Ex-diretor da Globo é preso em flagrante no Rio acusado de dar golpes em hotéis de luxo; defesa nega

Aaron Salles Torres foi detido junto com o namorado Johny de Souza Oliveira; ambos pagavam hotéis caros com cartões de crédito clonados

Aaron Salles Torres trabalhou em várias produções da Globo/Globosat
Aaron Salles Torres trabalhou em várias produções da Globo/Globosat (Foto: Reprodução)


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Revista Fórum - Aaron Salles Torres, ex-diretor do programa humorístico “Vai Que Cola”, exibido no canal a cabo Multishow, que pertence à Rede Globo, foi preso em flagrante junto com seu namorado, Johny de Souza Oliveira, no Rio de Janeiro.

Os dois estavam sendo investigados pela Polícia Civil desde março, por utilizarem cartões de crédito clonados em hotéis de luxo, de acordo com a revista Época. O flagrante ocorreu enquanto faziam check-in.

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A investigação teve início depois que o casal se hospedou em um hotel de luxo no último Réveillon. Eles ficaram em uma das suítes até o dia 12 de janeiro.

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Resposta da defesa:

O diretor de cinema e TV Aaron Salles Torres sequer passou o Réveillon de 2020 no Rio de Janeiro, como informado pela mídia. Estava trabalhando em São Paulo, dirigindo a série “Noturnos” para o Canal Brasil, e no dia 26/12/2019 viajou para estar com sua família em Mato Grosso do Sul. No dia 02/01/2020, voltou para São Paulo a trabalho. No dia 03/01/2020 voou para o Rio de Janeiro, onde pagou por sua hospedagem no hotel Fairmont com seu cartão de crédito Amex (R$1.550), assim como uma transferência no valor de R$1.600,00 de sua conta do Banco do Brasil e R$600,00 em dinheiro. No dia 04/01/2020 deixou o hotel Fairmont e no dia 05/01/2020 se hospedou no apartamento de um amigo em Ipanema. Deixou o Rio de Janeiro no dia 06/01/2020.

Uma vez que Aaron Salles Torres não esteve hospedado no hotel Fairmont no Réveillon de 2020 e que não foi em sua estadia de uma diária em hotel no dia 3 de janeiro que o promotor Felipe Ibeas encontrou qualquer irregularidade, não havia motivo para o artista estar sendo monitorado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro – como a mesma afirmou – desde o início daquele ano de 2020.

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Após o dia 06/01/2020, Aaron Salles Torres somente retornaria ao Rio de Janeiro, por motivos profissionais para a gravação de um clipe a cargo de um diretor da MTV/EUA, em 05/12/2020. Jhony de Sousa Oliveira era produtor e publicitário responsável pelo branding do projeto. As filmagens, contudo, foram adiadas devido ao mau-tempo e à suspeita de COVID da atriz principal. Na tarde do dia 08/12/2020 Jhony, na função de produtor do clipe, foi ao hotel Fairmont verificar as condições do espaço que o hotel havia cedido gratuitamente para a sessão fotográfica do projeto. Foi apenas nesse dia que foi informado de que havia débitos referentes a sua estadia no mesmo hotel durante janeiro de 2020. Como consta da página n. 87 do Inquérito, no dia 15/01/2020 o hotel Fairmont já havia tido ciência de irregularidades na estadia de Jhony no hotel – estadia essa que havia sido organizada pelo operador de viagens Edivaldo de Oliveira da Silva, supostamente por meio de pontos de fidelidade. Jhony pagou a Edivaldo um total de R$12.000,00 pelos pontos referentes a sua estadia de 11 dias – uma quantia razoável em se considerando que pontos de fidelidade devem justamente representar uma economia nos custos de estadia. A venda de pontos de fidelidade é comum em sites como Livelo, Smiles e LatamPass, esta última parceira da própria Accor. Além de nunca ter sido avisado de quaisquer questões em sua estadia organizada por Edivaldo em janeiro de 2020 pela rede Accor, em março de 2020 Jhony denunciou à Accor invasões em sua conta na rede ALL Accor e reservas feitas em hotéis de luxo mundo afora – quando mesmo as viagens seriam impossíveis devido à pandemia da COVID-19. Em casos de estelionato, se recaíssem quaisquer suspeitas sobre as atitudes de Jhony em janeiro de 2020, a rede Accor teria um prazo de 6 meses para representar contra ele, o que não fez. O registro de ocorrência sobre o incidente somente foi supostamente registrado pelo gerente do hotel no dia 04/12/2020 – quase 11 meses após a rede Accor tomar conhecimento do caso e curiosamente um dia antes de Aaron e Jhony chegarem ao Rio de Janeiro-, o que contraria a lei no que diz respeito ao direito de representação.

A estadia de do produtor e do diretor iria de 05/12 apenas até o dia 09/12/2020 no hotel Pestana, em Copacabana – Aaron pagou pela hospedagem com seu cartão do Citibank. O vôo de retorno para Vitória, onde formatavam um projeto de TV, seria no dia 10 de dezembro e, uma vez que teriam de voltar na semana seguinte para gravar o clipe, Jhony havia decidido (antes de tomar conhecimento do débito referente a janeiro e de poder esclarecer o caso) economizar e comprar de Edivaldo pontos de fidelidade para a estadia de 1 diária que faltava em um hotel da rede Accor – por esse serviço, Edivaldo seria remunerado por um valor compatível com os pontos que seriam utilizados. Para evitar taxas geralmente cobradas nas transferências de pontos, Edivaldo então sugeriu ele mesmo realizar a reserva em seu nome, que seria transferida para Jhony e Aaron. O produtor Jhony repetiu em seu testemunho escrito que Aaron Salles Torres, como diretor artístico, não teve qualquer participação na logística do projeto – assim funciona a divisão de trabalho na indústria audiovisual mundo afora. 

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Ao chegar ao hotel da rede Accor em Santa Tereza, no entanto, a gerência informou a Jhony que havia irregularidades na reserva realizada por Edivaldo de Oliveira da Silva em seu próprio nome. Enquanto aguardavam para que se regularizasse a reserva para realizar o check-in, Aaron trabalhava de seu celular, e foi neste momento que a polícia carioca os levou (diretor e produtor) afirmando ao diretor que ele era apenas um “acompanhante”, retirando-lhe apesar disso imediatamente seus bens (celular, cartões, laptop de trabalho...). Na verdade, o que se passava é que Edivaldo, o suposto vendedor de pontos fidelidade ALL, havia supostamente “clonado” um cartão de crédito de outro indivíduo em seu próprio nome para efetuar a tal reserva, também em seu nome (páginas 108 e 109 do inquérito).

Salles Torres ou o produtor do clipe jamais apresentaram quaisquer documentos falsos para fazer o check-in no hotel, nem tentaram induzir seus funcionários ao erro. Todos os cartões que possuíam pertenciam a eles mesmos, conforme determinou a perícia policial. Ainda assim, Aaron Salles Torres, na realidade vítima de um golpe, foi levado pela polícia sem, em nenhum momento, receber voz de prisão: a primeira conduta policial contra as garantias constitucionais do indivíduo; a segunda foi a apreensão de seu celular, cartões e laptop. Ou seja, Aaron Salles Torres não sofreu prisão em flagrante como relatou a polícia à imprensa. Apesar da falta de provas e do fato de terem na verdade sido enganados por um terceiro, Aaron e o produtor Jhony de Sousa Oliveira foram interrogados durante 7 horas ininterruptas sem a presença de advogado ou da delegada responsável: outros atentados contra as garantias constitucionais do indivíduo na condução do caso. Nessas horas, Jhony várias vezes repetiu que Aaron não possuía qualquer envolvimento com a logística do projeto, que o diretor não tinha contato com o operador de viagens, e que havia sofrido um golpe de Edivaldo. Jhony também cooperou o máximo que pôde com as poucas informações que possuía acerca de Edivaldo. 

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Em casos de estelionato, é praxe o delegado arbitrar fiança e o acusado ser liberado imediatamente após o pagamento – mesmo que o acusado seja culpado. Neste caso, ainda houve grande atraso na lavratura dos documentos por parte da polícia: isto atrapalhou o trabalho dos advogados na defesa de alguém que era inocente. “Reviraram minha mala, minha bolsa de laptop, minha necessaire, minhas cuecas, meus remédios. Não acharam nada. Queriam me pegar de qualquer jeito” – diz Aaron. No dia seguinte, sob ameaças, Salles Torres e o produtor foram obrigados a “desfilar” algemados em frente à 13ª Delegacia de Polícia em Copacabana para que os policiais gravassem “o vídeo perfeito”, que depois foi transmitido incessantemente pela RecordTV como se tratasse do momento da prisão: exposição, enquanto os injustamente acusados perdiam a audiência de custódia e seus advogados não conseguiam encontrá-los no sistema.

Depois de várias voltas de carro com seus rostos à mostra e a sirene ligada pela Zona Sul do Rio de Janeiro, dali eles foram levados a um dos presídios mais perigosos da cidade, onde os policiais incitaram dezenas de presos a estuprá-los porque ambos são gays: homofobia institucionalizada. Por sorte, nenhuma violação sexual ocorreu na noite que passaram no presídio. No terceiro dia, os advogados de ambos os encontraram no sistema para a audiência de custódia no último momento e os dois foram liberados – sem ter de se apresentar regularmente em juízo como foi afirmado pela mídia. Mas, a bem da verdade, produtor e diretor não deveriam ter passado sequer uma noite presos. E Salles Torres nunca foi procurado pela imprensa para dar sua versão dos fatos. 

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Durante o período de 1 ano e três meses em que correu o inquérito, o operador de viagens Edivaldo de Oliveira da Silva em nenhum momento foi investigado pela Polícia Civil da 13ª DP de Ipanema, Rio de Janeiro. Como Edivaldo teria feito a reserva com cartão clonado? Onde obteve tais dados para clonar cartões? Ademais, na página 14 do inquérito, o dono do cartão supostamente clonado envia um e-mail à unidade da Accor em Santa Tereza na manhã do dia 09/12/2020 informando que seu cartão havia sido usado presencialmente naquele hotel no dia anterior, ou seja: dia 8. Por quem, se Aaron nem Jhony sequer deixaram Copacabana naquele dia 8 de dezembro? E quem foi o funcionário que recebeu o indivíduo que apresentou tal cópia física do cartão?

Em vez de responder a essas perguntas, no dia 15 de abril de 2021, a polícia insistiu na quebra do sigilo telefônico e telemático de Aaron e Jhony (p. 331), o que o Ministério Público prontamente negou. Nem Aaron, nem Jhony possuíam quaisquer antecedentes criminais. O que se dizer a respeito de Edivaldo de Oliveira da Silva? Embora Aaron e Jhony tenham sido acusados em um espetáculo policialesco-midiático de estelionato e associação criminosa, nada se fez para provar a participação de um terceiro indivíduo no caso. Analisando o discurso do inquérito, então, nota-se profunda homofobia: não existe associação criminosa de 2 pessoas. A relação entre Aaron e Jhony, à época namorados, tornou-se criminalizada pela polícia? 

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Aaron Salles Torres, além de sua profissão como escritor, roteirista e diretor de projetos como “Vai que Cola” do Multishow e “Noturnos” do Canal Brasil, como hobby há anos presta serviços de divulgação para destinos turísticos rústicos Brasil afora fazendo uso de suas redes sociais. #publi Fotos desses trabalhos de anos, no entanto, foram utilizados pela mídia para sugestionar que Aaron desse golpes em estabelecimentos que na verdade eram seus clientes – empresas de turismo, hotéis... destinos. Não se paga para se prestar serviços – portanto, tais sugestões são infundadas, além de maldosas.

Em sua investigação, a polícia não encontrou qualquer prova que pesasse contra Aaron Salles Torres ou Jhony de Sousa Oliveira – mas mesmo assim forneceu mais 6 meses para que a rede Accor decidisse representar, o que a mesma não fez nem com relação a ele, nem com relação a Jhony. O inquérito de 492 páginas sobre o suposto estelionato foi extinto e a tal associação criminosa de 2 rapazes gays, arquivada no dia 12 de janeiro de 2022. Seus bens inconstitucionalmente apreendidos, contudo, somente foram restituídos na data de 21/02.

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