Dirceu critica "receita burra" da mídia impressa

"Por enquanto nossos jornalões/mídia em geral estão seguindo a receita burra de cortar despesas, despedir, diminuir o tamanho dos jornais e o espaço das notícias, tratando os leitores com pouco respeito, comprometidos com seus próprios interesses e linhas editoriais", escreve o ex-ministro José Dirceu, que analisa as séries de demissões em jornais como Folha de S.Paulo, Estadão e Valor Econômico

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247 - Demissão não vai resolver os problemas da mídia impressa, alerta em artigo publicado nesta segunda-feira o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Leia texto publicado em seu blog:

É grave a crise na mídia. E a única solução que adotam são as demissões

Publicado em 10-Jun-2013

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Na Folha de S.Paulo no fim de semana (ontem), a ombusdman Suzana Singer criticou seu jornal por ter eliminado mais cadernos (agora, o Equilíbrio) ou tê-los encaixado em editorias que sobreviveram e demitido dezenas de jornalistas. Mas ela reconhece que também os grupos Estado e Abril (este iniciou as degolas na 6ª feira pp.), mais o jornal Valor Econômico, seguem o mesmo caminho. O Valor, por sinal, é uma sociedade dos grupos Folha e Globo.

É a crise e a tentativa de conciliar a mídia impressa com o avanço da internet gratuita. Suzana lembra que este caminho do enxugamento foi seguido lá fora, por jornais norte-americanos. Assim, embora fale en passant sobre Abril, Valor e mídia lá fora, ela termina fazendo uma radiografia da crise que vive a imprensa. A Secretaria de Redação da Folha justifica a Suzana as demissões com o fato de a receita publicitária estar crescendo menos que a inflação.

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Na verdade, em toda a imprensa escrita - além do fracasso da maioria das publicações da Abril -, o arrocho no Estadão, Valor, Folha, emissoras de TV e rádios indica que o problema é estrutural e que não há saídas fáceis. Por enquanto nossos jornalões/mídia em geral estão seguindo a receita burra de cortar despesas, despedir, diminuir o tamanho dos jornais e o espaço das notícias, tratando os leitores com pouco respeito, comprometidos com seus próprios interesses e linhas editoriais.

Mídia continua dependente de benesses do Estado

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Na prática, continuam dependentes de recursos diretos ou indiretos do Estado, ainda que digam o contrário. Mas vivem dependentes de isenções, compras governamentais de livros didáticos, privilégios, obrigatoriedade da publicidade legal dos balanços e avisos das empresas e nadam de braçada na desregulamentação do mercado, o que permite a formação de cartéis na área e dumping na publicidade, na distribuição, nos bônus de volume.

Sobrevivem graças ao papel importado barato, com desvios para o comércio em geral, e por fim com a publicidade pública e das estatais. Como no passado, quando viviam pendurados em empréstimos bancários e favores políticos para empresas coligadas, vantagens e mais vantagens na concessão de canais de rádio e TV, e por aí vai...

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A questão de fundo, que são as novas mídias e a convergência, a chegada do capital estrangeiro, as mudanças para o mundo digital, a generalização da TV paga, o começo do fim hegemonia da TV como veiculo dominante, e a avassaladora generalização do uso da internet gratuita, nada disso interessa à mídia. À nossa, à tupiniquim em particular.

Fazem de tudo para manter o poder político e os monopólios

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O que conta para ela é manter o poder político que o monopólio e o controle da informação lhes assegura - ou lhes assegurava no passado. Dai os barões da mídia não aceitarem a regulação nem para salvá-los das mudanças tecnológicas e do capital estrangeiro. A exceção nesse quadro, a regulação da TV a cabo, só comprova que a regulação pode e deve existir para a TV e o rádio e que os barões, na verdade, ainda resistem ao inevitável, à regulação do mercado de comunicação, para salvá-los do inevitável: a chegada do futuro.

No mais é concordar com a ombudsman da folha, Suzana Singer, quando ela, de forma quase melancólica, constata ser difícil de dar certo o caminho do enxugamento e das demissóes para estruturar um jornal menor (ainda que mais sofisticado) para fazer frente às informações gratuitas oferecidas pela internet.

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Ao falar dessa travessia para uma nova fase do jornalismo impresso Suzana Singer conclui: "aos que acreditam que o jornalismo de qualidade faz bem à democracia resta torcer para que a travessia dê certo". Vamos todos torcer.

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