Jornalista denuncia método de censura das massas e controle de informação pelo imperialismo

Caitlin Johnstone denuncia que o controle da narrativa necessita de cinco elementos: propaganda, censura, manipulação de algoritmos, segredos de Estado e perseguição a jornalistas

Ilustração da autora | PROPAGANDA – CENSURA – MANIPULAÇÃO POR ALGORÍTMOS – SEGREDOS DE GOVERNO – GUERRA CONTRA O JORNALISMO
Ilustração da autora | PROPAGANDA – CENSURA – MANIPULAÇÃO POR ALGORÍTMOS – SEGREDOS DE GOVERNO – GUERRA CONTRA O JORNALISMO (Foto: Caitlin Johnstone / caitlinjohnstone.com / Reprodução)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O Controle da Narrativa Imperial Tem Cinco Elementos Diferentes 

Artigo de Caitlin Johnstone* originalmente publicado em seu site. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

Todos os piores problemas do nosso mundo são criados pelos poderosos. Os poderosos continuarão a criar estes problemas até que as pessoas comuns usem a sua maioridade numérica para fazê-los parar. As pessoas comuns não usam os seus números superiores para fazer parar os poderosos, porque os poderosos manipulam constantemente a compreensão da maioria sobre o que está acontecendo.

continua após o anúncio

Os seres humanos são contadores de estórias. Se você conseguir controlar as estórias que os seres humanos contam para si próprios sobre o mundo, você controlará os seres humanos e você controlará o mundo.

A narrativa mental desempenha um papel imensamente proeminente na vivência humana; se você alguma vez tentou aquietar a sua mente em meditação, você sabe exatamente do que eu estou falando. O balbuciar de estórias mentais dominam a sua vivência da realidade. Então, faz sentido se você pode influenciar estas estórias, aí você está influenciado a experiência da realidade de alguém. 

continua após o anúncio

Os poderosos manipulam as narrativas dominantes da nossa sociedade com aproximadamente cinco métodos principais: propaganda, censura, manipulação dos algorítmicos do Vale do Silício, segredos de Estado e a guerra contra o jornalismo. Assim como os cinco dedos de uma mão, eles diferem um do outro e cada um desempenha o seu próprio papel, porém eles todos são parte da mesma coisa e trabalham juntos pela mesma meta. Eles são apenas aspectos diferentes do sistema de controle da narrativa do império centralizado dos EUA.

1. Propaganda 

A propaganda é o sistema de criação de narrativas do império. Enquanto os outros quatro elementos de controle da narrativa imperial estão voltados principalmente a evitar que narrativas inconvenientes circulem, a propaganda é o meio pelo qual o império gera narrativas que lhe trazem benefícios.

continua após o anúncio

Aquele líder estrangeiro é um ditador e precisa ser removido. Aquele político inconveniente é sinistro de alguma maneira e não se deve permitir que ele lidere. O seu governo ama os direitos humanos e todas as suas guerras são humanitárias. Eleições funcionam. O capitalismo é ótimo. Você pode confiar em nós, nós somos os caras bons.

Você verá variações sobre estas narrativas e outras similares que são despejadas um dia após o outro pelas mídias corporativas e por Hollywood. A classe rica proprietária das mídias protege os interesses da sua própria classe ao contratar executivos de mídia cuja visão de mundo corresponde à deles; e estes executivos contratam subalternos com a mesma visão de mundo, e estes últimos contratam como seus subalternos pessoas com a mesma visão de mundo – assim, antes que você se dê conta, você está olhando para um conglomerado de mídias cheio de pessoas que apoiam a política do status quo da classe proprietária das mídias, cujos reinos são construídos sobre este status quo.

continua após o anúncio

Na verdade, estas instituições gigantes de mídia estão tão comprometidas a proteger o status quo, que eles têm um grau muito alto de sobreposição com outras instituições responsáveis por manter o status quo imperial, como o cartel de inteligência dos EUA. A casta dos especialistas das notícias agora é composta de “antigas” autoridades da inteligência e, quando há uma narrativa que uma agência de inteligência quer que seja publicada, ela simplesmente usa um oficial ou um representante para sussurrá-la para um repórter da mídia institucional e este repete de maneira não-crítica aquela narrativa disfarçada de notícia.

Os repórteres que trabalham neste sistema não são explicitamente orientados a gerar propaganda para proteger o poder do status quo. Ao invés disso, eles desenvolvem uma sensibilidade para o tipo de reportagem que será publicada e que merecerão um “é isso aí, cara” na redação ou as que serão mal-vistas e farão com que as suas carreiras entrem em estagnação. Caso eles não consigam navegar o sistema desta maneira, você simplesmente jamais ouvirá falar deles, porque as carreiras deles desapareceram gradualmente.

continua após o anúncio

2. Censura

A propaganda se volta para implantar narrativas favoráveis ao império oligárquico em frente às pessoas, enquanto que a censura trata de manter as narrativas desfavoráveis longe da visão do público. Há muito tempo vemos isso expresso na maneira pela qual a mídia institucional de massa simplesmente se recusa a prover qualquer plataforma ou qualquer voz aos críticos do capitalismo e do imperialismo; porém o gerenciamento da narrativa imperial tem exigido toda uma nova ordem de censuras desde que o acesso à internet se tornou ampla

Devido ao fato que a sua ampla capacidade de compartilhar ideias e informações representa uma importante ameaça ao controle imperial da narrativa, os gerentes do império têm trabalhado para normalizar e expandir a censura às plataformas de internet – como Google/YouTube, Meta/Facebook/Instagram e Twitter. Qualquer espaço online no qual um grande número de pessoas se juntam se verá pressionado pelo governo dos EUA a remover um espectro cada vez mais amplo de conteúdo em nome da segurança pública, da segurança das eleições, por conter um vírus ou simplesmente para evitar que as pessoas tenham maus pensamentos sobre a guerra.

continua após o anúncio

À cada tantos meses, desde as eleições de 2016 nos EUA, nós temos sido alimentados com uma nova razão pela qual é preciso haver mais censura na internet – o que sempre é seguido por uma purga gigante de conteúdos recém banidos e das contas que os criaram. Esta tendência foi dramaticamente ampliada com a guerra na Ucrânia, quando, pela primeira vez, não há pretensão alguma sendo feita de que o conteúdo está sendo censurado para proteger o interesse público; ele está sendo censurado simplesmente porque está em desacordo com aquilo que o governo ocidental e as instituições de mídia nos contam.

3. Manipulação dos algoritmos pelo Vale do Silício

Este aspecto se relaciona tanto com a propaganda quanto à censura, porque facilita a ambos. As autoridades do Vale do Silício admitiram que manipularam os seus algoritmos para assegurar que a mídia independente não seja muito vista, enquanto elevaram artificialmente as publicações dos veículos de mídia de massa, tendo como base que eles eram as “fontes com autoridade” de informação, apesar do fato que estas “fontes com autoridade” nos mentiram sobre cada guerra.

continua após o anúncio

A manipulação dos algoritmos feita pelo Vale do Silício causa mais dano do que as formas evidentes de censura online, porque as suas consequências têm um alcance muito maior e porque as pessoas sequer sabem que ela está acontecendo. Quando o Google mudou os seus algoritmos para garantir que os veículos de mídia esquerdistas e contra a guerra fossem colocados em lugares muito mais baixos nos resultados das buscas do que estavam acostumados a ter; isso influenciou a maneira pela qual milhões de pessoas colheram informações sobre as questões mais importantes do mundo. E poucos sequer souberam que isto havia ocorrido. 

Não fosse pelo fato que os gigantes da tecnologia direcionam artificialmente o tráfego online para os veículos de mídia aprovados pelo império, estes veículos provavelmente teriam sido fechados até agora. Nós vimos uma clara ilustração de quão desdenhoso o público é dos veículos de mídia de massa quando o serviço pago de streaming da CNN+ foi forçado a fechar apenas 30 dias após o seu lançamento, quando não conseguiu manter sequer 10.000 visitantes diários. As pessoas não consomem a mídia de massa institucional, a não ser quando esta é impingida a eles.

4. Segredos de Estado 

Assim como a censura, o segredo de Estado é uma outra maneira pela qual o império evita as narrativas inconvenientes adentrem na consciência pública. Ao classificar a informação com base na “segurança nacional”, o império evita as narrativas alternativas antes que estas sequer saiam do chão. Como disse Julian Assange uma vez, “A maioria esmagadora da informação é classificada para proteger a segurança política e não a segurança nacional.”

A quantidade de poder que você tem deve ser inversamente proporcional à quantidade de privacidade que você recebe. Numa sociedade saudável, as pessoas comuns teriam a completa privacidade em relação ao governo, enquanto as autoridades governamentais teriam que ser totalmente transparentes sobre as suas vidas, as suas finanças e o seu comportamento. Na nossa sociedade ocorre exatamente o oposto: o povo é vigiado e monitorado, enquanto aqueles que estão no poder escondem enormes tesouros de informação por trás dos muros da opacidade governamental.

Eles escondem do público tudo o que estão fazendo; então, quando o povo começa a fazer conjeturas bem-informadas sobre o que eles podem estar armando por detrás do véu dos segredos de governo, estas pessoas são chamadas de “teóricos da conspiração”. Não haveria necessidade de se elaborar teorias sobre conspirações se houvesse completa transparência para os poderosos; porém, obviamente, isso impediria em muito a capacidade de conspirar dos poderosos.

Eles alegam que precisam de segredos de governo para evitar de dar uma vantagem ao inimigo em tempos de guerra e conflito; mas, na verdade, eles precisam de segredos de governo para começar as guerras e os conflitos.

5. A guerra contra o jornalismo

Por último, a fim de controlar eficazmente as narrativas dominantes sobre o mundo, o império necessita fazer a guerra contra o jornalismo desobediente. Nós vimos isto se desdobrar de várias maneiras ao longo dos anos, mas agora nada é tão claro quanto a perseguição de Julian Assange por parte do império dos EUA.

A meta do caso contra Assange é estabelecer um precedente legal para extraditar qualquer jornalista ou publisher de qualquer parte do mundo que tente comprovar os segredos do governo dos EUA.

Todos estes cinco aspectos são usados para controlar a maneira como as pessoas vêem, pensam e falam sobre o seu mundo – controlando, assim, como elas agem e como votam numa escala massiva. Isto permite que os poderosos mantenham população completamente escravizada, de tal forma que jamais tente escapar da sua escravidão, porque ela pensa que já é livre.

*Caitlin Johnstone é uma experiente jornalista independente e escritora australiana, baseada em Melbourne, que publica o seu trabalho em diversos veículos internacionais.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247