A última cartada de Jobs

Do cinema 3D aos tablets, nenhum outro nome redefiniu mais a maneira como nós vivemos nas últimas décadas



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Costumo dizer que a atribuição de Steve ao sucesso da Apple é superestimada. Jobs deu duas grandes colaborações à companhia enquanto atuou como seu CEO entre a década de 90 e os anos 2000. Todo o restante do sucesso se deve à tremenda equipe de engenheiros, programadores e designers brilhantes que o acompanharam no decorrer dos anos.

Em uma entrevista ao The New York Times em 2003 Jobs disparou uma de suas citações mais famosas: “Design não é apenas como um produto se parece, é como ele funciona”. Foi essa visão que salvou a companhia da falência no fim dos anos 90. Naquela época, Steve, recém contratado como conselheiro da Apple, iniciou uma parceria com um dos designers da empresa, o britânico Jonathan Ive. Juntos dirigiram o projeto do computador que carregava a árdua missão da salvar à companhia de Cupertino da falência, nascia ali o iMac. Em uma época em que todos os computadores eram beges, pesados e grandes, Jobs subiu ao palco e apresentou um produto pensado para a era da Internet. Era colorido, repleto de plástico translúcido, “tudo-em-um” e após ser retirado da caixa precisava ser conectado a apenas três cabos para funcionar. Rapidamente tornou-se um símbolo de design e elegância. Com esse sucesso Jobs provava ao time de executivos da Apple que design era uma peça fundamental para o sucesso da companhia.

No início dos anos 2000, o mercado de eletrônicos estava sendo bombardeado por câmeras digitais, filmadoras e players de música. Foi diante desse cenário que Jobs apresentou, durante um evento da empresa em 2001, a visão que a Apple carregava para o futuro da indústria, o conceito do “hub digital”. O computador seria visto como uma grande central de conteúdos, uma nave mãe, já todos os demais aparelhos eletrônicos funcionariam como anexos dessa central. Ficou relegado ao software a missão de realizar a integração entre esses dispositivos. Jobs dizia que uma filmadora ganhava dez vezes mais valor quando você era capaz de transferir seus vídeos caseiros e amadores para o computador e então edita-los, adicionando um toque profissional ao conteúdo produzido.

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Foi seguindo esse conceito que, naquele mesmo ano, Jobs apresentou ao mundo o iPod e o software de músicas iTunes. Todas as suas músicas ficariam armazenadas no seu computador, e o iPod atuaria como uma extensão móvel da sua biblioteca do iTunes. Sempre que quisesse alimentar o player com mais músicas, bastaria conectá-lo ao computador e sincronizar. Foi seguindo essa filosofia que a Apple estendeu a família de iPods ao longo dos anos, lançou a suite de aplicativos iLife para gerenciamento e edição de fotos, vídeos e músicas, e posteriormente apresentou seu maior produto, o iPhone.

O sucesso estrondoso e sem precedentes da Apple na última década se deve exatamente a essa abordagem singular de união entre design e conceito de integração de software e hardware.

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Por fim, em junho de 2011 Steve Jobs subiu ao palco do Moscone West, em São Francisco, para aquela que foi sua última apresentação como CEO da companhia. Naquela ocasião Jobs afirmou que o conceito do hub digital funcionou de forma perfeita durante muitos anos, mas que passou a falhar quando certos dispositivos, como os smartphones e as tablets, passaram a produzir e adquirir conteúdo de forma independente ao computador.

Por ironia do destino, ou não, foi exatamente em sua última apresentação que Jobs simplesmente redefiniu um dos dois pilares da Apple, deu sua terceira contribuição. Design continua sendo importante, mas agora o computador deixa de ser a nave-mãe e se torna apenas mais um dispositivo, cabendo à empresa de Cupertino oferecer os serviços necessários para que seus smartphones, players de música, tablets e computadores se comuniquem e troquem informações entre si, de forma invisível e sem complicações. Ao posicionar o computador tradicional no mesmo patamar que dispositivos mais simples, como os smartphones, Jobs deixa uma clara mensagem: a era do PC acabou. Steve a encerrou.

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