Felipe Neto faz nova cobrança a influenciadores por posicionamento político: ‘abre a boca e para de se esconder’

“Você não precisa entender de política para entender o que é um youtuber receber a polícia em casa porque xingou o presidente, para saber que o que está acontecendo no Brasil é um assassinato em massa. É sua obrigação como ser humano. Para de se esconder, para de ter medo de perder seguidor”, disse o youtuber em entrevista ao Grupo Prerrogativas. Assista

Felipe Neto
Felipe Neto (Foto: Divulgação)


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247 - O youtuber Felipe Neto, que em maio de 2020 divulgou uma carta aberta a “artistas e influenciadores do Brasil" cobrando posicionamento político destas personalidades, voltou a fazer uma nova forte declaração no mesmo sentido em entrevista ao Grupo Prerrogativas (Prerrô), retransmitida pela TV 247.

Felipe Neto contou que na época da vídeo-carta aberta recebeu inúmeras críticas de colegas de profissão. “Eles falavam que é um absurdo eu exigir que eles se manifestem sobre questão política porque ‘eu não entendo nada de política, não quero me meter em política, eu não tenho que ser obrigado a me posicionar sobre nada e tudo mais’. E eu concordo, eu concordo. Realmente em um cenário político ninguém tem que ser obrigado a se posicionar, se a gente está falando de um debate democrático ninguém tem que ser obrigado a se posicionar. Quando o enfrentamento era Dilma [Rousseff] e Aécio Neves, ninguém era obrigado a se posicionar”. 

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Para ele, no entanto, a situação brasileira já superou o campo político e está agora em estágio de preservação, ou não, da democracia e dos valores humanos. “Quando a gente sai do debate político e a gente tem uma figura como a família Bolsonaro, o bolsonarismo como um todo, e até seus gurus, quando a gente tem esse movimento que é um movimento de ruptura institucional, de ameaça democrática e que de fato ameaça inclusive a liberdade, nossa liberdade de produção de conteúdo, a gente não está falando só de debate de político. Então o que eu falei há um ano eu mantenho e repito: quem se cala perante ameaças fascistas e atitudes fascistas, e piores agora, porque quando eu falei isso nem pandemia tinha, quem se cala perante o assassinato em massa da população brasileira é conivente. Eu repito e vou repetir na cara de quem for, na cara de cantor, na cara de atriz ou ator, de youtuber, de tiktoker. A minha preguiça é com gente covarde”.

Segundo Felipe, é fácil notar a política de Jair Bolsonaro de perseguição a opositores, da qual ele mesmo já foi vítima, e de “assassinato em massa” promovida pelo governo federal, não sendo necessário “entender de política” para se opor a isto. “Você não precisa entender de política, de meandros do Congresso Nacional ou de como funciona a elaboração de uma lei, você não precisa nem saber o que um vereador faz para você entender o que é um youtuber receber a polícia dentro de casa porque xingou o presidente. Você não precisa entender de política para saber que o que está acontecendo no Brasil é um assassinato em massa. Você não precisa abrir o jornal para saber isso”.

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O comunicador, então, fez uma forte cobrança aos influenciadores por um posicionamento, direcionando o recado especialmente a um deles, que ele preferiu não divulgar o nome. “Se você tem um público de milhões de pessoas e você opta por calar o diabo da boca, perante mortes, irmão. A gente não está falando de debate político. É sua obrigação como ser humano, cara. E o maior deles sabe exatamente com quem eu estou falando. Abre a porra da boca, irmão. Para de se esconder, para de ter medo de perder dinheiro, para ter medo de perder seguidor, cacete. Seguidor é mais importante que vida? Seguidor é mais importante que a porra da democracia do teu país, cara? Dinheiro é mais importante que tudo? Eu fui amplamente criticado por essa corja de gente calada que se borra nas calças de criticar um presidente ‘porque tem 30% da população que ama o cara. Imagina eu perder 30% do meu público’. Vá à merda, irmão. Vá à merda se você se preocupa mais com 30% do seu público do que com o futuro do seu país, o futuro das pessoas que estão ao seu lado, com as pessoas que estão morrendo na porra da fila do hospital porque a UTI está lotada por causa das atitudes impensadas do desgoverno que a gente está vivendo. Não tem mais espaço para a gente tolerar o inaceitável silêncio de grandes comunicadores desse país perante a situação que a gente está vivendo. Não tem mais tolerância, não tem. Vou recusar convite para participar disso e daquilo sim, e com quem eu estou falando sabe com quem eu estou falando. Vou continuar rejeitando sim, não conte comigo porque você não faz o mínimo, não faz o básico”.

“Quero parabenizar todos os artistas que usam seu espaço de maneira consciente, todos os cantores indo na contramão disso tudo, perdendo oportunidades, perdendo campanhas publicitárias, perdendo dinheiro. Pessoas como o Bruno Gagliasso, como Daniela Mercury, Maria Gadú; eu não deveria nem ter começado a falar nomes aqui porque nós temos uma quantidade relativamente grande de pessoas. Agora, quantos estão em silêncio? Cadê os artistas sertanejos? Cadê vocês? Estão fazendo o quê? Tem gente morrendo e a única preocupação é fazer ‘livezinha’ enchendo a cara? É isso mesmo? Eu não tenho mais paciência para esse tipo de gente e a história cobra”, concluiu.

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Big techs

Questionado sobre as políticas das redes sociais e das gigantes da tecnologia que, segundo o próprio youtuber, foram amplamente responsáveis pela eleição do ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos e pela chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, Felipe Neto defendeu a regulação destas empresas pelo Estado. 

“É racional a gente imaginar que os CEOs dessas empresas estão tomando medidas para melhorar essa situação? Que estão preocupados minimamente com a conservação de dados ou com a preservação da democracia? Você acha que o Mark Zuckerberg senta em uma reunião para falar ‘gente, vamos conversar sobre democracia acima do lucro?’. Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer. É aí que entra o grande inimigo do neoliberal, é você falar a palavra ‘Estado’. Se não houver Estado, se não houver algum grau de intervenção no âmbito de preservação dos direitos humanos e dos nossos pilares democráticos, se nós não tivermos essa intervenção estatal a gente simplesmente continua do jeito que está, entregue às mãos das big techs, que hoje detêm um poder que ninguém pode ter. A gente não pode ter uma sociedade com bilhões de pessoas cuja opinião está inteiramente nas mãos de cinco ou seis empresários”.

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Autocrítica

Na entrevista, Felipe Neto também refletiu sobre as críticas que fez no passado aos ex-presidentes Lula e Dilma e ao PT, e admitiu que suas declarações, muitas vezes, estavam baseadas em preconceitos. "Difícil encontrar alguém que foi mais anti-Lula do que eu. Eu fui criado em uma família onde o antipetismo foi criado antes do antipetismo. Nem existia antipetismo e minha família já odiava o PT. E eu cresci com aquela raiva entranhada dentro de mim, 'o Lula é a personificação do satanás'. Por sorte eu sou uma pessoa que gosta muito de ler e eu resolvi me inteirar sobre esse, que eu considerava, 'bandido do Lula. Vou ver o que é essa palhaçada então’. Quando a gente repensa bate uma 'bad'. Sabe quando você pensa assim: 'cara, eu estava totalmente errado desde o início'. Aí você não pode ter o orgulho de querer se manter a todo custo contra aquela pessoa que você já viu que não é bem assim”.

Povo passa fome e Bolsonaro abaixa imposto de skate

O youtuber se revoltou ao comentar a política de Bolsonaro de diminuir os tributos sobre a importação de skates e instrumentos musicais de corda enquanto a população passa fome em decorrência da crise financeira causada pela pandemia. “O Bolsonaro, que fica o tempo todo falando que quer diminuir imposto, hoje fez um grande anúncio da diminuição do imposto em skates. O povo está passando fome e ele diminui o imposto de skate e de instrumento musical de corda. Sabe aquela coisa que você olha para a notícia e fica meio: 'eu não queria ter que criticar isso, dane-se. Legal o skate, mas eu vou criticar porque isso é um imbecil. Não é possível'. O povo está sem arroz em casa e o cara faz uma mega notícia de que diminuiu o imposto de skate”.

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‘Não piso na CNN

Felipe Neto ainda criticou a cobertura da imprensa na era do bolsonarismo, muitas vezes “normalizando” figuras que são negacionistas e anti-ciência. Ele afirmou que recusou diversos convites para participações na CNN Brasil porque a emissora dá espaço ao jornalista Alexandre Garcia, por exemplo. “Eu fui muito claro com a CNN porque recebi diversos convites da CNN para ir na emissora, então eu fui muito claro com eles: eu não piso na emissora enquanto vocês derem voz para pessoas que são comprovadamente obscurantistas e anti-ciência e são indiretamente responsáveis por mortes por Covid no Brasil. Eu, na qualidade de youtuber, que sei que a CNN quer usar a minha imagem para atrair novos públicos, eu não vou levar novos públicos, que é o meu público, para uma emissora que dá voz ao Alexandre Garcia”.

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