Campanha de vacinação de Bolsonaro pagou R$ 17,8 milhões a TVs para falar de ‘Brasil imunizado’

Campanha de vacinação contra a Covid-19 do governo Jair Bolsonaro, intitulada “Brasil imunizado, somos uma só nação”, foi veiculada de 16 de março a 6 de abril deste ano e custou R$ 17,8 milhões. Deste total, a TV Globo e a TV Record receberam R$ 4 milhões e R$ 3,9 milhões, respectivamente

(Foto: Reprodução)


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Rede Brasil Atual - Não foi pouco o dinheiro “investido” pelo governo de Jair Bolsonaro, em veículos de comunicação, para a campanha de vacinação contra a covid-19 intitulada “Brasil imunizado, somos uma só nação”, duplamente falaciosa. O país não apenas está muito longe de estar imunizado, como nunca foi tão dividido. A publicidade foi veiculada de 16 de março a 6 de abril deste ano. De acordo com dados da Lei de Acesso à Informação, nesse período o governo gastou R$ 17,8 milhões para promover a campanha em jornais, novelas, humorísticos, filmes exibidos na TV, em programas de jornalismo policial de baixíssimo nível, Big Brother Brasil, programas como Fantástico e Domingo Espetacular, entre outros. A campanha foi criada pela agência Nova/SB.

A TV Globo ficou com a maior fatia do bolo: R$ 4 milhões. Em seguida, a TV Record de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (R$ 3,9 milhões). Segue-se o SBT de Sílvio Santos (R$ 3,8 milhões). Mais de meio milhão de reais foram desembolsados somente para três programas “jornalísticos”. Cidade Alerta (Record), com Luiz Bacci, levou quase R$ 395 mil. O programa Brasil Urgente (Band), de José Luiz Datena, ficou com R$ 110 mil. Por fim, o de Sikêra Junior, Alerta Nacional (RedeTV), recebeu R$ 65 mil, segundomatéria de Dioclécio Luz para o Brasil Popular.

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Não por acaso, os três apresentadores apoiam, ou apoiaram, o presidente. Datena – que defendeu a flexibilização do acesso a armas e a reforma da Previdência – demonstrou indignação ao ver, na famosa reunião de 22 de abril de 2020, o presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, dizer que a Band queria dinheiro do governo. Bacci comemorou a eleição de Bolsonaro nas redes sociais e tem defendido a abertura do comércio na pandemia. E Sikêra Junior é claramente defensor do presidente e suas ideias. Não é, como se vê, por acaso que acontecem as “entrevistas exclusivas” que Bolsonaro costuma lhes conceder, que parecem mais conversa entre amigos do que pautas jornalísticas.

Globo é favorita

A maior parte dos recursos públicos para divulgar a falsa ideia de vacinação dos brasileiros foi para os noticiários da TV Globo. O governo pagou R$ 1.619.560,00 para divulgar a campanha de vacinação nos intervalos do Jornal Nacional e R$ 1.253.620,00 nos do Fantástico. O BBB faturou R$ 950 mil. A TV Record recebeu R$ 850 mil para veicular a campanha no Jornal da Record e mais R$ 505 mil para o Domingo Espetacular. O Jornal da Band embolsou R$ 345 mil. O SBT recebeu R$ 112 mil para veicular a campanha no humorístico A praça é Nossa e R$ 347 mil para o Programa Sílvio Santos.

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Esse estado de coisas está em completo desacordo com a Constituição Federal de 1988. Como se sabe, os meios de comunicação por rádio e TV são concessão pública, conforme seu artigo 223. “Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”, diz o dispositivo.

Ligações sombrias

A campanha “Brasil imunizado, somos uma só nação” ter sido veiculada pelo governo de um presidente que claramente incentivou a disseminação do vírus – combatendo máscaras, a vacinação e a ciência – esconde um aspecto mais sombrio. Não só por proclamar a tal unidade que não existe. Desde a campanha à presidência, Bolsonaro faz uso do bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. 

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A expressão faz lembrar a frase alemã Deutschland uber alles (“Alemanha acima de tudo”). É o primeiro verso da canção nacionalista Das Lied der Deutschen (“A canção dos alemães”), de 1841. Hitler adorava a música, explica matéria do Deutsche Welle, edição Brasil. Em 1936, ela foi entoada na abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim, quando Hitler e seguidores entraram no Estádio Olímpico.

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