Em carta aberta a Aécio, historiador sugere radicalizar privatizações

Em artigo na Folha, Ney Carvalho elogia artigo do senador mineiro defendendo as privatizaes de FHC, mas pede venda da Cemig, Copasa, Sabesp e Petrobras, entre outras. Fosse em 2014, Acio teria que garantir aos eleitores que no vender estatais, como fizeram Alckmin e Serra em 2006 e 2010?

Em carta aberta a Aécio, historiador sugere radicalizar privatizações
Em carta aberta a Aécio, historiador sugere radicalizar privatizações (Foto: Montagem/247)


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Minas 247 - O PSDB vive um dilema, evidenciado nas últimas eleições presidenciais: precisa defender o legado do governo FHC, o que inclui as privatizações, mas precisa também garantir que não venderá as estatais que restaram. Em 2006, ficou famosa a foto do governador paulista Geraldo Alckmin, à época candidato tucano à presidência, vestido com adesivos, boné e toda sorte de apetrechos com as logomarcas de estatais. As pesquisas de opinião mostravam que o brasileiro não queria a privatização de empresas como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, Correios, entre outras. José Serra, quatro anos depois, teria o mesmo problema.

No jornal Folha de S. Paulo desta sexta-feira, o historiador Ney Carvalho publica uma “Carta Aberta a Aécio Neves”. Nela, o autor, que escreveu o livro “A Guerra das Privatizações” (Editora de Cultura), elogia o ex-governador mineiro, pelo artigo que publicou na mesma Folha esta semana. Intitulado “Coragem”, o artigo de Aécio defende o legado das privatizações no governo FHC para a história brasileira.

Estivéssemos em 2014, e o mineiro fosse o candidato tucano à sucessão de Dilma Rousseff, o artigo de Carvalho lhe traria involuntária dor de cabeça. Como em 2010, quando políticos do DEM chegaram a sugerir a privatização do Banco do Brasil. Por mais que negasse, o candidato tucano da vez tinha que voltar a negar e negar e negar…

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Carvalho sugere a Aécio e ao PSDB a privatização, entre outras, da Cemig, Copasa, Sabesp e os bancos públicos. Sobre a Petrobras, diz que ela importa derivados mais caros do que os revende no país, o que traz problemas para a empresa.

Daqui a dois anos, confrontado com cartas semelhantes, será perguntado ao eventual candidato tucano se pensa em vender a Petrobras. De olho nas pesquisas, ele negará. Até que virá nova carta, e terá de negar novamente. E depois, e depois, e depois… 

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Leia abaixo o artigo “Carta Aberta a Aécio Neves”, do historiador Ney Carvalho, autor de “A Guerra das Privatizações (Editora de Cultura) e de "O Encilhamento: Anatomia de uma Bolha Brasileira" (CNB/Bovespa):

Prezado senador Aécio, 

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Foi com prazer que li o seu artigo "Coragem", publicado nesta Folha no dia 23 de abril. Ele traz merecidos elogios à privatização das telecomunicações no governo FHC. 

Percebo que o senhor, assim como os seus colegas tucanos, animou-se ao ver os adversários petistas aderirem a métodos de gestão que antes combatiam. 

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Entretanto, o senhor e os outros tucanos devem à opinião pública uma descida do largo muro ideológico em que se abrigam. Vocês são, afinal, a favor de maior privatização na economia brasileira ou não? 

Se as "restrições ideológicas à privatização são, hoje, página virada na história do país", por que os governadores tucanos resistem em privatizar as empresas estatais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná? 

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Veja que coincidência: seus companheiros Antônio Anastasia, Geraldo Alckmin e Beto Richa controlam as maiores companhias estatais estaduais de capital aberto do país.

Minas tem a Cemig (energia elétrica) e a Copasa (saneamento), duas megacompanhias. Alckmin comanda as análogas Cesp e a Sabesp, ambas com patrimônio líquido de cerca de R$ 10 bilhões. Nos mesmos setores, Richa tem a Copel e a Sanepar.

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Essas seis empresas são negócios maduros, consolidados, adultos, que não mais demandam a proteção de ventre, os cuidados maternos.

Onde está "a coragem para fazer o que precisa ser feito", alegada pelo senhor no seu texto? 

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Tais empresas já têm ações negociadas em Bolsa. Mas existem profundas incompatibilidades na existência de companhias ao mesmo tempo estatais e com capital aberto.

Empresas privadas têm como objetivo maximizar os lucros de seus acionistas. O alvo maior de companhias públicas é exercer metas governamentais. Isso cria incongruências. Há exemplos bem atuais disso.

A Petrobras é um. Importa derivados a preços mais caros do que os revende no país. Outro exemplo: bancos públicos usados para forçar a baixa dos "spreads". Essas atitudes obedecem a políticas de governo, não ao interesse dos acionistas.

Mas não se preocupe, senador. O saneamento dos lares não ficaria à mercê de ganhos exagerados. Uma sólida regulação cuidaria do tema.

Não esqueça também que a busca do lucro e a competição são as molas da eficiência, como se verifica no setor de telecomunicações, tão bem enfatizada pelo senhor.

Senador, está mais do que na hora de o PSDB oferecer ao Brasil um segundo salto de modernização da economia, tanto quanto fez com as privatizações dos anos 1990.

E veja o senhor que, naquela época, por causa da fraqueza do mercado de ações brasileiro, não foi possível dispersar o capital das empresas privatizadas. O mesmo não se pode dizer dos dias de hoje. A Bolsa está pujante como, o senhor me perdoe a citação, "nunca antes na história deste país". 

Os sucessos alcançados nos 1990 com a siderurgia, os bancos estaduais, a Vale e as telecomunicações podem ser multiplicados, alterando visceralmente a feição do saneamento básico no país pela criação de megaempresas nacionais de capital aberto, competitivas e não monopolistas.

Basta que o senhor e os seus colegas governadores do PSDB transformem as poderosas estatais que comandam em autênticas "corporations", vendendo-as ao público investidor. O controle pode ser difuso, como é o da Embraer.

Por sua influência e posição, senador, o senhor deveria liderar naturalmente tal processo.

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