Lula no "Le Monde", um manifestante prisioneiro do jogo político e jurídico

Jornal Le Monde lista a trajetória do ex-presidente Lula em notícias publicadas pelo veículo francês

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: RICARDO STUCKERT)


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247 - O jornal francês Le Monde publicou neste domingo (9) texto com a trajetória política do ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

A crônica de Benoit Hopquin descreve as menções a Lula no jornal francês, desde o líder metalúrgico, os seus dois governos, a perseguição política e a liderança na disputa com Jair Bolsonaro.

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Leia a tradução na íntegra:

Lula em "Le Monde", um manifestante prisioneiro do jogo político e jurídico

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O ex-presidente brasileiro que disputa um novo mandato conheceu as mais altas honras políticas e a indignidade da prisão. Seu nome apareceu no jornal diário em 18 de maio de 1978, quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

Benoit Hopquin | Le Monde

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A vida de Luiz Inácio da Silva, conhecido como Lula, que saiu por cima no primeiro turno da eleição presidencial brasileira em 2 de outubro, é feita de altos e baixos. Às vezes içado à Presidência do país, às vezes jogado atrás das grades, esse homem oscilou entre dois extremos.

Foi realmente? 

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Pode-se fazer a pergunta lendo os artigos do Le Monde sobre ele. A bolha administrativa e política de Brasília ou o constrangimento da prisão, não seriam essas duas formas de reclusão? O tribuno capaz de agitar multidões e fazer o mais pobre sonhar com um futuro melhor se viu constrangido em ambos os casos, seja pelo exercício compulsório do poder ou pelas grades de uma cela.

À medida que o Brasil saía de quatorze anos de ditadura, Luiz Inácio da Silva apareceu nas colunas do jornal em 18 de maio de 1978, depois em 12 de setembro, em dois artigos do correspondente Thierry Maliniak sobre greves de trabalhadores. Ele era o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e, aos 33 anos, um dos grandes líderes. Os exilados políticos da esquerda voltavam e pensam em retomar a chefia da oposição, mas o autêntico filho do povo que enfrentou os generais e foi preso duas vezes pensava assim.

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Aquele que Thierry Maliniak agora chama pelo seu famoso apelido, Lula, denuncia, em 23 de dezembro de 1978, nesses fantasmas “os velhos moldes e os velhos caciques”. O jornalista nota “a crescente importância em nível nacional” do dirigente sindical, um autêntico trabalhador. Essa aura nascente foi confirmada em 1979, quando os partidos foram novamente autorizados. 

Emergindo dos poderosos movimentos grevistas que liderou, Lula criou o Partido dos Trabalhadores, “um canal de expressão política efetiva para os trabalhadores e todos os setores explorados pelo capitalismo”, segundo os estatutos. O correspondente do Le Monde relata o ceticismo dos partidos tradicionais de esquerda, mas também de muitos outros sindicalistas perante esta entidade.

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Cortado em seu caminho para o topo

Ainda assim, o homem torna-se cada vez mais popular. E preocupa o poder. Em fevereiro de 1981, ele foi novamente condenado a três anos e meio de prisão por uma greve ilegal, relata Charles Vanhecke. E foi solto sob fiança, pois o objetivo principal era impedi-lo de concorrer às eleições de novembro de 1982.

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Em 3 de fevereiro daquele mesmo ano, o correspondente do Le Monde descreveu, em longa entrevista que lhe concede Lula , esse personagem ainda desconhecido na França, “sua voz áspera, o cabelo e barba espessos, seu tronco como tribuno popular”. Na ausência de um programa, o estilo é definido.

Sete anos depois, Lula consegue, para surpresa de todos, o segundo turno da eleição presidencial contra o candidato de direita Fernando Collor de Mello. Uma nova oportunidade para Charles Vanhecke descrever, em 21 de novembro de 1989, a complexidade do personagem, um “negociador nato” com “uma linguagem tão quadrada quanto suas mãos, autêntica até na maneira de confessar seu gosto por bebidas fortes”.

No entanto, a subida parece falhar. Nas eleições de 1994 e 1998, Lula foi duramente derrotado pelo social-democrata [Fernando Henrique] Cardoso. Jean-Jacques Sévilla a vê, em 3 de outubro de 1998, como “o canto do cisne” de um político cujo repórter saúda “a trajetória política sem equivalente na história recente do Brasil”. Na ausência de prisão, ele é condenado ao esquecimento.

Poder pragmático

Uma reviravolta em 2002: o inafundável Lula era eleito presidente de um Brasil em plena crise econômica. Se as bandeiras hasteadas por seus partidários permanecem vermelhas e as referências visuais a Cuba são onipresentes, o homem entretanto suavizou seu discurso, adiando um pouco menos o confronto com a comunidade empresarial. “No centro, tudo”, resumiu Sylvie Kauffmann em 28 de outubro, lembrando que, fracasso após fracasso, Lula foi comparado a “um avião que sempre decola, mas nunca aterrissa”. Erroneamente.

Em coluna publicada em 19 de fevereiro de 2003, a primeira de uma longa série de pontos de vista que Lula concederá ao Le Monde, o chefe de Estado se engaja em uma empreitada de alto vôo para conciliar realismo econômico e promessas de dias melhores. “Uma mudança de modelo econômico não se faz em um dia”, afirma o novo presidente, assumindo assim um pouco mais de seu reformismo.

Lula foi reeleito triunfalmente em 2006. “Um primeiro mandato pautado pelo pragmatismo econômico”, afirmava, em 26 de setembro, uma manchete do Le Monde, que dizia que “Lula conseguiu, mesmo assim, reduzir a pobreza”. Em 2009, Le Monde o designa pela primeira vez — e de forma efémera — a personalidade do ano. Lula é escolhido. “Pareceu-nos que, por sua singular trajetória de ex-sindicalista, por seu sucesso à frente de um país tão complexo como o Brasil, por sua preocupação com o desenvolvimento econômico, a luta contra as desigualdades e a defesa do meio ambiente, Lula merecia... do mundo”, escreveu Eric Fottorino, diretor do jornal.

Um mito quebrado

Em 2010, ao final de seu segundo mandato, o presidente brasileiro escolheu Dilma Rousseff para sucedê-lo. Mas o governo é prejudicado por casos de corrupção. Em 2015, o correspondente Nicolas Bourcier anunciou que uma investigação havia sido aberta contra Lula, “suspeito de tráfico de influência”. Os processos judiciais estão se acumulando e quebrando o mito. “Idolatrado ontem, Lula da Silva virou um florete”, observa Claire Gatinois, em 1º de novembro de 2015, ao relatar o estado da opinião pública. 

“Embora Lula exaspere alguns eleitores, ele mantém essa capacidade de cativar multidões, essa capacidade de usar palavras simples para falar aos humildes e saber apaziguar os trabalhadores de colarinho branco”, tempera a jornalista.

Isso se confirma em 2018. Lula volta a liderar as pesquisas para a eleição presidencial. Mas ele foi condenado no mesmo ano a uma sentença de 12 anos e um mês por lavagem de dinheiro. E volta para a cela da prisão. Dizemos pela enésima vez politicamente terminado. “Por que eu quero ser presidente do Brasil de novo?”, ele desafiou em uma coluna publicada no Le Monde em 18 de maio de 2018.

Embora preso, deu nova entrevista diária no dia 13 de setembro de 2019 e foi fotografado na sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele conspira lá contra Jair Bolsonaro, o novo presidente da extrema direita. Libertado após um ano e meio de prisão, Lula recupera seus direitos políticos em 2021. Um ano depois, está às portas do poder.

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