'Jornal Nacional é fonte de desinformação', analisa Eliara Santana

Para linguista, a Globo ainda mantém influência sobre a opinião pública e opera seu jornalismo para desconstruir lideranças de esquerda

Eliara Santana
Eliara Santana (Foto: Reprodução)


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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (29/09), o jornalista Breno Altman entrevistou a linguista especializada em análise do discurso Eliara Santana sobre a influência da Rede Globo e da grande imprensa na conjuntura atual.

Segundo a pesquisadora, que vem analisando o Jornal Nacional desde 2013, o telejornal “é uma fonte de desinformação” e essa característica não é recente. Ela mencionou, por exemplo, o debate de 1989 entre os então candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor, editado para mostrar uma diferença “brutal” entre os dois e influenciar o resultado eleitoral. 

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“Quando a gente observa a construção da narrativa do JN, as estratégias para construir o objeto que é a notícia, vemos como se posiciona como uma fonte de desinformação, não de fake news. O JN opera na ressignificação de dados reais para produzir outras percepções, não cria mentiras porque depende da credibilidade do real para se legitimar. Acaba sendo uma estratégia mais sutil”, explicou Santana.

Outro exemplo citado por ela foi o silenciamento, em 2014, quando o Brasil saiu do mapa da fome. A também jornalista contou que a informação não deixou de ser dada, “mas foi silenciada, removida de sua importância”: a pesquisadora contou que foram dedicados 37 segundos à notícia. Nessa mesma edição do jornal, o boletim do tempo durou mais de um minuto.

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Santana ainda apontou para a construção da operação Lava-Jato, desta vez não só pela Globo, mas pela grande mídia, e disse que Lula tinha razão quando denunciou o JN como mecanismo persecutório.

“A Lava-Jato não teria sido o que foi sem o aparato do espetáculo e da voz única criado pela mídia em geral. Não sei se houve uma conspiração, mas se a gente pensa que a mídia coorporativa é feita de grupos empresariais que controlam a produção e distribuição da informação, e partilham das mesmas percepções e conjunto de valores, há um alinhamento no desenho da narrativa. E é um desenho muito bem feito e efetivo, em termos de estratégia para moldar percepções”, refletiu.

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Globo e Bolsonaro

Segundo Santana, essa mesma estratégia de desinformação foi o que contribuiu para a eleição de Jair Bolsonaro, para além das fake news. Ela defendeu que houve um silenciamento dos discursos preconceituosos do atual presidente, uma higienização de sua imagem para torná-lo mais palatável ao público e, portanto, aumentar suas chances de ser eleito.

No entanto, agora o cenário que se observa é o inverso: a Globo está utilizando das mesmas técnicas que aplicou contra o Partido dos Trabalhadores, mas contra Bolsonaro.

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“Não deixa de ser preocupante porque é o maior grupo de comunicação do país usando estratégias de silenciamento, enquadramento ou reenquadramento de acordo com um contexto. A questão é que o empresariado queria controlar Bolsonaro, mas ele não é controlável. Agora querem tentar neutralizá-lo, mas ele não é neutralizável”, ponderou.

Para ela, essa mudança de postura da Globo não deve ser comemorada, porque se ela não tivesse utilizado as estratégias citadas pela pesquisadora em 2018 “para mascarar o discurso grotesco de Bolsonaro, não estaríamos vivendo o que estamos vivendo hoje”.

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Pensando nas eleições de 2022, Santana não acredita que a emissora apoiará o atual presidente, dando preferência para a chamada terceira via, que a jornalista vê até como uma “segunda via”, pois considera que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impedirá que Bolsonaro se candidate à reeleição.

Caso ele possa se reeleger, a pesquisadora não descarta nem que a emissora declare apoio a Lula, ou pelo menos não aplique técnicas de desinformação contra o líder petista.

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Perda de poder

Entretanto, a linguista reconhece que a Globo vem perdendo poder, principalmente com o crescimento das redes sociais como fontes de informação, “mas ela não está virando um poder menor, porque os meios de comunicação convencionais estão aprendendo a pautar as discussões nas redes sociais”.

Para ela, um novo governo de esquerda terá de afrontar questões como a regulamentação da mídia para combater a desinformação de forma geral, já que a concentração da mídia “é altíssima e inaceitável”: “Se não temos pluralidade de discursos, isso impacta os processos democráticos”.

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A pesquisadora também defendeu a necessidade de um processo efetivo de educação para a mídia e letramento midiático. Isto é, “implementar ferramentas e construir um arcabouço de compreensão da mídia no funcionamento da nossa sociedade”, e a criação de uma TV pública estatal.

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