Governo Bolsonaro deve ser responsabilizado pelo desaparecimento de Phillips e Pereira, escreve correspondente do Guardian

A política de Jair Bolsonaro está colocando em risco a vida dos indígenas e dos repórteres que contam suas histórias, escreve Lucy Jordan, da sucursal do Guardian em São Paulo

Bruno Pereira e Dom Phillips
Bruno Pereira e Dom Phillips (Foto: Reprodução)


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247 - "Já se passaram mais de quatro dias desde que o veterano correspondente brasileiro Dom Phillips e o especialista indígena Bruno Araújo Pereira desapareceram no Vale do Javari, uma parte remota da Amazônia ocidental que se acredita ter a maior concentração de povos isolados do mundo", escreve Lucy Jordan, da sucursal do Guardian em São Paulo .

"Pereira, um defensor de longa data dos direitos indígenas que trabalhou anteriormente para a Funai, agência de direitos indígenas do governo do Brasil, teria recebido ameaças por seu trabalho de monitoramento de atividades ilegais na região".

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"Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na madrugada de domingo enquanto viajavam de barco no rio Itaquaí, no estado do Amazonas, perto da fronteira com o Peru. Itaquaí é uma área remota, sem lei e estrategicamente importante para o tráfico ilegal, pesca e mineração. É o lar de uma presença crescente de gangues armadas. Diplomatas, ONGs e organizações de mídia agora estão pedindo ao governo brasileiro que expanda e acelere rapidamente sua missão de busca e resgate".

A jornalista opina que "a resposta oficial foi lamentavelmente inadequada".

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Lucy Jordan assinala que o exército disse inicialmente que só lançaria uma missão de resgate depois de receber ordens de um comando superior, desperdiçando horas preciosas imediatamente após o desaparecimento da dupla. Demorou dias para enviar um helicóptero para a região.

A jornalista aponta que grupos indígenas que estão fazendo buscas desde domingo divulgaram um comunicado dizendo que repetidamente pediram ajuda a várias agências federais. "No entanto, com exceção de seis policiais militares e uma equipe da Funai, órgãos federais e forças armadas estão 'ausentes do esforço', disseram". 

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"Muitos de nós repórteres aqui no Brasil conhecemos Phillips pessoalmente. Ele está aqui há 15 anos, um jornalista obstinado e perspicaz e um homem incrivelmente gentil. Ele nunca está ocupado demais para ajudar um colega repórter, uma generosidade que molda seu trabalho: ele cobre matérias subnotificadas porque se preocupa profundamente em dar voz aos grupos marginalizados do Brasil. Ele assume tarefas arriscadas porque acredita que as histórias que conta são muito importantes". 

"Claro, ainda não sabemos exatamente o que aconteceu. Mas para aqueles de nós que acompanham a sombria realidade política do Brasil nos últimos três anos, não estamos apenas tristes, preocupados e com medo. Também estamos incandescentes de raiva. Com o passar do tempo, o jogo sujo se torna uma explicação ainda mais provável. É isso, queremos gritar. Essa é a consequência lógica de três anos de incentivo à violência contra indígenas e jornalistas".

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O artigo denuncia que sob o governo de Jair Bolsonaro, "os ataques à imprensa aumentaram". 

"O governo Bolsonaro fez várias tentativas de reforçar esses rancores na lei. Vários projetos de lei tramitam no Congresso brasileiro que, direta ou indiretamente, ameaçam as terras indígenas brasileiras, seja abrindo-as a interesses econômicos como a mineração ou, em primeiro lugar, restringindo os direitos dos povos indígenas às suas terras. A mensagem que isso enviou foi claramente recebida: faça o que quiser com os indígenas porque não haverá repercussões. Invadir suas terras, derrubar suas árvores, contaminar seus rios. Até mesmo matá-los, se for preciso".

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Lucy Jordan conclui afirmando que a resposta de Bolsonaro, quando questionado sobre o desaparecimento, foi insensível e desdenhosa. "Ele parecia culpar Phillips e Pereira. Eles não deveriam estar lá, disse ele, em uma 'aventura'. Qualquer coisa poderia acontecer. Mas, como muitos dos colegas dos homens apontaram nas mídias sociais, reportar em campo não é uma aventura. Defender os direitos indígenas não é uma aventura. É um serviço público. É um imperativo moral. Um que este governo tornou ainda mais necessário e ainda mais perigoso. E é por isso que defensores e repórteres – pessoas corajosas e gentis como Phillips e Pereira – continuarão assumindo esses riscos. E por que devemos continuar responsabilizando o governo".

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