Presidente do El Pais escancara crise do papel

Fundador do jornal espanhol El País, Juan Luis Cebrián diz que, cada vez mais, os jornais de papel "vão ser mais caros, vão circular menos e, portanto, terão menos influência"

Presidente do El Pais escancara crise do papel
Presidente do El Pais escancara crise do papel (Foto: Divulgação)


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247 - Fundador do maior jornal impresso da Espanha, Juan Luis Cebrián reconhece que as coisas estã mudando. Em entrevista ao jornal O Globo, o gerente da Prisa, que controla El País, comenta a necessidade de mudanças na imprensa diante dos avanços tecnológicos. "Há muitos jornais locais americanos que estão com suas edições apenas na internet. Temos que ser muito cautelosos. Não digo que os jornais locais de papel irão nesta direção, mas cada vez vão ser mais caros, vão circular menos e, portanto, terão menos influência", diz.

Para Cebrián, mais do que se adequar às novas tecnologias, os jornais precisam fazer uma opção. "Fizemos uma mudança de modelo. Queremos ser um jornal global. Não acabamos com as redações regionais, seguimos produzindo informações na Galícia, Andaluzia e no País Basco. O que abandonamos foram publicações com algumas informações locais que não têm maior interesse", explicou. "Estamos ampliando operações na América Latina e na Europa. Estamos no Peru, vamos publicar na Colômbia e no ano que vem teremos uma edição em português no Brasil. Há uma crise profunda nos jornais, mas a decisão tem a ver também com mudança de tecnologia, completou.

Leia trechos da entrevista:

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Para sobreviver, o "El País" precisa se transformar?
Sim. O "El País" e qualquer jornal do mundo. Ou jornais se convertem em jornais muito locais ou em jornais globais. Mas não tem espaço para muitos jornais globais. Portanto, estamos num momento de transição fundamental. Quiosques e livrarias estão fechando, e a distribuição física dos jornais vai ser cada vez mais difícil.

Isso vai levar a uma consolidação de grupos de comunicação?
Com certeza. Já está acontecendo no mundo todo e este processo chegará antes ou depois no Brasil. Não há espaço para muitos jornais globais brasileiros, apenas um ou dois. Nós estamos seguindo o modelo do "New York Times": presença global e enorme presença na internet, sobretudo nos meios de comunicação móvel.

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Então é isso ou tornar-se imprensa muito local?
Há muitos jornais locais americanos que estão com suas edições apenas na internet. Temos que ser muito cautelosos. Não digo que os jornais locais de papel irão nesta direção, mas cada vez vão ser mais caros, vão circular menos e, portanto, terão menos influência. Nós estamos fazendo um jornal global de papel, como o "New York Times" e o "International Herald Tribune".

Jornais brasileiros estão ganhando hoje, mas vão passar pela mesma transformação que os europeus?
Não pela mesma crise. Mas podem ter crise de publicidade. Se é verdade que o Brasil não está numa bolha, o que vai haver é mudança tecnológica. E a mudança vai chegar à imprensa brasileira como no mundo inteiro. Pode chegar mais tarde, mas vai chegar. O aumento das tiragens de alguns jornais no Brasil, não todos, se deve ao aumento da classe média dos governos (Fernando Henrique) Cardoso e Lula, o que leva a aumento da publicidade. No curto prazo, podemos pensar em aumento da publicidade e de consumo de jornais. Isso pode atrasar a chegada da transformação, mas ela chegará. E quando chegar, vai chegar com uma velocidade impressionante.

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Quando sai a versão em português do "El País"?
Devemos fazer isso na primeira metade de 2013. O investimento foi pequeno. Vamos reforçar a informação do Brasil, mas não vamos produzir informação local. Reforçaremos a informação porque o país é a quinta economia mundial, é a Alemanha da América Latina, uma locomotiva. O jornal será impresso em São Paulo e distribuído lá, no Rio, em Brasília e, quem sabe, no Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Editores do "El País" entraram em greve. Como pensa em resolver esta batalha?
Acho que representantes dos sindicatos erraram. Tinham informação e não negociaram sobre o fim dos contratos. Preferiram fazer assembleia.

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Demissão de 129 pessoas era negociável?
Era negociável. A última oferta que fizemos foram dois anos de indenizações sem imposto, o que equivalia a quase 3 anos de salário bruto como indenização, aposentadoria antecipada, demissões voluntárias e outras coisas. Os sindicatos não aprovaram. Saíram com a metade das indenizações. Pode haver acordo na fase de apelação nos tribunais. Estamos dispostos a manter a oferta que havíamos feito.

Dizem que o senhor ganhou € 13 milhões em salários, bônus...
Não é bem isso. O que aconteceu é que eu disse que ia embora quando a empresa foi recapitalizada em 2010. Eu tenho o mesmo salário que foi se reduzindo, e vão reduzir ainda mais, do que o que tinha antes da recapitalização. Me disseram que iriam investir US$ 1 bilhão na empresa e que, se eu fosse embora, eles não investiriam. Disse "se querem que fico"... Não tinha fundo de pensão. Então me deram um número de ações no valor de € 2 cada e que hoje valem 30 centavos. Não eram € 13 milhões, digamos. Eram € 8 milhões, mas a metade vai em imposto. E com a queda das ações, que eu não vendi, hoje teria cerca de € 1 milhão.

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