Jabor, Francis e Millôr: gênios ou engodos?

Pouca gente normal sabe quem foi Paulo Francis. No meio jornalístico, porém, ele tem seus fãs



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A seguir faço a reprodução de uma parte de um texto extraído da revista gaúcha Press&Advertising, publicado há um tempo atrás. Depois dou minhas considerações sobre o assunto.

Pouca gente normal sabe quem foi Paulo Francis. No meio jornalístico, porém, ele tem seus fãs.

Esquerdista arrependido, Francis passou boa parte da vida como um ex-fumante: de dedo em riste contra os “viciados”. Teve toda a liberdade possível nos jornais onde escreveu para ser grosso, racista, reacionário, mentiroso e dono da bola. Conseguiu ser tudo isso ao mesmo tempo com muita competência. Quer dizer, muita incompetência. Muitos o adoram certamente por inveja do direito ao insulto que só ele tinha. Provinciano afetado, vivendo em Nova York como um desconhecido, atacava aparentemente a tudo e a todos. Na verdade, batia de um lado só. O lado esquerdo. E só podia bater justamente por ser de um lado só. Se resolvesse bater na direita, o que raramente lhe ocorria, teria perdido seu latifúndio nos jornalões conservadores.

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Francis era um chato pernóstico. Uma mala. Tem gente que vira mala com o passar do tempo. Millôr Fernandes foi um “gênio” durante a ditadura. Recentemente, escrevendo na revista Veja, era de uma chatice imbatível. Pendurou as chuteiras como o colunista mais chato de uma revista em que para ser colunista quase sempre é preciso ser muito chato. Virou mala depois de velho. Todo aquele que sonha em bater nos outros, sem possibilidade de contestação, admira Paulo Francis. Saiu há pouco um documentário de Nelson Hoineff sobre ele. Está na moda fazer documentários sobre figuras esdrúxulas como Francis. Sempre pinta um patrocínio. E uma boa matéria nas revistas nacionais. Hoineff fez um documentário sobre Chacrinha, que foi o verdadeiro intelectual brasileiro, aquele que Francis quis ser e não conseguiu. Francis tem muitos epígonos. Arnaldo Jabor é o mais conhecido deles. Uma mala cheia de barroquismos. Jabor queria ser Glauber Rocha. Não deu. Tentou ser Paulo Francis. Também não deu. Está por aí. É ele mesmo. O bagageiro é muito grande...

Meus comentários:

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Tudo bem que Francis errou muito, principalmente quando foi impiedoso contra os nordestinos, com atos de preconceito explícito em seus artigos. Mas também na época que estava no Pasquim, muita gente deve ter adorado quando ele chamou o dono da Globo (Roberto Marinho) de "O homem porcaria". Ele, na minha opinião, não foi genial, mas também não era ruim, foi bom.

Jabor, na visão dos jornalistas chamados "progressistas", cometeu um ato de racismo contra o ex-ministro do Esporte Orlando Silva, quando disse na saída do mesmo do Governo Dilma, que ele tinha "pulado do galho". Como Orlando é negro, o rebuliço foi geral. Mas na mesma CBN fez um dos grandes comentários do ano, com o texto: "Aliança entre velha direita e velha esquerda vive em função do Estado". Ele, assim como Francis, cometeu e comete erros graves. Na minha opinião não é genial, mas também não é ruim, é bom.

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A coisa mais grotesca desse texto foi dizer que Millôr Fernandes foi um gênio, tenha a santa paciência. É a mesma coisa se dissesse que John Lennon não era genial porque era milionário e vendia muitos discos, sendo que o mesmo, em uma época, foi ativista da chamada 'Nova Esquerda', que pregava o socialismo, ou seja, o contrário de uma vida de ostentação e riqueza. Tudo bem que os esquerdistas odeiam a revista Veja (eu também não morro de amores por ela), mas será que se ele [Millôr] tivesse sido, recentemente, colunista da Carta Capital ou da Caros Amigos, a coisa não mudaria de figura e ele ainda não seria considerado um gênio?

No meu humilde modo de ver o jornalismo como função essencial da sociedade, Millôr e sua irreverência trazida da Pif-Paf, primeiro coluna da revista 'O Cruzeiro', e depois em uma publicação que começou pra valer a era da chamada 'imprensa nanica', é disparado, um dos três maiores nomes do jornalismo do Brasil, ao lado de Samuel Wainer, o herói incontestável do único grande jornal popular que o Brasil já teve, que foi o 'Última Hora', e do lendário e inesquecível porra-louca Tarso de Castro, o grande idealizador de 'O Pasquim', o principal jornal alternativo da história do país. Tarso, aliás, é bastante esquecido e outros que fizeram muito pouco (ou quase nada) pelo projeto, tem muito mais fama do que ele, ganhando até uma grana extra da vaca leiteira governamental por "combater" a ditadura com seus escritos e desenhos, mas isso são outros quinhentos. Se não bastasse ser um exímio cartunista, Millôr é um grande humorista, escritor, dramaturgo (ou alguém já esqueceu de 'Liberdade, Liberdade', realizada com Flávio Rangel), além de ser um belo tradutor, que traduziu Shakespeare sem saber falar inglês, não precisará morrer, para ser reconhecido como genial. Mas nós brasileiros temos a mania de depreciar quem faz sucesso com qualidade e em grande escala, fazer o quê, é a cultura dos vira-latas que ainda impera no deitado eternamente em berço esplêndido...

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Às vezes eu tenho a impressão que algumas pessoas não olham com bons olhos quando os talentosos e que pensam por si próprio, sem estar sendo vigiados e conduzidos pelos manuais do puxa-saquismo, ganham o mainstream e se estabelecem, o que é mais complicado ainda. Acham que os mesmos traíram o movimento, seja ele musical, artístico ou no caso da visão torta da Press&Advertising, o jornalístico. Bom deve ser ficar falando no circuito indie e passando suas ideias para meia dúzia de gatos pingados... Enquanto a esquerda dita "progressista", não se der conta que precisa de um produto de massa e não de nicho, vai ver a 'Folha', a 'Veja', o 'Estadão' e 'O Globo' nadar de braçada, pautando as conversas diárias da população, principalmente a classe média que se diz "instruída", mas não intelectualizada, onde essas publicações da chamada "grande mídia" são uma espécie de "bússola do conhecimento e da informação coletiva", e com elas (por terem melhores salários e melhor estrutura) estarão gênios da qualidade de um Millôr Fernandes, o nosso Saul Steinberg (a eterna lenda da New Yorker) que prefere ser lido (e com razão) numa coluna que é vista por milhões de pessoas semanalmente, ao invés de escrever em um lugar que talvez iria ao encontro das suas convicções políticas, sociais e filosóficas, mas que não consegue passar das 70 mil impressões e que os donos das mesmas, ao invés de serem mais ousados e mudar a sua visão, principalmente pelo bom momento econômico vivido pelo Brasil nos últimos anos, se dizem satisfeitos com esse pequeno número de leitores. O bom jornalismo tem a obrigação de "pegar" o grande público pelos olhos e ouvidos (nesse último quesito, as rádios cumprem um papel importantíssimo), para tentar fazer o contraponto contra a manipulação do oligopólio estabelecido, e assim cumprir o seu ideal, que é chegar no maior número de pessoas possíveis, mas fazendo conteúdo popular (e não popularesco) de qualidade, e não continuar batendo na mesma tecla, que o importante é fazer chegar a notícia e principalmente a análise dos fatos, a meia dúzia de gatos pingados que não influencia nem uma barata tonta.

Eder Fonseca é fundador do portal Panorama Mercantil. Seu perfil no Twitter é @ederoficial

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