Não subestime o poder da linguagem do corpo
Barack Obama pecou nesse elemento no debate realizado contra o adversário republicano Mitt Romney. Analistas dizem que o presidente dos EUA foi derrotado
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A mídia amanheceu na quinta-feira, 4 de outubro, cheia de análises e pesquisas sobre o desempenho dos candidatos à presidência dos EUA, após o primeiro debate para as eleições de novembro, realizado em Denver. A maioria das pesquisas aponta a vitória de Romney no debate, por ter sido mais incisivo, com respostas mais contundentes e bem formuladas, mas principalmente pela linguagem corporal. Obama estava irreconhecível, cansado, olhava para baixo, denotava desatenção e pouco encarava o interlocutor. Não era o Obama convincente da primeira campanha, famoso pela sua performance nos palanques.
Na preparação para Media Training, as fontes se preocupam muito com o conteúdo. Procuram dominar o tema para não fazer feio. Se a entrevista for para a mídia impressa, o cuidado também deve ser para a melhor foto. Uma péssima imagem na ilustração da matéria pode fazer um estrago bem grande, mesmo numa revista ou jornal. Não deve ter sido diferente com Romney e Obama, quando se prepararam para o debate. Com um agravante: a televisão expõe com toda a crueza fragilidades na postura, na forma como o corpo fala.
Na entrevista para a televisão, planejar e preparar as mensagens-chave é muito importante, até porque as respostas devem ser curtas, editadas, para evitar cortes que alterem a mensagem principal. Mas as fontes precisam também levar em conta um aspecto de vital importância de como essa mensagem chegará ao telespectador ou à plateia, num auditório.
Primeiro, se a mensagem será ouvida e compreendida. Para isso, a qualidade do som é fundamental. Depois, concisão, objetividade, frases curtas e mais substantivos do que adjetivos. Mas também conta, para reforçar a mensagem, a linguagem do corpo. A forma como o porta-voz, o palestrante, o professor se apresenta – roupa, semblante, gestos, movimentos corporais na frente das câmeras ou no auditório - imprime uma força extraordinária à compreensão da mensagem. Isso vale também para olhar, tom da voz, ritmo, sotaque, tropeços, vícios de linguagem, cacoetes, esgares, intimidade com o microfone, equipamentos, etc.
Basicamente, a linguagem do corpo expõe o nível de confiança do interlocutor; gestos manuais; o arrastar ou balançar dos pés; o tom e ritmo da voz; expressões faciais e o contato do olhar. Ali na tela se revela com toda crueza a intimidade ou não do entrevistado com as câmeras.
Pesquisa realizada nos Estados Unidos pelo professor universitário Albert Mehrabian constatou que num discurso, entrevista ou palestra o peso dos elementos da comunicação interpessoal estão assim distribuídos: linguagem do corpo: 55%; tom e ritmo da voz: 38%; palavras pronunciadas: 7 a 12%. A mensagem comunicada, portanto, chega à audiência por meio dessas três expressões. O conteúdo, naturalmente, é muito importante. Por mais que se esforce um candidato para ser claro na mensagem, com som de excelente qualidade, a dicção impecável, o peso das palavras nesse mundo audiovisual é relativamente pequeno. Somente 7 a 12%. É o que eles lembram.
O tom e o ritmo da voz tem um peso bem maior, entre 33 a 38%. Uma mesma frase pronunciada de forma corporal diferente pode dar múltiplas interpretações. Se quer enfatizar uma mensagem-chave, numa entrevista de crise, por exemplo, é preciso imprimir tom correto e ritmo. Passar credibilidade também na velocidade do discurso e na ênfase nas sílabas finais, como tão bem fazem os atores no teatro, no cinema e na televisão.
O terceiro elemento é a linguagem do corpo, onde Obama pecou no debate. Ele deveria saber que sua imagem estava aparecendo na tela junto com a de Romney, enquanto este falava. Obama olhava para baixo, meio curvado, parecendo enfadado e às vezes até com ar superior. Como se dissesse (corporalmente)... "eu tenho que aturar essas bobagens!"
Esse elemento corporal é tão importante que as pesquisas de credibilidade lhe dão uma força de 55% na mensagem, dependendo de como são os movimentos na hora do discurso. A audiência captura isso no subconsciente e a compreensão da mensagem tem muito a ver com isso.
Essa lembrança pode ser mais forte do que a própria mensagem. Gestos fortes, postura corporal elegante, comedida, imponente, junto com um discurso verbal impecável, pode ser a fórmula do sucesso dos grandes oradores de que, no Brasil, foram exemplos Leonel Brizola, Carlos Lacerda, Afonso Arinos de Melo Franco e, no século XIX, Rui Barbosa. Juscelino Kubitschek também tinha uma certa elegância corporal quando falava, por isso cativava. Além de John Kennedy, famoso pelo charme e empatia que transmitia ao falar; Martin Luther King, Winston Churchill, para falar apenas nos mais famosos.
Mesmo nas entrevistas para jornais ou revistas, nas coletivas, portanto, repórteres que ficam face a face com as fontes, estão de olho na linguagem corporal. Principalmente quando são entrevistas constrangedoras, de temas indigestos para as fontes. Se a entrevista for por telefone, eles terão o tom da voz e o ritmo para fazer seu julgamento, avaliando sinceridade, nervosismo, insegurança e controle ou não da situação.
O público na televisão também está de olho nessas qualidades. Não são apenas os analistas e marqueteiros dos candidatos. Mensagens são comunicadas subliminarmente pela linguagem do corpo. As câmeras são implacáveis nesses encontros, palestras, aulas e entrevistas. Imagine como essas qualidades do executivo serão avaliadas numa entrevista de crise? Elas podem também ser decisivas para decidir o voto entre eleitores que valorizam cada vez mais a imagem.
A história registra a virada de John Kennedy (1917-1963) sobre Nixon, na eleição de 1960, numa das disputas mais apertadas da história americana. Kennedy tinha uma imagem impecável, além de muito bem preparado. Nixon suava, parecia acuado. Foi crucificado pelas câmeras. Kennedy quebrou tabus por ser o primeiro presidente americano católico, nascido no século XX e durante a I Guerra Mundial. Quem disse que linguagem corporal não decide eleição?
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