Miriam vê "comédia de erros" no setor de combustíves

Colunista do Globo avalia que "o governo vem errando há anos no setor de combustíveis"

Miriam vê "comédia de erros" no setor de combustíves
Miriam vê "comédia de erros" no setor de combustíves


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247 - O governo vem errando há anos e o consumidor não está satisfeito. É essa a avaliação da colunista do Globo Miriam Leitão, em seu artigo desta sexta-feira 1º. Segundo ela, houve um jogo de perde-perde na área de combustíveis e, o pior: "não foi por falta de aviso".

Leia abaixo a íntegra do artigo:

Comédia de erros

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Não foi por falta de aviso. Inúmeros analistas alertaram para o jogo de perde-perde que o governo estava jogando na área de combustíveis. O consumidor acha que paga demais, o investimento no setor de transporte perdeu uma fonte de arrecadação, os produtores de etanol ficaram confusos. A Petrobras tem perdas, o déficit externo da empresa cresceu, a poluição aumentou.

O governo vem errando há anos no setor de combustíveis. Deu incentivo anos seguidos, através de redução do IPI, para o carro particular, sem investir na melhoria das vias urbanas e nas rodovias. Uma fonte importante para esse financiamento era a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, a Cide. Ela foi sendo reduzida para não aumentar o preço da gasolina na bomba.

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O fato é que o consumidor não sentiu alívio porque ora foi o álcool que ficou mais caro, ora foram os postos de gasolina que elevaram preços. Mas a Petrobras ficou na estranha situação de ter que importar gasolina a um preço maior do que poderia cobrar das distribuidoras. Para diminuir a perda da estatal, o governo foi reduzindo impostos que incidem sobre o produto e assim o consumo foi aumentando. Incentivou o aumento da demanda de um combustível que precisava ser importado.

Incentivar a gasolina, cuja produção interna é insuficiente, já é bem esquisito, mas fazer isso aumentando o prejuízo da Petrobras e o seu déficit da balança comercial é realmente sandice. No ano passado, o Brasil importou US$ 9,1 bilhões a mais do que exportou no grupo combustíveis e lubrificantes. O rombo, na verdade, é maior, porque a Receita alterou as regras para o envio das estatísticas e grande parte das importações feitas em 2012 será contabilizada em 2013.

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Além disso, esse produto cujo consumo o governo incentivou durante tanto tempo tem dois efeitos colaterais ruins: piora a qualidade do ar, aumentando doenças respiratórias; torna incerto o planejamento das empresas que fazem o combustível derivado da cana-de-açúcar. Canavieiros deixaram de investir em renovação de canavial, usinas programadas deixaram de ser instaladas, usineiros preferiram exportar açúcar. O etanol ficou mais escasso e, portanto, mais caro, até porque a gasolina estava subsidiada. Todo investimento feito em ter uma frota de carros flex foi inútil porque os carros, tendo duas opções, preferiam a gasolina. Houve um tempo tão maluco que o Brasil começou a importar etanol após passar anos brigando para derrubar barreiras ao etanol brasileiro no mercado americano.

Os equívocos da política energética vão muito além do setor em si. O vice-presidente da Abimaq, José Velloso, explicou que 35% das 1500 empresas que participam da associação estão direta ou indiretamente ligadas à cadeia de óleo e gás. Por isso, o fraco desempenho da Petrobras, com atrasos em projetos importantes, e também o travamento do setor sucroalcooleiro afetaram as encomendas de máquinas nacionais.

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- Há cinco anos não há rodadas de licitação de campos de petróleo, a refinaria Abreu e Lima sofre atrasos constantes, o Comperj ainda não saiu do papel. O setor de álcool travou, porque o subsídio à gasolina tirou competitividade do produto. Mais de um terço das empresas da Abimaq têm relação com o setor de petróleo e gás. Então os equívocos da política energética nos afetaram bastante nos últimos anos. Houve menos encomendas de máquinas por causa disso - disse Velloso.

E como se tudo isso não bastasse, as ações da Petrobras despencaram durante esse período porque o mercado está convencido de que ela é usada para objetivos que não têm racionalidade econômica. Nada justifica, por exemplo, o gasto com uma refinaria feita sob encomenda para o petróleo venezuelano e na qual a Venezuela se negou a fazer os investimentos prometidos.

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Os subsídios e isenções tributárias são dados para informar à economia sobre a direção que o governo pensa ser a mais adequada ao longo prazo. Até agora, os sinais dados foram que se deve consumir bastante gasolina, abandonar o álcool, emitir mais gases de efeito estufa, gastar o volume de dinheiro que for necessário para que o petróleo da Venezuela tenha uma usina no Brasil, e reduzir a tributação que seria destinada aos investimentos das rodovias e transportes coletivos. E o dono do carro continua achando a gasolina cara demais. Não teve o efeito político desejado.

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