Pesquisadores exibem relatório do Painel de Mudança Climática: "é preciso atuar rápido"

Ativistas ambientais fazem eco ao alarme do IPCC e exigem medidas concretas e menos "blablablá", como diz Greta Thunberg

(Foto: REUTERS/Stringer)


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Brasil de Fato - Representantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) ressaltaram, em apresentação na COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021), as descobertas publicadas no último relatório, como a progressão de temperaturas, precipitações e eventos naturais cada vez mais extremos no planeta.

Este diagnóstico seria consequência direta da influência humana, evidência classifacada como "inquestionável" pela copresidenta do IPCC, a paleoclimatóloga francesa Valérie Masson-Delmotte. "A influência humana é a principal causa do aumento do nível dos oceanos. Também contribuiu para a mudança dos padrões de precipitação e da salinização dos oceanos, bem como na perda de oxigênio das águas", destacou.

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Divulgado em agosto, o relatório apresentado na COP26 nesta quinta-feira (4) levanta pontos críticos que refletem o que já é perceptível na vida cotidiana, seja nas mudanças de temperatura perceptíveis, nas ondas de calor e de frio, na baixa e seca de rios, na extinção de espécies.

Com base em estudos sobre a sensibilidade climática, o relatório de 2021 do IPCC destaca que os dois principais elementos emitidos por influência humana no planeta é, em primeiro lugar, o gás carbônico (CO2) e o metano, proveniente em grande parte pelos gases liberados pelos milhões de bovinos agravados pelo modelo agropecuário, ainda que o ex-ministro de Meio Ambiente Ricardo Salles pareça ignorar tais dados.

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Os dados indicam um padrão de aumento de temperatura exponencial. As últimas quatro décadas foram sucessivamente as mais quentes registradas desde 1850. Só desde o último relatório do IPCC, de 2018, a temperatura da Terra aumentou 0,25ºC.

"Não há como voltar atrás em relação a algumas mudanças no sistema climático", pontuou o presidente do IPCC, o economista sul-coreano Hoesung Lee, ao abrir a mesa de apresentação. "Entretanto, algumas dessas mudanças poderiam ser retardadas, e outras interrompidas, limitando o aquecimento. A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em larga escala nas emissões de gases de efeito estufa, a limitação do aquecimento a 1,5°C, e até mesmo a 2°C, estará fora do nosso alcance."

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E agora?

Para muitos dos ambientalistas que se manifestam nas ruas de Glasgow e ao redor do mundo, a solução não sairá da COP26. Nesta semana, o coro que ecoava puxado pela jovem ativista sueca Greta Thunberg ao microfone era: "Chega de blablablá". Denunciam as trocas de boas palavras e gestos dos representantes dos Estados, promessas insuficientes e, ainda assim, pouco cumpridas.

Integrante da Rede Ecossocialista na Argentina, Jessica Gentile remete à motivação dos protestos, especialmente de jovens, no contexto da COP26. "O relatório do IPCC é categórico: se não reduzirmos os gases de efeito estufa de maneira rápida e sustentada no tempo, a vida no planeta como conhecemos estará em risco", pontua.

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"O Acordo de Paris, o Tratado de Kyoto, pactados por diferentes governos para evitar chegar a 1,5ºC de aquecimento da superfície da Terra, não só não fizeram reduzir as emissões de gases de efeito estufa como aumentaram. Desde o Acordo de Kyoto até hoje, as emissões aumentaram 50%, e desde o Acordo de Paris, 10%", observa. "Realmente o que falta é vontade política."

Ativistas do grupo Ocean Rebellion realizaram nesta quinta-feira um protesto vestidos com ternos e cabeças de peixes. Desta forma, denunciaram a atividade da pesca em mares profundos, uma das intervenções humanas que têm afetado drasticamente toda a cadeia natural que sustenta a vida no planeta.

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Os protestos denunciam a continuidade do mesmo modelo extrativista que levou ao cenário hoje revelado pelo IPCC, e também a falta de ações concretas. Uma das propostas levadas à COP26 pelo presidente argentino Alberto Fernández foram os ativos verdes como pagamento de dívidas externas.

Segundo Gentile, esta é apenas uma forma diferente de continuar sujeitando os países explorados aos mais ricos, sem jamais sair do esquema de dívidas, impulsionado por entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Segundo a ativista argentina, as soluções existem e são sustentáveis, capazes de atender às necessidades das populações, desde a fome ao emprego. Exemplifica este ponto mencionando o cultivo de terras na Argentina.

"O agronegócio cultiva cerca de 38 milhões de hectares de soja e milho transgênicos, e geram trabalho para 300 mil pessoas. Os projetos agroecológicos cultivam 1,5 milhão de hectares e geram trabalho para 450 mil pessoas. São 38 vezes mais postos de trabalho", diz.

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"O que a Greta Thunberg diz que é 'blablablá' é uma realidade", enfatiza. "É tal o nível de destruição ambiental com o único objetivo de obter lucro que não podem entrar em um acordo para reduzir minimamente os gases de efeito estufa, porque implicaria quedas drásticas nos lucros empresariais."

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