Attuch conta a história do 247 e fala sobre o futuro: espero que se torne um veículo coletivo, da própria comunidade de leitores

Criador do 247, o jornalista Leonardo Attuch conta a história de veículo que é hoje o maior meio de comunicação progressista do Brasil

Flickr 247
Flickr 247 (Foto: Leonardo Attuch)


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247 – Na segunda metade de 2010, o Brasil vivia o melhor momento econômico da sua história. Com crescimento econômico de 7,5%, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se preparava para deixar o cargo com 87% de aprovação. Foi naquele ambiente de otimismo dos brasileiros em relação ao futuro que Attuch, então redator-chefe da revista Istoé Dinheiro, decidiu criar o Brasil 247, que foi lançado efetivamente no dia 13 de março de 2011, há exatos dez anos. Nesta entrevista, ele conta um pouco da história deste veículo que é hoje o maior meio de comunicação progressista do Brasil.

Como surgiu a ideia de lançar o Brasil 247?

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Lá pela segunda metade de 2010, quando eu comprei um tablet, um iPad, percebi que a informação se tornaria portátil e que isso representaria o fim lento, gradual e seguro da imprensa em papel. Na primeira onda da internet, muitos sites foram criados, mas as notícias eram lidas nos computadores. Com os tablets, veio a segunda onda, arrasadora, com a informação podendo ser consumida em qualquer lugar, a qualquer momento. Com todos lendo notícias o tempo todo nos celulares, a morte da imprensa em papel é uma questão de tempo.

Por que o nome 247?

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Porque nossa ideia, desde o começo, era oferecer informação 24 horas por dia, sete dias por semana.

Politicamente, como o veículo pretendia se posicionar?

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Naquele momento, não apenas nós, mas toda a mídia brasileira reconhecia os méritos dos governos progressistas. A Editora Três, onde eu trabalhava, fechava o governo Lula com a capa "Nunca fomos tão felizes". Esta era a realidade. Nascemos neste ambiente. O nosso objetivo era oferecer informações relevantes, abrindo espaço para todas as forças políticas, mas evidentemente reconhecendo que o Brasil acabava de viver um período de grande felicidade coletiva e de prosperidade.

Era possível antever a guerra midiática contra os governos progressistas?

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Naquele momento, não. Inclusive, a própria ex-presidente Dilma Rousseff viveu anos de grande popularidade e aprovação midiática no início do seu primeiro mandato. Mas já eu imaginava que, em 2014, haveria forte oposição midiática a uma eventual volta do ex-presidente Lula, assim como a imprensa convencional fez com Getúlio Vargas nos anos 50. Guardadas as proporções, eu gostava de imaginar que o 247 poderia ser para Lula o que a Última Hora, de Samuel Wainer, foi para Getúlio Vargas. Lula não foi candidato, mas a guerra foi até mais intensa do que eu previa, e o resultado está aí: um Brasil destruído e aniquilado por uma imprensa golpista.

Como foram os primeiros anos do 247?

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Nascemos de forma híbrida. Tínhamos uma edição para tablets, como se faz com um jornal normal, mas também um site de notícias. Fomos o segundo jornal para iPad no mundo. O primeiro, o The Daily, do Rupert Murdoch, morreu porque não lançou seu próprio site. Quando os sites de notícias se tornaram responsivos, ou seja, adaptáveis a qualquer tamanho de tela, o nosso jornal para tablets se tornou desnecessário. E assim viramos um site de notícias, como muitos outros, mas com muitas informações exclusivas sobre o governo Dilma.

Qual foi o impacto do golpe de 2016 para o 247?

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Dilma caiu numa quinta-feira, 12 de maio de 2016, quando completei 45 anos, Michel Temer assumiu o poder usurpado numa sexta-feira 13, o que não deve ter sido coincidência. No dia seguinte, no sábado 14, ele já era pressionado a cortar a publicidade oficial dos "sites progressistas". Havia o mito, alimentado pela imprensa corporativa, de que esses veículos de comunicação só existiam porque recebiam publicidade governamental. A realidade provou que todos se mantinham em razão de suas audiências e dos recursos gerados pelas novas plataformas de publicidade programática. Mas algum tempo depois passamos a investir num modelo de assinaturas solidárias.

Como isso funciona?

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É diferente do modelo dos jornais tradicionais, que colocam o "paywall", em que a pessoa só pode ler se pagar. No nosso caso, os assinantes são doadores. Fazem pagamentos recorrentes porque querem que o veículo continue existindo e tenha seu conteúdo aberto a todos os leitores e telespectadores. Ou seja: quem assina não paga para si, mas para toda a coletividade. Na nossa visão, a informação é um direito universal, e não uma propriedade.

Como surgiu a TV 247?

A ideia surgiu a partir de um encontro numa padaria com dois grandes jornalistas, o Florestan Fernandes Júnior e o Paulo Moreira Leite. Foram eles que trouxeram a ideia. Paralelamente, eu já vinha observando o Leonardo Stoppa e assistindo alguns vídeos feitos por ele. Consegui convencer o Stoppa a voltar da Inglaterra, montamos um estúdio em São Paulo, e iniciamos uma pequena grade de programas quando o Alex Solnik nos convenceu que teríamos público cativo. Hoje, temos mais de dez horas de programação diária, e fomos transformando grandes jornalistas, como o Mauro Lopes, a Gisele Federicce, o Aquiles Lins e muitos outros, em grandes apresentadores. E com o tempo a equipe foi sendo ampliada com grandes nomes do jornalismo, como a Tereza Cruvinel, o Rodrigo Vianna e mais recentemente o Joaquim de Carvalho.

Quais serão os próximos passos?

Somos muito cautelosos. Um passo de cada vez. Não assumimos riscos exagerados, não tomamos dívidas e só entramos em novos negócios de forma muito segura. Tínhamos a ideia de vir a ter uma "Academia 247", mas foi muito melhor e mais prudente nos tornarmos parceiros do Instituto Conhecimento Liberta, criado pelos amigos Eduardo Moreira e Jessé Souza. Por ora, estamos pensando numa estratégia de podcasts, para sermos também uma rádio.

E como se vê imagina o 247 no futuro?

Espero que dure pelo menos 300 anos. Para isso, ele terá que ser fiel a sua missão, que é a de “empoderar o público por meio da informação e do conhecimento e promover a defesa intransigente de uma democracia plena”. Também imagino um veículo de comunicação totalmente independente, controlado por sua comunidade de leitores e telespectadores – o que é viável no mundo de hoje, uma vez que não há mais barreiras de entrada na comunicação.

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