Grampos ilegais têm sido comuns no Brasil

Escndalos recentes, como o da compra de votos da reeleio e o das fitas do BNDES, que atingiram Luiz Carlos Mendona de Barros e Ricardo Srgio de Oliveira, partiram de grampos no referendados pela Justia



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Por Claudio Julio Tognolli_247 – Um dos axiomas básicos da bioética bem que pode servir de esteio para o jeito com o qual o jornalismo brasileiro tem lidado com os grampos ilegais. Na medicina, costuma-se dizer que o médico faz uso da “ética conseqüencial”: vai fazer tudo o que for possível desde que a conseqüência última seja salvar o paciente. O jornalismo dito sério, e digamos com alguma ductibilidade ética, costuma vindicar que de tudo fará desde que o assunto seja de interesse público.

Não estamos irremissivelmente a salvo do uso de grampos tidos e havidos como ilegais. Mas, sem ter feito uso dos axiomas da bioética, o jornalismo brazuca sempre defendeu o uso de escutas ilegais quando elas serviam para a oxigenação da democracia. O leitor pode ver com desconfiança a vasta defesa que nosso jornalismo fez dos grampos ilegais. E pode achar que o jornalista que os defendeu tem algo parecido com Veiga Filho, o editor e personagem do escritor Lima Barreto, que escrevia e publicava no jornal, ele mesmo, as críticas sobre as suas poesias.

Causará arrepio a um jurista o que se segue: mas a publicação de dois grampos ilegais fez muito bem, obrigado, à democracia brasileira. Vejamos dois casos: a compra de votos para a emenda da reeleição do ex-presidente FHC e o caso dos grampos no BNDES. Os autores, respectivamente, Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo, e Guilherme Barros, ora no Portal IG, foram fulminados, “faute de mieux” pelos patrulheiros da ética. Alegava-se que a Constituição do Brasil estava sendo rasgada quando a imprensa resolvia publicar fitas em que o repórter não participava da conversa. Mas o fato é que sem o trabalho de Rodrigues e Barros o Brasil teria sido um país pior.

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A Folha de S. Paulo chegou a publicar “n” editoriais defendendo o uso do grampo ilegal. E, a 14 de maio de 97, a Folha de S. Paulo publicou a seguinte petição de princípios. “A Folha recebeu anteontem à noite novas gravações a respeito da venda de votos a favor da emenda da reeleição. Mais detalhadas, essas conversas envolvem agora integrantes do governo federal. Além do deputado Ronivon Santiago (PFL-AC), outro parlamentar conta a mesma história da venda de voto. É o deputado João Maia (PFL-AC).

A pessoa que realizou as gravações, identificado apenas como ''Senhor X'', forneceu à Folha todos os detalhes sobre as fitas. A reportagem sabe quando, como e em quais circunstâncias as fitas foram gravadas. Essas informações não serão divulgadas para preservar a identidade da pessoa. Como na reportagem de ontem, os trechos apresentados hoje também fazem parte de gravações realizadas ao longo de vários meses, em diversas oportunidades.

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Essas conversas ocorreram todas depois da votação do primeiro turno da emenda da reeleição na Câmara dos Deputados, em 28 de janeiro passado. A seguir, a Folha selecionou os trechos mais relevantes das novas gravações, precedidos de uma breve explicação”.

Os grampos do BNDES que derrubaram, em 1998, o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e parte da cúpula do banco, por ocasião da privatização do sistema Telebrás. Foi graças a Guilherme Barros que o Brasil soube que “Mendonção” articulava para botar na telefonia brasileira a Telecom Italia –que, agora, é investigada por ter injetado 120 milhões de euros em serviços de espionagem, inclusive no Brasil, para fulminar seus concorrentes.

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Hoje Rupert Murdoch está sendo julgado. O escândalo dos grampos a envolvê-lo se tornou conhecido pelo mundo a partir do caso de Milly Dowler, uma garota inglesa de 13 anos que desapareceu em 2002 e teve suas ligações grampeadas pelo News of the World. Depois, Milly foi encontrada morta e o caso das escutas de suas ligações levou à demissão de Rebekah Brooks, que trabalhava como chefe de reportagem do News of the World na época.

Temos uma diferencinha fundamental do modelo brazuca: Murdoch empregava policiais, pagava pelas fitas –e os assuntos que bisbilhotava não tinham interesse público.

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Se me dessem uma fita de interesse público, ilegal, e pela qual na houvesse nenhuma transação financeira a envolver este repórter, eu publicaria, é óbvio. Aliás: foi neste pensamento que publiquei, na Folha de S. Paulo, no Notícias Populares, e mandei ao ar na rádio Jovem Pan, a fita que abriu a CPI da Nike. Nela o jogador Edmundo contava como a Nike escalava a seleção do Brasil. Ganhei a fita de presente. Era e voz do Edmundo. Tanto me bastou.

Sem a ética conseqüencial da medicina, nosso jornalismo iria mal. E o país, pior:

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Conheça abaixo a história da minha fitinha:

http://veja.abril.com.br/190898/p_096.html

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