Fernando Henrique e a mentira mais bem guardada da República

A história do filho oculto que não é mais filho mas que é filho remete à lição rasgada pela imprensa: perguntar não ofende!



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Pelos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, dias atrás, escrevi aqui um muito obrigado pelas entrevistas que ele sempre me deu. Um amigo me chamou de puxa-saco. Os comentários anexados igualmente criticaram minha postura, ainda que eu tivesse dito e redito, logo no lead (a abertura de uma matéria ou, no caso, vá lá, do artigo), que minha lista de divergências com FHC na política e na administração era – e é - muito extensa, mas que não seria o caso, naquele dia de aniversário, de explicitá-la.

Pois meus críticos bateram, mas me pouparam de um nocaute. Com um soco só, mas o certeiro, eu teria caído. Bastava dizer que, a exemplo de todos os demais repórteres da República, eu que tantas vezes tive acesso ao presidente também participei de uma grande farsa: o segredo de polichinelo em torno do filho que, sabiam todos, ao longo de seu longo governo de dois mandatos, ele tivera com uma colega nossa, jornalista, e jamais assumira.

Ao não perguntar a ele sobre o que eu sabia sobre ele, fui um péssimo repórter.

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Em Brasília, no Rio, em São Paulo, nas redações de todo Brasil, entre os correspondentes estrangeiros, enfim, entre jornalistas com e sem diploma, de mais e menos status, todo mundo tinha informação, ouvira rumores ou, ao menos, pescara um boato sobre esse filho – e ninguém tocava nesse assunto. Um tabu que não sei ao certo como se implantou, mas que cumpriu à perfeição seu papel de, por ser tabu, jamais ser enfrentado. Você podia até levar isso para o seu chefe, e ele dizia que, ok, eu também sei, mas isso não vai sair aqui. Assim, sucessivamente.

Se Lula, depois de FHC, fez discursos todos os dias, FHC, antes dele, falava, praticamente todos os dias também, com jornalistas. Em on, off, no Planalto, no Alvorada, em viagens, eventos, sempre e sempre. E foi preciso o governo acabar para que, só então, uma de nossas melhores furasse a bolha e escrevesse o que todos sabiam – e ninguém publicava. Que, ué, como pode acontecer nas melhores famílias, o presidente tivera um filho fora do casamento.

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Passei muito tempo considerando FHC um sujeito do mal, porque desconsiderava o filho em nome das aparências, da preservação do cerimonial do cargo, suas liturgias, seu cacife eleitoral, sei lá mais o que. E depois da bolha estourada, descobri que, enquanto mantinha o assunto fechado, contando com a colaboração, ou melhor, com a conivência de toda a mídia, sem uma exceçãozinha sequer, mostrou-se publicamente que ele ajudava a mantê-lo, com recursos, atenção, na medida do possível naquelas circunstâncias, e afeto paterno à distância e, outras vezes, de perto, em visitas discretas.

Sabe-se, porém, mais agora. Pela Veja (página 60 da atual edição em papel) chega a notícia de que ele e seu filho fizeram o exame de DNA e, incrível, o que era a verdade mais escondida da República tornou-se, ao sair o resultado, a mentira mais escondida dessa mesma República. Reconhecido em 2009 pelo já ex-presidente como filho, o rapaz de nome Tomás, 19, filho da colega Miriam Dutra, não carrega os genes de FHC. Uau!

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O assunto continua sendo extremamente pessoal entre os diretamente nele envolvidos. Mas pelo menos agora, sem demora, a informação apareceu.

Importa muito menos, nesse verdadeiro imbróglio, a informação do resultado do exame de DNA – aliás, segundo a notícia, FHC adiantou a Tomás que, qualquer viesse a ser o resultado, o relacionamento entre eles, de pai e filho, iria se manter.

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A questão pública maior está, sim, na omissão de todos os que sabíamos e não informamos. Há nisso, sem dúvida, uma lição, não sei se para os outros, mas com certeza para mim: perguntar não ofende, como se dizia e se registrava, quase diariamente, no pé da histórica coluna Informe JB. Não perguntar é o que, realmente, ao leitor ofende.

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