Candidato dos bilionários, Huck tem ganhos de R$ 58 milhões por ano

Patrimônio do apresentador de programas de auditório que quer ser presidente para servir aos bilionários cresce exponencialmente, depois de várias polêmicas

Luciano Huck, Host, Rede Globo, Brazil, Kishore Mahbubani, Senior Adviser and Professor in the Practice of Policy, National University of Singapore, Singapore speaking during the Session "Rebuilding Societal Trust in Latin America" at the Annual Meeting 2019 of the World Economic Forum in Davos, January 25, 2019. Congress Centre - Salon. Copyright by World Economic Forum / Sandra Blaser
Luciano Huck, Host, Rede Globo, Brazil, Kishore Mahbubani, Senior Adviser and Professor in the Practice of Policy, National University of Singapore, Singapore speaking during the Session "Rebuilding Societal Trust in Latin America" at the Annual Meeting 2019 of the World Economic Forum in Davos, January 25, 2019. Congress Centre - Salon. Copyright by World Economic Forum / Sandra Blaser (Foto: World Economic Forum / Sandra Blaser)


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Do Canal Pensar a História – Conforme levantamento feito pela revista estadunidense People With Money, Luciano Huck é o apresentador de televisão mais bem pago do mundo, com proventos anuais de 58 milhões de reais. O apresentador da Rede Globo, dono de um patrimônio acumulado de centenas de milhões de reais, deve ingressar no seleto grupo dos bilionários brasileiros no futuro próximo. Em 2016, o vazamento de uma suposta fatura do cartão de crédito do apresentador chocou os internautas - a conta de Luciano Huck referente apenas ao mês de outubro ultrapassava 281 mil reais. Tal opulência contrasta de forma flagrante com a realidade vivida pelos populares que se submetem às constrangedoras gincanas do "Caldeirão do Huck", em busca de montantes que, para o apresentador, seriam meros trocados.

Luciano Huck já foi menos rico, mas nunca soube o que é ser pobre. Em 1994, o futuro apresentador multimilionário ainda era um um playboy das noites paulistanas quando foi entrevistado pelo jornalista Mylton Severiano. O jornalista havia sido contratado pela agência DPZ para produzir um guia sobre bares paulistanos, intitulado "São Paulo de Bar em Bar", e foi conhecer o requintado Bar Cabral, um estabelecimento frequentado pela elite paulistana, localizado no bairro nobre dos Jardins. Luciano Huck era o orgulhoso proprietário do bar. Ao ser questionado sobre que tipo de público frequentava o local, Huck respondeu sem titubear: "Uma coisa eu digo: baiano aqui não entra."

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A frase de Huck, conforme notou Severiano, exalava "aquele nojo característico que certos magnatas das classes dominantes devotam ao povo". "Baiano" é uma gíria derrogatória utilizada em São Paulo para caracterizar de forma genérica todos os brasileiros oriundos do Norte e Nordeste, além de um rótulo aplicado àquilo que alguns julgam como "popularesco", "brega" ou "de mau gosto" - um estereótipo frequentemente vinculado à identidade estética e à cultura dos moradores negros, miscigenados e pobres que habitam a periferia de São Paulo.

No mundo de Luciano Huck não há "baianos" - só playboys. Oriundo de uma tradicional família judaica de São Paulo, Luciano Huck é filho do famoso jurista Hermes Marcelo Huck e da urbanista Marta Dora Grostein. Seu irmão, Fernando Andrade, é o cineasta responsável por produzir o documentário "Quebrando o Tabu", que daria origem às páginas e perfis homônimos nas redes sociais. Luciano Huck também é enteado de Andrea Sandro Calabi, economista do PSDB que ocupou o cargo de presidente do BNDES durante o governo FHC e foi secretário da fazenda da gestão Alckmin.

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Huck abandonou o curso de direito na Universidade de São Paulo para se dedicar à gestão do Bar Cabral, que lhe fora dado como um presente pelo pai. Pouco tempo depois, o playboy paulistano se associou aos irmãos Pedro e João Paulo Diniz - herdeiros do bilionário Abilio Diniz - para inaugurar a Boate Sirena, em Maresias, e o Restaurante Ecco, nos Jardins, estabelecimentos frequentados por um público tão exclusivo quanto os habitués do Bar Cabral. Em seguida, Huck se interessou por investimentos na área da comunicação, tornando-se sócio de Alexandre Accioly e Luiz Calainho na produtora Q!Faz, literalmente comprando espaço na mídia corporativa. Huck tornou-se locutor das rádios Jovem Pan e 89 FM e ganhou colunas na Revista Playboy e no Jornal da Tarde.

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Luciano Huck ingressou na televisão em 1994. Após comandar um quadro do programa "Perfil", passou a apresentar o "Circulando" na CNT Gazeta. Em 1996, foi convidado pela Rede Bandeirantes para apresentar o "H" - um programa de auditório com gincanas voltado ao público jovem. O programa H se notabilizou pelo alto teor de sexualização e objetificação feminina, com a exploração de personagens estereotipados do imaginário pornoerótico: "Tiazinha", que usava lingerie, máscara e assessórios de BDSM para "punir" com depilação a cera os jovens que falhavam na gincana, e "Feiticeira", que recompensava os vencedores das provas atendendo seus pedidos para fazer massagens ou dançar sensualmente.

Em 1999, Luciano Huck assinou contrato com a Rede Globo, passando a apresentar o programa "Caldeirão do Huck", exibido nas tardes de sábado. O programa passou por vários formatos, mas consolidou-se praticando uma espécie de "assistencialismo televisivo" - ou, como Dilma Rousseff definiu, "política social de auditório". A fórmula consiste em estimular pessoas a exporem seus dramas pessoais em troca de compensação financeira, de modo a gerar comoção e audiência. Os participantes também são submetidos a atividades de palco e gincanas constrangedoras em troca de dinheiro ou algum tipo de benefício. Quebra de contrato, tratamento ofensivo aos participantes e ideias questionáveis se tornaram rotina da atração. A título de exemplo, Luciano Huck chegou a incentivar mulheres do Rio de Janeiro que estivessem "loucas para encontrar um príncipe gringo" durante a Copa do Mundo de 2014 a contatarem a redação do programa - uma atitude vista como incentivo à prostituição e ao turismo sexual.

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Fora da televisão, o apresentador também seguiria acumulando polêmicas e processos legais. Em 2003, uma luxuosa pousada que o apresentador possuía em Fernando de Noronha foi interditada pelo Ibama, por estar funcionando sem licença de operação e em descumprimento de ordem judicial. O funcionamento da pousada havia sido suspenso por danos ambientais, mas o apresentador ignorou a ordem dos órgãos do governo e a manteve aberta. Em 2007, o apresentador foi acusado novamente de crime ambiental, dessa vez em função de obras irregulares em sua casa de veraneio em Angra dos Reis. Huck ergueu um muro para criar uma praia artificial e construiu irregularmente bangalôs, decks e garagem de barcos em área proibida, provocando danos ao meio ambiente. O apresentador, entretanto, não foi punido graças à ação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que assinou decreto alterando a lei sobre áreas de proteção ambiental. Os advogados que defendiam Huck no processo atuavam no escritório de Adriana Ancelmo, esposa do governador. Em 2011, Huck foi novamente condenado por crime ambiental e teve de pagar multa de 40 mil reais por cercar irregularmente a faixa costeira em torno de sua propriedade - na prática, apossando-se de terrenos públicos.

Em 2013, Huck foi criticado por utilizar dinheiro público para adquirir um jatinho da Embraer para uso privado. O apresentador obteve um financiamento de 17 milhões de reais junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para comprar a aeronave com juros subsidiados e prazo de nove anos e meio para quitação. Outras polêmicas no período incluem a sua recusa em fazer o teste do bafômetro, após ser parado aparentemente embriagado em uma blitz no Rio de Janeiro, além das críticas às mensagens estampadas nas camisetas de sua grife, a "Use Huck", com mensagens interpretadas como estímulo à pedofilia e ao assédio sexual. O apresentador também foi criticado por não prestar apoio financeiro ao piloto que salvou sua família durante um acidente aéreo em 2015. O piloto conseguiu realizar um pouso de emergência após uma pane seca na aeronave, sendo tratado como um herói diante das câmeras, enquanto sofria um corte de 80% do salário nos bastidores, justificado pela paralisação das atividades durante as investigações sobre a causa do acidente.

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Há vários anos, Luciano Huck ensaia seu ingresso na política partidária e uma eventual candidatura à Presidência da República. Amigo pessoal do senador Aécio Neves, o apresentador organizou jantares de artistas e celebridades para levantar fundos para a campanha do tucano e contribuiu diretamente com doações. Após a divulgação de gravações implicando o Aécio em um esquema de propina e lavagem de dinheiro, Huck tentou se distanciar do senador, apagando as muitas fotos em que apareciam juntos na redes sociais. Luciano Huck apoiou o golpe parlamentar que depôs Dilma Rousseff em 2016 e declarou apoio a Bolsonaro em 2018, afirmando que "jamais votaria no PT" e que o candidato de extrema-direita teria "a chance de ressignificar a política no Brasil". 

Luciano Huck é um dos empresários fundadores do grupo "RenovaBR" - um fundo utilizado para custear a formação de líderes políticos alinhados à defesa das pautas neoliberais e interesses corporativos dos financiadores. A iniciativa é apontada por parlamentares como uma tentativa de burlar a regra eleitoral aprovada em 2015 que impede financiamento privado de campanhas. O RenovaBR tem sido utilizado como um instrumento para infiltrar defensores das pautas neoliberais em vários partidos e conseguiu eleger 17 parlamentares já nas eleições de 2018 - incluindo Tabata Amaral, Felipe Rigoni, Marcelo Calero, Fábio Ostermann e Marina Helou. Os parlamentares ligados ao movimento têm em comum a defesa das reformas impopulares, como a reforma da previdência e a reforma administrativa, e o endosso às ações de desmonte do funcionalismo público e dos serviços prestados pelo Estado, gerando oportunidades de investimento para a iniciativa privada.

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