News of the World: o fim de um jornal e suas lições

O episódio demonstra que ninguém, incluindo a mídia, está imune a crises de ética. Nesse caso, a crise é tão grave que não restou opção ao grupo News Corporation a não ser fechar de vez o jornal



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O News of the World, tradicional jornal do Reino Unido, com 168 anos, circula pela última vez neste domingo. A News International, grupo do todo poderoso magnata da mídia Rupert Murdoch, não aguentou a pressão e a dimensão do escândalo dos grampos ilegais. Mergulhado na crise, o magnata liquidou com o jornal centenário. O tablóide, celebrizado por furos de escândalos de celebridades e o mais vendido no país, não resistiu ao próprio veneno. Criou-se na redação uma cultura de grampos ilegais para conseguir notícias, desde 2006.

As acusações de grampos ilegais levaram à perda de vários anunciantes do jornal britânico e ao rompimento de relações com outras organizações. O filho do magnata anunciou hoje (7), em um comunicado, que o tablóide vai fechar. O jornal vendia 2,8 milhões de exemplares no domingo.

Segundo a BBC, o atual escândalo ganhou grande repercussão na Grã-Bretanha, após a revelação de que o jornal grampeou o celular da Milly Dowler, uma garota de 13 anos que desapareceu em 2002 e foi encontrada morta depois. Durante as escutas, mensagens deixadas na caixa de recados do telefone foram apagadas, prejudicando as investigações. Ou seja, não havia limites – se é que nesse caso poderia existir – para editores e jornalistas invadirem a privacidade dos cidadãos ingleses, não importa de que classe social eles fossem. A decisão de fechar o tabloide foi rápida e decisiva, porque nem os familiares de vítimas dos atentados de julho de 2005, em Londres, foram poupados da ilegalidade.

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“- Consultei colegas mais experientes e decidi que devemos tomar uma ação mais decisiva em respeito ao jornal. A edição deste domingo será a última do News of the World - disse James Murdoch, vice-chefe de operações da News Corp, conglomerado de mídia que controlava o "News of the World".

James Murdoch repudiou a prática ilegal do jornal e afirmou que se as acusações forem verdadeiras, o uso de grampos ilegais "foi desumano e não há lugar na nossa empresa (para isso)". "Malfeitores transformaram uma boa redação numa ruim. E isso não é compreensível ou adequado", afirmou ele no comunicado. Ele informou que existem pessoas presas por envolvimento nos grampos, mas que a direção do jornal falhou em não ter aprofundado a investigação.

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"O News of The World tem a missão de fiscalizar e responsabilizar (as pessoas). Mas não fez isso consigo mesmo”, afirmou James Murdoch.

O tabloide, de propriedade da mesma empresa que edita os diários The Sun e The Times, controlada pelo magnata australiano Rupert Murdoch, também é acusado, desde 2006, de ter pago detetives para interceptar mensagens telefônicas de celebridades, políticos e esportistas. Há informações de que chegaram a pagar 100 mil libras (R$ 260 mil) a detetives e policiais como propina.

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Crise liquida com jornal

Segundo a BBC, as revelações feitas pelo jornal The Daily Telegraph de que a polícia encontrou celulares de familiares dos soldados mortos nos arquivos do detetive particular do News of the World, Glenn Mulcaire, provocou revolta nos parentes. O coronel Richard Kemp, ex-comandante das forças britânicas no Afeganistão, disse que as acusações o deixaram "absolutamente sem palavras e com raiva".

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Ontem, diante dessas revelações, aliadas às gravações no celular da adolescente desaparecida em 2002, o primeiro-ministro David Cameron pediu uma investigação rigorosa do escândalo. A oposição criticou o primeiro-ministro, pelas proximidades dele com o jornal, o que teria retardado uma apuração mais rigorosa. Não esquecer que, além da News Corporation ter apoiado a eleição do Partido Conservador no Reino Unido, o editor do jornal, quando o escândalo dos grampos estourou, Andy Coulson, se tornou, logo após a eleição, diretor de comunicação do primeiro-ministro. Coulson pediu demissão quando o escândalo do jornal começou a tomar proporções incontroláveis.

Em 2009, no artigo Tablóide inglês grampeia fontes e estimula discussão sobre ética, publicado neste site, informamos que os jornais concorrentes do grupo de Murdoch já vinham batendo duro no jornal. E não era para menos. Começaram a aparecer processos de atores, cantores e políticos, quando descobriram terem sido grampeados. Criou-se na publicação uma cultura de grampear celebridades, com a maior desfaçatez, e nem o Palácio de Buckingham foi poupado. Revelações sobre doença de membros da corte britânica vazaram, informações essas obtidas também por grampos ilegais, o que gerou na época o afastamento do jornalista que cobria a família real.

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Nesta quinta-feira, a Legião Real Britânica informou que deixará de ter o tabloide como parceiro em suas campanhas, até que sejam esclarecidas todas as denúncias de que famílias de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão também teriam sido alvo de grampos, realizados pelo jornal.

Calcula-se que 4 mil pessoas serão ouvidas pela Scotland Yard, no processo, neste que é um dos maiores escândalos da história da mídia britânica. Segundo fontes do jornal "Times", cinco jornalistas e executivos do tabloide, suspeitos de envolvimento no caso, serão presos nos próximos dias. Nesta tarde, circularam informações em Londres de que o ex-editor e ex-diretor de comunicação de Cameron, Andy Coulson, será preso amanhã, dia 8.

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O episódio demonstra que ninguém, incluindo a mídia, está imune a crises de ética. Nesse caso, a crise é tão grave que não restou opção ao grupo News Corporation a não ser fechar de vez o jornal, procurando cortar o mal pela raiz. Caso contrário, todo o grupo seria contaminado pelo processo que a Justiça está movendo contra a publicação e dezenas de envolvidos. E certamente levará muito tempo para se encerrar.

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