365 degraus
Um estudante tuitou que não gostava do ator Lázaro Ramos. A patrulha politicamente correta o obrigou a se ajoelhar
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Um fantasma ronda as redes sociais: o politicamente correto. Um aluno viu-se em apuros, semana passada. Tuitou, veja você, que não gostava do ator Lázaro Ramos, desde a primeira chupeta. Tanto bastou. Esteve sujeito a ódios fulminantes e surtos idem de retuitadas brutais. Teve de pedir desculpas, em público. E, olhe, meu aluno, mulato, chorou até os olhos arderem como tocha olímpica. Milita em ONG. Reza de fazer beicinho. Mas teve de ficar de joelhos foi pro Twitter. Uma única tuitada, fatal, levou-o a uma “zona cinzenta”, como se diz muito no RJ agora, em que teve de fazer concessões ao politicamente correto. Refere que preferia ter descido os 365 degraus da Igreja da Penha, de bermuda Saint-Tropez, a ter tido de pedir as desculpas.
Em 1986 encontrei-me em São Paulo com Jim Davis, pai do Garfield. Referia um indisfarçado nojo pelo politicamente correto. “O humor nasce da diferença. Garfield zomba do Oddie porque são, antes de mais nada, diferentes. Se você é cinza e eu azul, nada mais natural que um zombe do outro”. A refusão do politicamente correto, agora, é um “ersatz” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ersatz,) uma meia-confecção, substitutiva de outras pragas dos anos 50 do século 21: o realismo socialista, na ex-URSS, e o Código Breen, em Hollywood –que proibia filmes com finais irreparáveis para o Departamento de Estado. O que o camarada Andrei Jdanov fazia a pedido de Stalin (proibir as artes que depusessem contra o realismo do homem perfeito socialista) era o escrito e escarrado que o Código Breen fazia nos EUA sob o marcartismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Andrei_Jdanov Afinal o mundo bipolar não poderia permitir imperfeições no mais abismal mistério de suas criações: o cidadão perfeito.
Esse novo realismo socialista, esse novo Código Breen, tenciona, retilineamente, apagar a crítica, o sarro, o desbunde, sob algumas tecnicalidades do nacionalismo. Chegará o dia que lixeiros nos processarão se não os chamarmos de engenheiros sanitários. Lazanhas demandarão serem chamadas de “pratos em camadas”. Brancos desocupados, e racistas de fato, processarão os negros que os chamam de “White trash” (http://pt.wikipedia.org/wiki/White_trash)
Não é para menos que Einstein disparou há 80 anos “Se a minha teoria da relatividade estiver correta, a Alemanha dirá que sou alemão, e a França, que sou cidadão do mundo. Mas se eu estiver errado, a França sustentará que sou alemão, e a Alemanha garantirá que sou judeu”.
Biologismo e Vampiros
Junto do politicamente correto, veja você, duas novas febres, retrospectivas, pintam por aí: a crença cega nos sistemas matemáticos aplicados ao corpo humano e a febre por vampiros. As descobertas ligadas ao DNA têm gerado manchetes e manchetes, como uma do ano passado: “Descoberto o gene do xixi na cama”. Seres humanos, como a meteorologia, como a economia, são sistemas abertos. Portanto imprevisíveis pela base dos algoritmos. Dizer que você tem o gene do homicídio não te torna um homicida. “O preço da metáfora é a eterna vigilância”, nota Richard Lewontin, tardo-marxista e geneticista de Harvard. Muito cuidado, portanto, com a metáfora a dizer que nosso corpo é transparente e que nossos genes são chips. Segurar-se no biologismo, como resposta final, é a febre mais recorrente das classes médias economicamente incertas, notou Mikhail Bahktin, em “O Freudismo”, de 1927. Bom, se você quiser ler o meu doutorado sobre o tema, aqui você o encontra de graça:
http://books.google.com.br/books?id=ve4sxCAZWy4C&printsec=frontcover&dq=tognolli&hl=pt-BR&ei=GiV9TYnMHaaD0QHw2pjMAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC8Q6AEwAQ#v=onepage&q&f=false
Sábado passado o cantor Lobão me informou que o inventor e gênio futurista Raymond Kurzweil http://pt.wikipedia.org/wiki/Raymond_Kurzweil acredita que, se viver mais 15 anos, poderá acessar as panacéias que o levem a viver no mínimo 150 anos. Pobre Kurzweil: deve ser horrível viver tanto quanto vampiros e ainda ter de aturar próteses genéticas que nos vendem a idéia de que nosso corpo é um sistema fechado, que não interage com o meio.
Por falar nisso, veja você , leitor das sagas de vampiros, a origem de toda essa trama. Em 1886 Robert Louis Stevenson escreveu “O médico e o monstro”. Todos nós, em essência, sugere a obra, temos escondido no fundo da alma, como um sapo de macumba, um dr. Hyde, um assassino dormente. Onze anos depois, em 1897, nadando na mesma febre, Bram Stoker escreveu seu Drácula, o original. A face de Drácula foi baseada, referia, Stoker, no rosto do “homossexual e apedeuta” Oscar Wilde. Drácula, indica a obra, é um degenerado que vem da Europa Oriental. E não espanta que, na mesma década em que imigrantes dessa parte da Europa invadiam Paris e Londres, a primeira grande vítima de Drácula seja a noivinha londrina Lucy Westerna ( um trocadilho entre “lux”, luz, e “west”, ocidente). Ou seja : o conde imigrante e degenerado, com a cara do viadão Wilde, vinha sugar o sangue da luz do ocidente...
É óbvio que o populacho patrulheiro do politicamente correto não tem massa cinzenta suficiente para detectar que as novas ideologias, refinadíssimas, não são tão novas, e nem tão frontais – geralmente, comem pela borda, são ladinas, enviesadas, cantam a ladainha pela borda da orelha, pelo trompe d’oeil...Prepare-se, você também, para descer os 365 degraus da Igreja da Penha de bermuda Saint-Tropez.
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