Como analisamos previamente, a maneira pela qual as mídias de notícias citam grupos de estudos belicistas corruptos para discutir a política externa sem sequer mencionar os seus imensos conflitos de interesses, é simplesmente uma negligência jornalística. Mas esta prática é onipresente em todas as mídias ocidentais de notícias – assim sendo, as mídias ocidentais de notícias são veículos de propaganda.

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O artigo cita a RT, a Agência de Pesquisas da Internet e uma coisa chamada de 'United World International' como exemplos da “vasta máquina de desinformação da Rússia”, apesar de que cada uma destas instituições tenha um grau de influência que é o exato oposto da “vasto” no mundo ocidental. Em 2017, a RT ocupou 0,04% do total da audiência de TV no Reino Unido. Um estudo revelou que muito elogiada campanha de “interferência nas eleições” dos EUA feita pela Internet Research Agency em 2016 consistiu, na sua maior parte, de postagens que nada tinham a ver com a eleição e totalizaram “aproximadamente 1 de cada 23.000 matérias de conteúdo” vistas no Facebook.

Então, quando eu digo que a propaganda russa pouco existe no Ocidente, eu quero dizer que, quantitativamente, isto é um não-fator completo. Compare estes números insignificantes à barragem incessante de propaganda do império que os ocidentais recebem todos os dias das suas vidas através de todos os veículos de notícias de influência significativa – cuja cobertura da guerra da Ucrânia eclipsou aquela de todas as guerras recentes nas quais os EUA estiveram diretamente envolvidos – e se torna claro que esta mensagem que estamos recebendo de que precisamos entrar em pânico sobre a propaganda russa, ela própria é propaganda.

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O elogio exagerado da CNN critica a editora-chefe do RT, Margarita Simonyan, por dizer em 2012 que “Quando a Rússia está em guerra, obviamente, nós estamos do lado da Rússia”. Como se alguma vez a CNN estivesse contra os EUA durante as guerras dos EUA. A CNN não só toma consistentemente o lado do governo dos EUA em todas as guerras, ela também conduz descaradas operações de propaganda para começar novas guerras – como na época em que ela encenou uma entrevista roteirizada com uma pequena criança síria, pedindo o intervencionismo militar dos EUA na Síria.

A única diferença entre as mídias estatais russas e as mídias estatais estadunidenses é que as mídias estatais russas são honestas sobre o que elas são.

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Esta onda de pânico sem sentido criado artificialmente sobre a desinformação russa tem sido usada para desdenhar de quaisquer e todas as informações emitidas que elencam o império estadunidense e os seus lacaios sob uma luz negativa, denominando-as de propaganda russa, ou como o trabalho de agentes russos. Temos visto isso repetidamente, na maneira pela qual Julian Assange tem sido falsamente elencado como um operador do Kremlin, até a maneira pela qual as mídias independentes são falsamente enquadradas como sendo operações de propaganda russa.

O exemplo mais recente desta fraude é a maneira criminosa pela qual os e-mails vazados de proeminentes figuras britânicas publicadas pelo website The Grayzone foram descartados por uma nova matéria de sucesso do Politico como sendo uma representação desonesta de e-mails obtidos por hackers russos usando o “manual russo de operações”. A equipe do Grayzone apressou-se a assinalar que não só o artigo da Politico deixa de abordar a importante questão daquilo que os e-mails vazados continham, mas que deixaram de mencionar que a sua fonte primária é um veterano e especialista em operações psicológicas do Escritório de Negócios Estrangeiros do Reino Unido que declarou publicamente estar fazendo uma vingança para fazer com que o The Grayzone seja censurado online.

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A histeria fabricada sobre uma epidemia inexistente de propaganda russa no Ocidente fez com que as pessoas pensassem e ficassem confusas que se tornou impossível criticar o governo mais poderoso do mundo pela temeridade que ameaça o mundo com uma superpotência nuclear rival em qualquer fórum online, sem ser acusado de ser um agente secreto do Kremlin. As minhas próprias notificações nas mídias sociais são continuamente iluminadas com acusações de lealdade a Putin e de receber rublos na minha conta bancária só por criticar os impulsos mais perigosos do governo mais poderoso e destrutivo da Terra, apesar de eu jamais ter trabalhado para a Rússia, nem qualquer outro governo.

O que é engraçado sobre tudo isso é que, ao advertir constantemente sobre os perigos da propaganda russa, os operadores imperiais estão admitindo que eles sabem que é impossível manipular o pensamento público em escala de massas usando as mídias. Eles estão simplesmente mentindo sobre o que estão fazendo conosco.

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Na verdade, eles não estão preocupados com a propaganda russa. A “propaganda russa” é apenas uma história assustadora que eles nos contam para evitar que nós notemos que a nossa civilização está saturada de propaganda dos EUA.

Caitlln Johnstone (www.caitilinjohnstone.com) é uma experiente jornalista independente e escritora australiana, baseada em Melbourne, que publica o seu trabalho em diversos veículos internacionais.

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