A crise do papel
o acesso ao noticiário eletrônico através das mídias digitais será o formato preferencial da leitura jornalística no futuro
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A primeira edição do Jornal da Tarde, circulou no dia 4 de Janeiro de 1966. O JT foi idealizado por Mino Carta, com a ajuda do jornalista e publicitário Murilo Felisberto. A família Mesquita deu-lhes a tarefa de conceber um novo modelo de jornal no país, mais ousado, além de inspirado nas mudanças culturais e de comportamento, refletindo as transformações dos anos 60.
Ele foi distribuído como um jornal vespertino de 1966 até 1988, quando se tornou um jornal matutino. Sob o comando desses jornalistas, o JT tornou-se a voz da oposição ao regime militar, contrapondo-se ao conservador "Estadão", do mesmo grupo empresarial. Na época do seu lançamento, sua redação era formada pela nata dos jovens talentosos jornalistas do Brasil.
"Eu tenho boas lembranças daquele tempo e de quem trabalhou comigo. Nós revolucionamos, tanto na paginação quanto no texto. Acreditávamos que o jornalismo era uma forma de literatura, coisa que se perdeu no jornalismo brasileiro. Achávamos que a investigação era fundamental, que reportagens bem trabalhadas e profundas eram fundamentais para o êxito do jornal", declarou Mino Carta.
Além de ousadia gráfica e da paginação original, as capas do JT se tornaram em ícones do jornalismo impresso, como aquela do menino chorando a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 1982 na Espanha, que deu a Reginaldo Manente o Prêmio Esso de Fotografia daquele ano.
Em 16.11.1985, eu me lembro de que estava no Posto 9 em Ipanema, quando um paulista provocou a turma que ficava debaixo da bandeira do PT na Barraca do Uruguai, ao erguer a capa do JT com a notícia da eleição do novo Prefeito de São Paulo que mostrava o Jânio Quadros com a boca aberta e os olhos revirados como um zumbi. O Jards Macalé levantou-se, arrancou-lhe o jornal, amassando e rasgando-o, para delírio da galera que aplaudia e gritava: Foraaaa!!!
Isso era no tempo em que o jornal impresso era semelhante a uma bandeira que se agitava para demonstrar indignação. Hoje em dia, como não há mais interação cultural com a imprensa, os grandes jornais, agora lidos com desconfiança e desprezo, saem de cena e nós nem mesmo sentimos mais falta deles...
Criada há quase 80 anos a revista semanal Newsweek deixará de ser impressa no início de 2013 e passa a ter apenas uma editação digital. Alegando problemas financeiros, a publicação que foi lançada em 17.02.1933, era desde então uma das mais importantes revistas americanas e internacionais. Sua última edição chega às bancas em 31.12.2012.
Em 2003 com uma tiragem de 4 milhões de exemplares semanais, a Newsweek seguiu a mesma tendência de outras publicações impressas, passando a enfrentar sérios problemas financeiros com a expansão das mídias digitais. Ela não conseguiu imprimir mais do que 1,5 milhão de exemplares no primeiro semestre deste ano, e já havia sido vendida ao jornal The Washington Post em 1961 que vendeu-a ao site jornalístico The Daily Beast em 2010 pelo valor simbólico de um dólar. O seu novo portal se chamará Newsweek Global e buscará ampliar seu público através de investimentos em tablets e smartphones.
Assim como JT, que deixou de ser impresso em 31.10.2012, isto indica que a crise do papel deixa claro que o acesso ao noticiário eletrônico através das mídias digitais será o formato preferencial da leitura jornalística no futuro. Aí então, todos nós estaremos tão indignados que nos perguntaremos: — Mas e agora, como é que nós vamos embrulhar o peixe no dia seguinte?
(artigo originalmente publicado no jornal ˜O peru molhado˜, de Búzios)
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