Breno Altman: no momento atual, bolsonarismo encontra-se na defensiva

Jornalista analisou giro estratégico de Bolsonaro após a anulação das sentenças contra Lula e suas táticas para as eleições de 2022

Breno Altman e Jair Bolsonaro
Breno Altman e Jair Bolsonaro


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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (15/02), discorri sobre a estratégia de Jair Bolsonaro para as eleições de 2022, que atualmente encontra-se em maus lençóis nas pesquisas eleitorais, com menos de 30% das intenções de voto no primeiro turno.

Embora aventuras sempre possam ocorrer, favorecidas pelo clima de tensão que será certamente incentivado pelo bolsonarismo, o fato é que não estamos diante de um cenário de ofensiva fascista ou neofascista, na minha opinião, como muitos tendem a acreditar — até para reforçar a tese da frente ampla que defendem. 

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O momento atual é de defensiva do bolsonarismo, ainda que o atual presidente esteja longe de ser um cachorro morto e inevitavelmente será um adversário duríssimo. 

A estabilidade nas pesquisas mais conceituadas, indicando que Lula está girando nos 45% das preferências, contra 25% de Bolsonaro, mantendo-se o mesmo cenário desde novembro, é revelador tanto do favoritismo petista quanto da contenção da queda do líder da extrema direita.

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Bolsonaro, no entanto, tem um grande desafio: ser capaz de substituir, como fator predominante, o sentimento de oposição contra o seu governo pelo velho ódio contra o petismo, atualmente minoritário na sociedade.

Além de ter que apostar em elementos materiais, melhoria da renda e emprego, por exemplo, ou ao menos uma percepção de que o pior já passou, na economia e na pandemia, precisa recriar um imaginário antissistema ao seu redor, até para retirar de seus ombros parte da responsabilidade pela catástrofe nacional.

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Bolsonaro, ironicamente, nessa lógica, necessita identificar Lula e o PT como a cabeça de um velho sistema a ser abatido, sob o qual supostamente estariam abrigadas as “forças malignas” contra a sociedade ocidental, cristã e conservadora da qual o bolsonarismo seria a maior representação.

Trajetória até aqui

O ponto de partida no atual cenário eleitoral tem quase um ano, começando em 8 de março de 2021. Além de ser o tradicional Dia Internacional de Luta das Mulheres, foi quando o ministro Edson Fachin, do STF, anulou as sentenças condenatórias da 13ª Vara Federal de Curitiba contra o ex-presidente Lula, devolvendo-lhe os direitos eleitorais. 

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Trocando em miúdos: além de livre e inocentado, Lula poderia se apresentar como candidato a presidente da República.

Mesmo desgastado pelo desastre criminoso no enfrentamento da pandemia, ainda que afundado em uma grave situação econômica e social, até então Bolsonaro tinha uma perspectiva eleitoral de relativa tranquilidade.

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O governante neofascista, claro, sabia que as dificuldades em eventual segundo turno não seriam nada desprezíveis. Essa era uma das razões, aliás, para sua aproximação com os partidos do chamado “centrão”. Sendo a outra bloquear pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados, além de facilitar a governabilidade cotidiana. 

No percurso entre a política de ruptura e a estratégia de coalizão com o chamado “centrão”, para complicar ainda mais sua vida, Bolsonaro teve que enfrentar uma divisão na extrema direita, com a deserção do ex-juiz Sérgio Moro. Embora os danos imediatos tenham sido pequenos, essa dissidência ajudava a colocar o presidente em um cenário de defensiva, que pioraria ainda mais depois do 8 de março.

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Rapidamente o ex-presidente Lula foi conquistando a dianteira em todas as pesquisas eleitorais, recuperando os mesmos padrões de preferência que teve em 2002 e 2006, talvez até um pouco acima. Antes fragmentado e confuso, o sentimento oposicionista no eleitorado rapidamente se identificou com a pré-candidatura petista, rodando acima dos 45% nas intenções de voto no primeiro turno, com rejeição inferior a 35%. 

Somado a isso, a campanha e os protestos Fora Bolsonaro funcionaram como um ingrediente a mais para desgastar Bolsonaro, apesar de não contarem com o embarque das classes trabalhadoras. 

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Ascensão de Lula e novas táticas

O resultado foram duas realidades combinadas para Bolsonaro: uma relativamente positiva e outras taxativamente negativas.

A positiva foi o encolhimento do potencial das candidaturas dos velhos partidos burgueses, rivais de Bolsonaro na disputa pelo voto conservador. A notícia negativa, Lula ficou forte demais, podendo vencer até no primeiro turno, estando à frente de Bolsonaro mais de 20 pontos percentuais em caso de segunda volta.

Nesse cenário é que o bolsonarismo se vê obrigado a redesenhar sua estratégia, sem quaisquer margens de manobra para sair da via eleitoral. 

Vale lembrar, para efeito de análise, que a emergência e a vitória de Jair Bolsonaro podem ser classificadas dentro do fenômeno que Karl Marx denominou de bonapartismo. Uma das peculiaridades do bolsonarismo, contudo, é que ele vive sob a tensão de duas formas de bonapartismo: a clássica, de comando individual, centrada no presidente, que busca concentrar todo o poder em suas mãos; e a institucional, representada pelas Forças Armadas, que mesmo no regime militar buscou estabelecer uma institucionalidade sólida, despersonalizada.

Um dos motivos pelos quais o projeto bonapartista de Bolsonaro foi travado em 2020, isolado em 2021 e postergado sem previsão foi exatamente por falta de consenso com o bonapartismo institucional, fardado, indisposto a correr riscos e trafegar na escuridão dos movimentos erráticos de seu aliado. 

Bolsonaro, então, se sentiu obrigado a recondicionar sua ação política, sem a carta golpista de curto prazo. Todos os indícios são que sua estratégia para 2022 tem dois pilares ou até dois momentos.

Ao mesmo tempo em que recorre ao orçamento nacional para recompor base social, com programas como o Auxílio Brasil, trata de lentamente retomar um discurso mais aguerrido e antissistema, para dar viabilidade novamente à narrativa antipetista. 

Sem maiores receios de ficar fora do segundo turno, Bolsonaro provavelmente apostará na radicalização de suas posições, como o fez em 2018. Mesmo sem a carta golpista, Bolsonaro tem que se mostrar forte e firme para o primeiro turno, ameaçador, contundente, com sua identidade reforçada, sem quaisquer concessões ao senso comum. Ele precisa que suas tropas estejam em campo e lutando sem cessar. 

Repito: não por maiores medos de não ir à segunda volta, mas para impedir que Lula triunfe logo de cara e poder criar um clima de histeria contra o PT no segundo turno, no qual ele poderia fazer um giro mais ao centro, buscando um novo pacto conservador que pudesse, ao menos, atrair o eleitorado de Moro, Dória e outros menos afamados. 

É de se esperar que Bolsonaro, no primeiro turno, nade no leito do bonapartismo mais radical, para reativar sua base social e poder bater no patamar de 30% dos votos. No segundo turno, tentará reunificar o eleitorado de direita por contraposição a Lula e ao PT, eventualmente moderando seu bonapartismo, oferecendo um recomeço. 

Trata-se, curiosamente, de um movimento oposto ao de Lula, que faz do antibolsonarismo sua bandeira central desde já, ampliando o discurso para o centro e até a oposição de direita, preferindo essa amplitude do que a identidade, priorizando a atração do eleitor intermediário do que a mobilização do eleitor de esquerda já no primeiro turno.

Bolsonaro separa os dois turnos em duas táticas. Lula parece executar uma tática de segundo turno desde a primeira volta, para logo liquidar a fatura ou deixar o terreno aplainado para o segundo momento da disputa.

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