Ex-presidentes de sindicato condenam prática ‘nefasta’ da Editora Abril
Decisão da Editora Abril rompe com o acordo de décadas que libera os profissionais para o exercício de mandatos sindicais. Ex-presidentes do sindicato, desde 1982, manifestaram repúdio à atitude, que consideraram “nefasta”
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Rede Brasil Atual - Há menos de 10 meses de encerrar o mandato de presidente à frente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), o jornalista Paulo Zocchi foi convocado pela Editora Abril a retornar ao trabalho a partir do dia 30 de outubro. A decisão da empresa rompe com o acordo de décadas que libera os profissionais para o exercício de mandatos sindicais. Durante cinco anos, a Abril deve respeitar o afastamento do funcionário, sem prejuízo de seu salário, como forma de assegurar sua independência e autonomia como representante sindical eleito por sua categoria.
Nesta segunda-feira (26), ex-presidentes do sindicato, desde 1982, manifestaram repúdio à atitude, que consideraram “nefasta”. Em carta, pediram ao presidente da Editora Abril, Fábio Carvalho que a decisão sobre paulo Zocchi seja revista. E destacaram que a entidade “conta com apoio da própria Editora Abril” desde a década de 1960. Ao menos quatro jornalistas da empresa atuaram como presidentes do sindicato.
A entidade ressalta que a impossibilidade de Paulo Zocchi dedicar-se integralmente aos afazeres “impactará de forma profunda a capacidade de o SJSP continuar atuando nas frentes em que atua. Inclusive nas lutas pelas liberdades civis”, descreve um trecho da carta. O documento também adverte quanto ao momento do país, em que a imprensa já “sofre tremendos ataques do presidente da República e seu entorno”.
Em assembleia no dia 15 de outubro, mais de 40 profissionais da imprensa decidiram, de forma unânime, fazer uma campanha de denúncia contra a Editora Abril. Os associados também cobram que o presidente seja mantido no cargo até o prazo combinado.
Ataque à categoria e à entidade
Desde que a decisão foi anunciada em 23 de setembro, algumas lideranças sindicais a definem como uma forma de ataque à categoria e à entidade. O Sindicato esteve à frente do processo de calote da Abril, que levou à demissão cerca de 800 funcionários e 200 freelancers em 2018. A empresa entrou em um processo de recuperação judicial e seus trabalhadores precisaram acionar a Justiça para obter seus direitos trabalhistas e indenização devida.
Os presidentes finalizam a carta, elencando que são muitos os impactos negativos ao mesmo tempo. “Que a Editora Abril, uma empresa jornalística, não figure entre aqueles que menosprezam as liberdades civis e a própria liberdade de imprensa em nosso país.”
Confira a carta na íntegra
Ao senhor
Fábio Carvalho, presidente da Editora Abril
Ref.: Solicitação de reconsideração de decisão
São Paulo, 26 de outubro de 2020
Em 23 de setembro do corrente, a Editora Abril notificou o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Paulo Zocchi, a voltar ao trabalho, definindo depois o retorno para o dia 30 de outubro, pois não pretende continuar pagando o seu salário enquanto ele preside a entidade.
Na qualidade de ex-presidentes do Sindicato, vimos à presença dos senhores para solicitar que reconsiderem a decisão tomada.
Lembramos, em nome de todos os associados ao SJSP, representados na Assembleia Geral Extraordinária deste 15 de outubro, que a decisão da Editora Abril rompe com uma tradição das grandes empresas jornalísticas no estado de São Paulo de liberarem presidentes do Sindicato sem prejuízo dos seus salários. Essa tradição data dos anos 1960 e sempre contou com o apoio da própria Editora Abril, que já teve quatro de seus jornalistas como presidentes do Sindicato.
Por que agora, justamente quando faltam menos de dez meses para que Paulo Zocchi complete o seu segundo e derradeiro mandato à frente da entidade, justamente quando jornalistas e a imprensa sofrem tremendos ataques do presidente da República e seu entorno, justamente neste momento, a Editora Abril toma uma decisão tão nefasta?
Pedimos que os senhores reflitam sobre o significado dessa decisão no contexto atual. Vai bem além de uma simples iniciativa do setor de RH de uma grande empresa. Diz respeito às próprias liberdades civis, entre elas a liberdade de imprensa.
Liberdade de expressão e de imprensa
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo é uma das mais importantes organizações dos jornalistas brasileiros. Sua atuação nas lutas pela liberdade de expressão e de imprensa, bem como no próprio processo de democratização do país, são notórias. Saibam, os senhores, que a impossibilidade de o presidente da entidade dedicar-se integralmente a seus afazeres impactará de forma profunda a capacidade de o SJSP continuar atuando nas frentes em que atua, inclusive nas lutas pelas liberdades civis.
Contudo, em que pese sua importância nas questões dos jornalistas e da sociedade, o SJSP é uma entidade pequena, sob ataque também da legislação que impede que se recolha o imposto sindical. Lidera os jornalistas em momento de profundas mudanças no fazer jornalístico. Observem, senhores, que são muitos os impactos negativos ao mesmo tempo. Que a Editora Abril, uma empresa jornalística, não figure – ela também – entre aqueles que menosprezam as liberdades civis e a própria liberdade de imprensa em nosso país.
Solicitando que acusem o recebimento desta, manifestamos nossa certeza de que podemos contar com os senhores para rever essa infeliz decisão.
Lu Fernandes, presidente de 1982 a 1984
Gabriel Romeiro, presidente de 1984 a 1987
Robson Moreira, presidente de 1987 a 1990
Everaldo Gouveia, presidente de 1993 a 2000
Fred Ghedini, presidente de 2000 a 2006
José Augusto de Camargo, presidente de 2006 a 2014
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