Na Unesco, Felipe Neto defende responsabilização de redes sociais por estímulo à radicalização

"Estamos em uma guerra pela atenção em que as companhias precisam roubar nossa atenção, e usam todas as armas possíveis para nos manter presos àquilo", disse o youtuber

Felipe Neto
Felipe Neto (Foto: Divulgação/Unesco)


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RFI - A Unesco começou nesta quarta-feira (22) uma conferência global para debater os princípios que devem nortear a regulamentação das plataformas digitais para combater a desinformação e garantir os direitos humanos. Um dos convidados brasileiros a falar no primeiro dia do evento foi o youtuber Felipe Neto que, no painel de abertura ao lado da jornalista e prêmio Nobel da Paz Maria Ressa, falou sobre sua experiência como alvo de campanhas de ódio e defendeu a regulamentação das gigantes digitais. 

Durante a conversa, o brasileiro destacou o papel do sistema de recomendações de vídeos e conteúdos nas redes sociais para a radicalização do discurso em busca de pessoas conectadas cada vez por mais tempo.

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"Recomendações é o modelo inteiro de negócios dessas companhias e é como eles ganham dinheiro. E esta é a raiz do problema. Estamos em uma guerra pela atenção em que as companhias precisam roubar nossa atenção de uma para outra, e usam todas as armas possíveis para nos manter presos àquilo", afirmou. 

E foi aplaudido por toda a sala ao dizer que as gigantes digitais, como a Meta e o Youtube, devem passar a participar ativamente nessa busca pela melhora do ambiente digital. "As plataformas precisam ser responsáveis. Elas continuam pedindo para que os Estados que as regulem, elas devem parar de pedir regulação. Venham para a mesa e sejam responsáveis pelo que estão fazendo. Parem de apenas pedir às pessoas que elas resolvam os problemas que as companhias criaram."

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Em entrevista à RFI Brasil, Felipe Neto afirmou que o modelo de negócio das empresas de mídia social trabalha na contramão do interesse público.

"A empresa precisa que você fique o máximo de tempo online dentro da plataforma. Para isso, ela vai te recomendar todo tipo de vídeo que te mantenha conectado. E o que mais mantém as pessoas conectadas são conteúdos que radicalizam opiniões porque eles normalmente são fake news, são teorias conspiratórias, despertam fúria, despertam interesse. Então, enquanto o interesse econômico da plataforma for manter você online o máximo de tempo possível pela sua atenção, mais vai estar na contramão do nosso interesse público, que é criar uma sociedade de debate", defendeu.

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Para ele, mudar o sistema de negócio dessas empresas é fundamental "para garantir mais harmonia no ambiente digital".

'Regulamentação não é censura'

Atacado nas redes sociais por defender a regulamentação das redes sociais, Felipe Neto afirma que é preciso um trabalho de esclarecimento ao público sobre o significado e a importância desse tipo de norma.

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"A extrema direita está tentando criar um tom pejorativo para o termo regulamentação. Eles acham que regulamentar significa proibir, significa censurar. Não é nada disso. A Constituição é uma espécie de regulamentação. Você cria uma série de regras que vão ter suas responsabilidades, seus direitos, seus deveres."

Para ele a vida digital já faz parte de nosso cotidiano e ter uma "Constituição e códigos que criem as regulamentações para se conduzir essa vida digital é fundamental e isso vai garantir não só as responsabilidades e os crimes, mas também vai garantir os nossos direitos. Hoje nós não temos nada que garanta os nossos direitos digitais. Então, uma decisão monocrática pode derrubar uma página".

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Sobre o debate polêmico em torno da desinformação de quem é o responsável por determinar o que é falso ou verdadeiro, Felipe Neto considera que essa decisão deve ser tomada em conjunto após debates transparentes e inclusivos. E lembrou que a determinação das leis do Código Civil também deve ter causado polêmica.

"Quem vai ditar o que é certo e errado, que é uma grande pergunta que é feita por aí, não funciona dessa forma. O que a gente precisa é de debate. Alguém em algum momento criou as regras que compõem hoje o Código Penal e , com certeza, teve alguém na época quando aquilo era elaborado que dizia: 'quem vai dizer o que é crime e o que não é? Da mesma forma, nós temos agora que debater, conversar e através do diálogo, através da moderação, conseguiremos chegar a essas respostas."

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Luta contra desinformação e radicalização deve incluir influenciadores

Com 44 milhões de seguidores no Youtube, Felipe Neto diz que deve haver mais espaço para a participação de influenciadores neste debate. E recomendou durante a conferência da Unesco a expansão deste diálogo.

"Hoje temos muitos influenciadores que estão sendo cooptados por esse caminho da desinformação e da radicalização. E se a Unesco, a ONU e outras instituições trouxerem esses influenciadores para perto para mostrar para eles a importância de divulgar o jornalismo sério, o jornalismo científico?", provocou.

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Ele considera que os influenciadores podem usar de seus conhecimentos para ampliar o alcance de informações de interesse público. "Com isso, a gente pode atingir resultados incríveis. Eu testei isso no segundo turno das eleições brasileiras e foram 300 milhões de visualizações com conteúdos que eu criei desmentindo as fake news. Então, é possível fazer, a gente precisa trazer os influenciadores para perto e mostrar para eles que vale a pena fazer esse tipo de coisa", argumentou.

Guia de diretrizes deve ser publicado pela Unesco ainda este ano

Até quinta-feira (23), mais de quatro mil participantes vão discutir que tipo de regulamentação pode ser aplicada às redes sociais para proteger a democracia, os direitos humanos sem afetar a liberdade de expressão dos cidadãos.

O esboço de um guia de princípios globais para a regulação do ambiente digital está sendo discutido durante a conferência.

"Todos estão de acordo que temos um problema com o espaço digital, que tem uma série de conteúdos que podem gerar problemas para a democracia, para os direitos humanos. Mas não há acordo sobre como resolver este problema. Essas diretrizes tentam propor um mapa da mina sobre como resolver esse problema", explica Guilherme Canela, chefe de Liberdade de Expressão e Segurança dos Jornalistas na Unesco.

O documento, criado com múltiplos atores, aponta, entre outras coisas, a necessidade de transparência sobre a moderação de conteúdos em plataformas como o Youtube e o Facebook, além da responsabilização sobre a manutenção de mensagens contra os direitos humanos ou a democracia.

A Unesco vai receber colaborações para aprimorar este documento, escrito com ajuda de governos, especialistas, sociedade civil e empresas, nos próximos meses e espera lançar ainda neste primeiro semestre um documento final com recomendações de controle das redes sociais.

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