Luis Felipe Miguel rebate Joel Pinheiro: não é possível dissociar golpe contra Dilma, Lava Jato e eleição de Bolsonaro
Professor de Ciência Política da UnB Luis Felipe Miguel afirmou que o colunista da Folha de S. Paulo Joel Pinheiro da Fonseca se inclui na “direita moderada”, que agora renega Jair Bolsonaro, mas evita fazer autocrítica e condenar o golpe contra a presidente deposta Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato
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247 - O professor de Ciência Política da UnB Luis Felipe Miguel afirmou que o colunista Joel Pinheiro da Fonseca se inclui na “direita moderada”, que agora renega Jair Bolsonaro, mas evitafazer autocrítica e condenar o golpe contra a presidente deposta Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato. "Não faltam motivos para condenar Bolsonaro, mas, se um deles inclui o apreço à democracia e ao Estado de Direito, não é possível deixar de condenar igualmente a Operação Lava Jato e o impeachment fraudulento da presidente Dilma Rousseff", diz o cientista político em uma réplica a um artigo de Fonseca na Folha de S. Paulo em que o jornalista afirma não existem motivos para se arrepender do processo que resultou no afastamento de Dilma do Planalto
“Fonseca se inclui na “direita moderada” —curiosa definição para alguém que se construiu como vulgarizador de uma versão extrema do fundamentalismo de mercado. É uma doutrina que reduz todos os direitos ao direito de propriedade (ao ponto de achar que a venda de órgãos é uma ideia digna de atenção) e nega que a solidariedade e a justiça social sejam valores legítimos para orientar a organização do mundo social”, destaca Miguel no texto do artigo.
“A narrativa do colunista da Folha tem como marco zero as manifestações populares de 2013. Adere a uma leitura simplória e mistificadora, que tem uma chave única, a ‘profunda desconexão entre o brasileiro médio [sic] e a classe política’. É tão equivocada quanto a de alguns círculos petistas, que entendem que as jornadas de junho teriam sido a preparação do golpe, quem sabe sob orientação da CIA” observa Luis Felipe Miguel.
Para ele, “o golpe de 2016 só ocorreu graças à pressão dos grupos radicais de direita, com pouca presença parlamentar, mas com a capacidade de empurrar seus aliados mais moderados para além de seus planos iniciais. Diversos entre si, esses grupos tinham, no entanto, pontos de contato significativos, em particular um discurso de recusa à solidariedade e de negação de direitos”.
“Foi um golpe alimentado por um discurso regressista. Sua deflagração mostrou que, no Brasil, deixavam de vigorar os dois pilares básicos da compreensão mais minimalista de democracia: o respeito aos resultados eleitorais e o império da lei. Uma presidente legitimamente eleita foi retirada do cargo com base em pretextos frágeis. O artigo de Fonseca serve, inadvertidamente, de comprovação, ao fazer uma empolgada defesa da derrubada de Dilma, mas passando ao largo dos motivos que pretensamente embasariam um impeachment”, acrescenta. “Este foi, em suma, o objetivo do golpe: impedir que o campo popular continuasse a ser admitido como interlocutor legítimo do jogo político”, afirma Miguel no texto.
“Os excessos de Bolsonaro incomodam o colunista da Folha, mas a democracia também o incomoda. Incapaz de fazer a autocrítica de suas opções no passado recente, ele permanece preso à fantasia impraticável de um governo antipovo, mas ‘limpinho’, capaz de exacerbar a exploração sem ampliar a repressão e sufocar a cidadania. Não faltam motivos para condenar Bolsonaro, mas, se um deles inclui o apreço à democracia e ao Estado de Direito, não é possível deixar de condenar igualmente a Operação Lava Jato e o impeachment fraudulento da presidente Dilma Rousseff”, finaliza.
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