Barbara Gancia psicografa o jovem Dirceu

Colunista publica “carta” de Carlos Henrique Gouveia de Mello, identidade assumida por José Dirceu na juventude, em que ele explica a lógica política do mensalão

Barbara Gancia psicografa o jovem Dirceu
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247 – O que é mais caro para o País: a compra de aliados ou a entrega de ministérios com porteira fechada? Numa carta fictícia endereçada a Barbara Gancia, Carlos Henrique Gouveia de Mello, personagem vivido por José Dirceu na juventude, explica sua lógica política. Leia:

Mensalão saiu pela culatra

O ex-ministro Palocci voltou à cena nesta semana. Será que o jogo está tão nos finalmentes quanto parece?

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AQUI QUEM fala é Carlos Henrique Gouveia de Mello. Sono­ro o meu nome, não? Não fo­ram meus pais que me deram, eu mesmo escolhi.

Você me conhece e me teme pelo meu nome real, José Dirceu de Oli­veira, que eu tive de esconder até da minha mulher. Muitos dizem que essa omissão é evidência de falta de caráter. Mas eu não queria ver mi­nha companheira exposta nem perseguida desnecessariamente.

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É óbvio que não cheguei até aqui por ser temperado e minha maior qualidade não é a mansidão. Eu nunca cedi nas convicções. No PT, nós sabíamos que, chegando ao po­der, encontraríamos, na base alia­da, uma estrutura viciada de distri­buição de cargos e verbas e nomea­ções em estatais e gente querendo liberar verba do BNDES. Eles im­põem condições até para pedidos singelos como fotos posadas ao la­do do presidente, vê se pode? Nosso sistema é viciado demais e a Cons­tituição não ajuda.

Resolvemos, comigo à frente das operações na Casa Civil (a vida par­tidária ensina e renova a modéstia, sabe?), inovar na forma de tratar. Decidi que, em vez de distribuir es­tatais para um partido e secretarias para outro, cumprindo manjadas práticas de toma lá dá cá, fazer a coi­sa do meu jeito.

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Achei mais interessante começar a trabalhar no atacado e a ir pagan­do os interessados ao mês. Ou seja, em vez de retribuir apoio político espedaçando a máquina, nós está­vamos dispostos a desembolsar di­nheiro. Achamos que sairia mais em conta. Em vez de administrar ganância, nós agilizaríamos a agen­da com valores prefixados para que cada aliado votasse ao nosso lado. E usaríamos os cargos à disposição para preencher com nossos pró­prios quadros. Chamam a isso de "aparelhagem", mas, ué? A popula­ção nos elegeu para governar ou pa­ra acomodar o PMDB em tudo que é empresa do governo?

Ocorre que meu pragmatismo foi de encontro aos interesses de cer­tos macacos velhos, não é mesmo, sr. Roberto Jefferson? Que garan­tia eles teriam de que a mesada pin­garia todo mês? Afinal de contas, emprego público é vitalício, poder de nomear, entrada nos Correios -que maravilha!- uma vez conquistada, ninguém reverte. Mesada, não, acabou o mandato, c'est fini!

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Errei ao não calcular a infinitude do apetite da base aliada e sua men­talidade de capitania hereditária. Esqueci a lição deixada por Collor e PC Farias. Foi quando o presidente Collor se isolou e parou de ouvir a classe dominante, os partidos alia­dos e depois ainda inventou de de­mitir funcionário público que a coi­sa fedeu de vez para ele.

Acusam-me de corrupção ativa, mas eu queria saber onde está a di­ferença entre o que fomos acusados de sugar do Estado e o que foi leva­do pelos mensaleiros. Onde? Por acaso o Genoino fez um puxadinho na casa dele no Jardim Bonfiglioli?

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Roberto Jefferson, sempre gulo­so, mesmo depois da cirurgia bárica (hoje vejo que, se não fosse ele, seria outro), queria mais.

Com o escândalo, acertos tiveram de ser feitos para manter a institu­cionalidade do país intacta. O tal "a­cordo de porteira fechada" saiu ca­ro. Muito mais do que qualquer mensalão ou segundo mandato. E ainda está custando. A substituição de oito ministros de Dilma é só um exemplo do preço da brincadeira.

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E para quem acha que agora che­gou minha vez de pagar, vale lem­brar que o ex-ministro Palocci voltou à cena nesta semana. Pois é, o jogo está apenas começando.

Até breve,
Zé.

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